“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

20
Out 09


Lembras-te de quando éramos pequenas?

Lembras-te de quando éramos pequenas e tudo cabia em caixinhas?

Não é que as caixinhas tenham encolhido, não há é nada para lá guardar.

Lembras-te de quando éramos pequenas e havia detalhes e coisas fortes?

Tão fortes e supremas que derramavam…

Aquele libertador tinha razão "o tempo está a passar cada vez mais depressa".

Não tenho tido forma, não tenho tido ninho.

Ando daqui para lá e espero.

Não que tenha uma cruz inscrita a dizer-me onde anda o tesouro, apenas porque é a única coisa que sei fazer.

Esperar.

Espero, portanto, por nada.

Então não espero!?

No entanto, cá estou eu a esperar.

Não tenho tudo.

Tenho nada.

Nada, não.

Há sempre coisas.

Coisas.

Eu sou a queda ou estou na queda?

Sei, somente, que estou bem com a queda.

Não dá para pensar, para problematizar.

Não há tempo, não há o semelhante.

Já não caibo na caixinha, nem posso ficar fechadinha porque estou demasiado cheia de nada.

 

 II

 

Continuam a andar por aqui.

Quais abutres, em vias de fatigar o estômago.

Vejo-os pelo canto do olho esquerdo e pelo direito também.

O sol está a cozinhar-me.

Dobrar as pernas junto aos braços e querer ser alta.

Ainda bem que continuas a cantar, a tua injecção diária é gratuita.

Não quero atingir o abismo, nem soltar a alma.

Não quero perfazer o corpo, nem ser.

Quero ser castanha.

Fechadinha na sua campânula espinhosa e, quando cair, ser comida sem ter tempo de ver o mundo a atingir-me a carne.

 

publicado por Ligeia Noire às 22:07
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