Os olhos... sempre os olhos.
Aqueles que eu vi.
Aqueles que me viram.
Aqueles que não precisaram de palavras.
Aqueles que conturbaram a nudez da minha alma envelhecida.
Aqueles que eu julguei puros.
Os teus olhos que ainda andam por aqui, pela noite em que durmo.
Sei que te vi, eu sei que é verdade.
Sei que tu me deixaste ver.
Sei que foi verdade.
Podes ter-me deixado cair sozinha mas eu tenho a certeza desse resquício de lucidez.
Essa verdade que nos encobriu naquele silêncio tão doce, tão perdido.
Tu não falavas.
Olhavas-me e olhavas-me.
E eu escondia-me no teu corpo.
E o teu corpo escondia-me.
E ficávamos assim, escondidos e segredados e tu dizias que eu ficaria ali para sempre.
E eu sentia o "para sempre" a cair-me nos ossos...