“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

06
Mai 09

Era agora um completo incêndio e, os olhos marejados de lágrimas, quase a faziam estatelar-se nos degraus.

Passavam de dez, as vezes que quase foi atropelada que quase caiu por estar demasiado destruída.

Demasiado suicida.

Aliás, seria difícil falar-lhe.

Mas nem tudo seria absolutamente horrível e penoso.

Havia duas ou três garrafas de substâncias inebriantes que a aguardavam há já uns meses.

Estava demasiado calor para conseguir respirar mas chegou rapidamente ao pequeno quarto inundado de flores.

Muitas flores.

Rendas e velas a adornar as paredes velhas e cansadas.

Foi, quase sem ver, ao armário e escolheu-as.

Uma de vinho, uma de vinho e três de vinho.

Deixou cair as sandálias e a camisola perto da gata que a olhava.

Deu-lhe leite e a música submergiu-a.

O copo enchia e esvaziava.

Enchia e esvaziava.

Até não se aperceber do dia que terminava lá fora.

As mãos e o pescoço estavam encharcados.

Os ébrios não têm força mas conseguem sempre arrastar-se.

O espelho do lavatório era demasiado acusador e a vontade de o partir nascia-lhe nos dedos.

Não o estilhaçou "não há dinheiro para outro. Os miseráveis não podem exalar a raiva" e soltou-se-lhe um riso

abrupto e cansado da mordacidade que a acalmava todos os dias.

Sentiu que aquilo era o ponto final.

O término da fuga.


publicado por Ligeia Noire às 10:40
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