Não é que eu quisesse escrever porque há muito perdi essa vontade mas vou embora e queria dar uma espécie de fecho neste caderno.
A minha vida mudou muito desde a última vez que aqui escrevi, fui operada, acabei com o russo, vou casar com um baterista, ocultista americano, fui a Paris, detestei andar de avião, o meu cabelo cresceu mais, sexta-feira vou buscar o vestido vermelho de dama-de-honor que mandei cortar para o comprimento que sempre deveria ter tido. O meu aniversário está quase aí, continuei a trabalhar no hotel e entre dores de costas e peripécias lá me rendeu uns cêntimos para poder ter tratado de toda a papelada do visto, de um vestido para o dia 31 de outubro que espero estar disponível para marcar o enlace e para os sapatos tipo anos vinte que sempre quis. Ainda não sei se leve o cabelo preso ou solto mas provavelmente irá preso para deixar à mostra a renda branca, sim só a gola, todo o resto é negro como seria de esperar.
Estava a pensar em começar esta última página pelo facto de nunca ter tido muita sorte com as amizades, ou eu deixo de aparecer ou são eles que são estabalhoados e faltam ao prometido. Hoje era suposto ter um último encontro antes da viagem, com as minhas amigas dos tempos do curso de TPI mas à semelhança do ano passado, desculpa de útima hora e não podem aparecer e combinam uma remarcação a que eu não acedi porque não gosto de segundas opções e, assim, o destino me faz esta inesperada visita que me recordou como as amizades sempre foram atribuladas, principalmente com as raparigas, os meus melhores amigos têm sido homens e ficam na sua e só aparecem quando devem aparecer e isso é bom.
O Cavaleiro-das-terras brancas ligou-me depois de meses sem conversarmos, a última vez teve-me aos prantos no telemóvel a dizer quão horrível eu era por ter feito o que estava a fazer. Todavia, como cavaleiro que é, perdoou e uma ou duas vezes por ano liga-me e trata-me como se nunca tivéssemos tomado rumos diferentes. Não tive coragem de lhe dizer que vou casar, quando me perguntou se havia algo de novo eu lembrei-me do que ele disse “não fiques assim, eu já esperava, mas o futuro é uma incógnita, logo que não cases, há sempre esperança” e sorrimos.
Disse-lhe que escreveria mas não sei se o farei daqui, se calhar quando já estiver lá... contar-lhe-ei tudo, somos amigos mas fomos amantes e tenho-lhe um afecto especial.
No dia 28 de Agosto vou poder estar presente num concerto dos WovenHand com a Chelsea Wolfe, ela não me interessa muito, apesar do hype mas o grande e intenso Eugene Edwards será um privilégio, é o meu presente de aniversário por parte do Homem por quem me apaixonei.
Estou com medo, ansiedade desmedida e incerteza do que está por vir, pela viagem e pelas saudades dos meus gatos, dos meus pais e dos meus irmãos mas o que tem de ser, tem de ser.
E assim será, deseja-me sorte Supremo.
Um beijo desta, que aqui sempre te confidenciou a alma e que, quem sabe, um dia o voltará a fazer.
Até sempre!