Não há fronteira que me divida os dias.
São de sangue as únicas pessoas que amam.
Nunca tive afecto fora das veias.
Procurei e não procurei.
E de forma nenhuma o obtive.
Sempre se revelou fugidio, decrescente e pouco presente.
Como uma espécie de coma gelado visitado por ligeiras percepções.
Assim têm sido os últimos anos.
O vento cortante das Terras do Norte fustiga-me nos sonhos.
Demasiado pequena para revelar audácia.
Sou um leão sem coragem.
Um leão de papel.
Pego-me na mão e digo com muito carinho, estás delicadamente sozinha, sofregamente acordada.
E pouso a mão no peito.
O meu peito tenro.
Os olhos ficaram pequeninos.
A água deles brilha nas velas.
Eu preciso.
Eu peço.
Eu suplico.
Eu mendigo cessação.
Cessação.
Apenas e somente a Cessação.
Socorrei-me.
Vinde em meu auxílio anjo do desterro.
Levai-me nas vossas plumas e embebei-me no final.
No acabamento.
No sentido absoluto.
Fazei de mim coisa acabada.
Corpo satisfeito.
Por entre a folhagem do nada e as raízes do depois, deixai-me jazida sem olhos de lágrimas e peito de vidro.
Cessai-me.