Não me coseste bem.
Doem-me os pontos.
A carne ainda está fresca.
Quero uma solução primordial.
Todos eles foram pequenos, com mãos pequeninas.
Todos eles já foram puros.
Talvez os tenhas cosido melhor do que a mim...
Talvez a carne deles tenha enrijecido mais depressa.
Sinto-me como o Last days do Gus Van Sant.
Não gosto propriamente de Nirvana mas o filme atravessa-me, assusta-me, e repete-se.
Cada vez que a personagem sugada, drenada, maltrapilha descia a encosta, a correr desajeitadamente, e se
embrenhava no bosque… caindo, as costas arqueadas os olhos e o chão...
E fugia
E fugia
Fugia…
Aquelas personagens… invólucros.
Velvet underground soava, e a outra personagem embalava o corpo e acordava a alma:
I am tired, I am weary
I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears
E também se foi embora.
Lá fora, ouvia-se o bosque que prosseguia de verde líquido vestido.
E, o homem de olhos escondidos, havia-se esquecido de tudo.
Dele.
Dos outros.
Da realidade.
Quando se sentou sozinho.
As mãos que dedilhavam a última vontade de querer.
A voz e os acordes.
O cabelo misturado.
O último suspiro de realidade.
Preso.
Liberto pela música.
Não havia horas, divisão de dias, supostas pessoas.
E cantava:
It's a long lonely journey from death to birth
it's a long lonely journey from death to birth
it's a long lonely journey from death to birth
it's a long lonely journey from death to... birth
Ficámos assim?
É assim que ficámos quando nos esvaziam?
Em monólogos?
Em passos irreflectidos?
Em vontade de querer afundar e afundar até não sermos avistados...?
Cada um que sabe… adormece à sua maneira.
Eu sei que é um longo percurso.
Eu sei que arde tudo e nada fica…