“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

14
Jul 08

 

 I

 

O quarto está escuro, silencioso e vazio.

A música soa, as texturas dela assustam-me...

Fazem com que sinta o branco da parede a descolar-se e a dançar...

Dança pelo vazio, descendo, subindo e inundando a minha cabeça.

As cortinas ondulam, pesadas... sinto-lhes o peso.

Talvez porque as janelas estejam fechadas e o ar aqui dentro esteja morto e conturbado.

A cama esta quieta, muito quietinha.

Como se o meu peso a desinspirasse.

A música continua à minha volta e por momentos tive medo... porra como tive medo!

Aquele medo que nos esfria o corpo.

Nos esfria os ossos por dentro da carne.

A carne que sentimos a latejar...

 

 II

 

 Tive medo e quis acender a luz para toldar o escuro mais negro dos cantos mas esqueci-me de mudar a lâmpada ontem.

Resta-me abrir um pouco a janela por entre a cortina pesada que ondula.

 Estendo o braço e o coração salta, salto sem me mexer. 

Salto cá dentro, dentro do meu corpo.

Assusto-me porque, sem pré-aviso, a voz rasgou por entre os acordes...

Desesperada.

Raivosa.

Como se estivesse a penar por entre o nevoeiro que deambula lá fora.

O coração foi abrandando graças à paragem brusca.

Sustive-a porque já não aguentava mais... sou fraca... 

Tentei respirar bocadinhos da aragem orvalhada e densa que crescia lá fora.

Não havia luar nem estrelas.

O céu estava estéril e descolorido.

Voltei e desapertei o torniquete que a sustinha.

Soava agora um piano.

Um som pequenino que via lá ao fundo, junto à porta, com ganas de crescer.

A tinta tinha voltado a vestir as paredes de sempre.

Vi que as cortinas se tinham juntado à imobilidade da cama.

Esqueci-me de colocar flores neste quarto, esqueci-me.

Os meus olhos ainda percorrem os cantos que não querem luz.

Fechando-se com medo que a música lhes dê vida.

No entanto continuo, porque me é impossível deixar de ouvir.

 

 III

 

 Já não sei se estou aqui.

Continuo a sentir que não estou sozinha...

E, quando a música se engrandece do pequeno e difuso local à beira da porta, vejo-a levantar-se.

Flutua sem me deixar perceber a distância...

Abate-se sobre mim e fico inerte de corpo enquanto, cá dentro, o sangue escorre como se esperasse o golpe final.

Completamente desprotegida e com o coração aterrado.

Para lá da compreensão...

Para lá do dia...

A madrugada estende-se e coisas acontecem, brotam.

publicado por Ligeia Noire às 18:02

 

I


E, ela parou e com os olhos cobertos de neve perguntou:

«O que é mais nos dói?»

E ele respondeu:

«As recordações»

E a neve derreteu... 

 

 

II 

 

Ela continuava parada.

À espera.

Acho que todos estes dias ela esperou e esperou e nada do que quis chegou.

À noite, por entre paredes brancas que não são dela, o sono não chegava.

O sono não a abençoava com o silêncio, o descanso, a quebra de realidade.

As horas foram passando e, finalmente, os olhos fecharam e ela adormeceu.

A madrugada imperava e algo a interrompeu.

Abriu os olhos e viu.

E num relance decidiu que não valia a pena mostrar de novo a espera.

E desta vez o sono foi condescendente, e adormeceu-a até a manhã cair de sol...

 

 III


 A cabeça doía, o corpo não queria levantar.

O espírito encolhia mas tinha de ser.

Ela tinha de enfrentar a vida e vestir-se de robustez e fingimento.

Os dias têm-se sucedido depressa e, apesar disso ser bom,também é doloroso porque crescer dói... e o passado derrete a neve.

O passado é algo que só se pode recordar.

Só se pode chorar e chorar.

 

publicado por Ligeia Noire às 17:52
etiquetas: ,

mais sobre mim
Julho 2008
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
15
16
17
18
19

21
22
23
24
25
26

27
28
29
30
31


Fotos
pesquisar
 
arquivos
subscrever feeds