A suavidade envolvia-te e eu deleitava-me a contemplar a forma como falavas.
As palavras podem tocar-nos fisicamente, mesmo que não se possa tocar a fonte que lhes dá vida.
Misturei-me e lavei a alma com o que pronunciavas.
A noite foi caindo e amansando espíritos rebeldes:
- O meu;
- O teu;
- Os nossos.
Trazendo-os de volta à doçura com que os nossos olhares se envolviam.
És tu, sou eu, somos nós, que nos perdemos, que não nos cruzamos, que não nos conhecemos.
Sou eu, que não te tenho, que não te posso ver.
És tu, que estas longe, que perdes vida envolto num mundo que não me conhece, que eu não conheço.
Nós tão desconhecidos, tão impossíveis.
Mas nem sempre é assim, às vezes, tu deixas que eu te toque que eu me misture contigo que eu te tenha e te guarde e assim fico.
Não me apetece amar ninguém, porque ninguém existe.
Não me apetece submeter-me a ninguém, porque ninguém me desfalece, ninguém me eleva.
És portanto fantasia, doce letargia de substâncias desconhecidas.
És álcool que me inebria que me desarma e faz chorar.
Adoro o teu sabor, como adoro o teu sabor.
Que vício este que não quero findar que cheiro é este que não consigo perpetuar.
Como és belo, especial e sagrado, como me fazes viver nesta morte instalada.