“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

01
Jan 09


É ela que me possui todas as noites.

É com ela que adormeço.

É ela que me despe.

É ela que me acompanha nos quilómetros, incomensuráveis, em que me arrasto dentro do quarto.

É ela que me suporta nas noites em que o inferno me adensa.

É ela que me presencia o corpo a sufocar, quando o desespero se intensifica.

É ela que me olha quando me olho ao espelho.

É ela que não se move quando me aproximo.

É ela que não diz nada porque é tudo.

É ela, a única que não vai embora.

É a única que persiste lá porque durante todo este tempo, não ouvi ninguém, não senti ninguém.

Disseram-me, um dia, que o segredo está em não esperar nada de ninguém mas como posso eu conseguir tal proeza?

Como posso eu, deixar-me sozinha, quando estive sempre lá?

Nas noites gélidas de dor, chicoteadas a sangue frio, fui aquilo que melhor consegui ser.

E calem-se os que pensam que procuro retribuição.

Não são pagamentos premeditados que me vão acalmar nos olhos dos que me abandonaram.

Mais uma vez, deveria ter ficado apática perante a minha vontade de lhes despertar a espontaneidade.

Por que haveriam de perturbar a noite de veludo, pela noite que me vela abandonada?

E diz-me primeiro, sim diz-me.

Mais vale fingir que nos valemos sozinhos, do que esperar pelo que não existe.

Por isso sim, negritude!

Tu estás sempre aqui.

Abro os olhos e és presença assídua na madrugada de cetim amargo.

Fecho-os, para tentar imaginar o que não cabe neste mundo e tu, tu continuas aí fora…

A aguardar o pranto maquinal quando me aperceber que amanheceu de novo.

Tu és eu, e eu sou quem me ouve.

Sou o meu abraço.

Sou a redenção que enxuga as lágrimas do pescoço que se debate por alívio.

Adiantará alguma coisa esperar?

É que, sinceramente, já não sei pelo que espero.

Já chega de máscaras.

Eu e eu, só eu, sempre eu, eternamente eu!

Perdi o rumo e nem sequer está nevoeiro e eu vivo na floresta.

Voltei a apagar a luz.

A inundar o quarto de música e a fechar os olhos… mais um dia… mais um dia…

Mais um dia que me passou por cima.

Mais um dia que esperei… e essa espera é circular.


publicado por Ligeia Noire às 22:22
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