“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

01
Jan 09


Colocaste as mãos nas minhas e sorriste.

O céu abriu-se-me no peito e a pele aqueceu.

O corpo tremia e os olhos não sabiam como olhar-te.

Tu encostaste-me ao peito e senti-te as mãos finas desenharem-me carícias no cabelo.

Há quanto tempo não sentia aquela protecção.

Aquela meiguice.

Aquele perpetuar de momentos.

E, sempre que nos encontrávamos nos olhos, apetecia-me chorar-te o mundo.

Chorar muito.

Chorar demasiado.

Chorar tanto que tinha medo que tivesses medo.

Chorar porque me sentia protegida

Chorar porque estava ali alguém que gostava de mim sem me conhecer.

Alguém de quem gostava.

Queria chorar toda a tristeza que os anos guardaram dentro de mim.

Toda a tristeza que os teus olhos viram quando me olhavas sem falar.

Toda a tristeza que nunca precisei de te dizer.

Assim como tu nunca precisaste de me contar os teus segredos.

Ficámos assim.

Sem nos conhecermos mas a conhecermo-nos naquilo que não se mostra.

Naquilo que não se percepciona, que não se molda.

E, quando me abraçaste, aquela primeira vez… Foda-se…

Senti que eu é que era negra.

Eu é que tinha culpa de ser assim.

E, quando voltaste a envolver-me no resguardo das tuas paredes, albergaram-se na minha garganta palavras que não sustive.

E disse-as, disse-as entre olhos que se acenderam.

Entre muita pureza que julgava morta.

Sei que tenho de guardar tudo na caixinha que diz passado.

Na caixinha que se mantém fechada e melhor perdida.

Mas está a custar... colocar na caixa.

Está a custar tanto…

E juro que não queria.

Juro que gostava de ficar comigo.

Queria muito ficar comigo.

Sinto-me tão presa.

Tão impossibilitada de respirar.

Não quero nada que não me pertença.

Só queria voltar a sentir-me alheada do mundo.

Queria muito voltar a sentir-me protegida.

Queria muito esconder-me no teu corpo e sentir que querias que dormisse nele.

Queria que a minha vida voltasse!

Não quero nada que não seja meu.

Eu realmente não quero nada que não seja meu.

E tu?

Tu foste meu?

Por que estavas ali?

Por que me beijaste?

Por que disseste para ler nos teus olhos o que sentias?

Não tiveste medo que eu não soubesse ler?

Estou tão ensanguentada.

Tão cheia de dores e pesares e medos, fracassos e perdas.

Tão coberta de desilusões e lágrimas que perdi a noção do que é sentir outra coisa qualquer.

E foi isso que viste nos meus olhos.

Uma menina ansiosa, uma menina muito pequena e muito frágil e com muito medo.

Uma menina que se algemou à dor, porque é a única coisa que sabe manusear.

Uma menina que não quer deixar o peito destrancado porque, às vezes, entram pessoas apenas para ver a paisagem.

Uma menina que gostava que lhe dessem a mão quando o mundo a engole.

Uma menina que já não é menina e que nunca abandonou aqueles que um dia lhe abriram a porta.

Fico à espera que as coisas mudem.

E elas mudam, mas eu continuo lá.

Já não encontro o caminho que trilhava.

Só encontro buracos que não me deixam seguir ou morrer.


publicado por Ligeia Noire às 22:30


É ela que me possui todas as noites.

É com ela que adormeço.

É ela que me despe.

É ela que me acompanha nos quilómetros, incomensuráveis, em que me arrasto dentro do quarto.

É ela que me suporta nas noites em que o inferno me adensa.

É ela que me presencia o corpo a sufocar, quando o desespero se intensifica.

É ela que me olha quando me olho ao espelho.

É ela que não se move quando me aproximo.

É ela que não diz nada porque é tudo.

É ela, a única que não vai embora.

É a única que persiste lá porque durante todo este tempo, não ouvi ninguém, não senti ninguém.

Disseram-me, um dia, que o segredo está em não esperar nada de ninguém mas como posso eu conseguir tal proeza?

Como posso eu, deixar-me sozinha, quando estive sempre lá?

Nas noites gélidas de dor, chicoteadas a sangue frio, fui aquilo que melhor consegui ser.

E calem-se os que pensam que procuro retribuição.

Não são pagamentos premeditados que me vão acalmar nos olhos dos que me abandonaram.

Mais uma vez, deveria ter ficado apática perante a minha vontade de lhes despertar a espontaneidade.

Por que haveriam de perturbar a noite de veludo, pela noite que me vela abandonada?

E diz-me primeiro, sim diz-me.

Mais vale fingir que nos valemos sozinhos, do que esperar pelo que não existe.

Por isso sim, negritude!

Tu estás sempre aqui.

Abro os olhos e és presença assídua na madrugada de cetim amargo.

Fecho-os, para tentar imaginar o que não cabe neste mundo e tu, tu continuas aí fora…

A aguardar o pranto maquinal quando me aperceber que amanheceu de novo.

Tu és eu, e eu sou quem me ouve.

Sou o meu abraço.

Sou a redenção que enxuga as lágrimas do pescoço que se debate por alívio.

Adiantará alguma coisa esperar?

É que, sinceramente, já não sei pelo que espero.

Já chega de máscaras.

Eu e eu, só eu, sempre eu, eternamente eu!

Perdi o rumo e nem sequer está nevoeiro e eu vivo na floresta.

Voltei a apagar a luz.

A inundar o quarto de música e a fechar os olhos… mais um dia… mais um dia…

Mais um dia que me passou por cima.

Mais um dia que esperei… e essa espera é circular.


publicado por Ligeia Noire às 22:22
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