Prick your finger it is done
The moon has now eclipsed the sun
The angel has spread its wings
The time has come for bitter things
I
Sempre que há algo para ser decidido, podemos usar de desculpas para nos enovelarmos perante a conduta:
"Ainda falta isto e aquilo e aquele outro, depois penso, depois decido depois faz-se, depois aplico-me, depois vivo realmente."
Quando o nevoeiro se dissipa, aí ficamos desnudos… sem amarras perante o caminho que escolhemos e que se abre, imperialmente, à nossa mercê.
O que se pode fazer quando se está, supostamente, naquilo a que nos conduzimos?
Não.
Não foi Deus, não foi a Mãe-Terra, não foi ninguém, senão a nossa pessoa, a maior condicionante, a mais forte vela, a abrir-se ao vento em alto-mar.
Lugar correcto, lugar hierárquico, lugar de futuro, lugar do supostamente.
"Não há outra saída, não podes esconder-te num bugalho, ei! Abre-te!".
Aquilo que mais violentamente abjuro, é esta sensação que me empola a alma.
Esta coisa que rebenta em mim sempre que me estabeleço.
Se é o que não quero: martirizo-me.
Se é o que supostamente me satisfaria: os defeitos eclodem.
O medo toma a face, do que no primeiro caso seria desgosto e frustração, para o "continuar no sacrifício".
Esta constante perda, insatisfação.
Esta prolífica sensação de derrota, de desterro.
Como se tudo fosse sempre nada, não importando o quão muito me fosse disposto.
Essa constante irrealização é-me tão nata, tão intrinsecamente sulcada no sangue que, muitas vezes, o asco que sinto dela ultrapassa a minha capacidade de aversão e passa somente a violência.
II
Às vezes, sento-me no musgo por trás de casa e a vontade do nada é tão absurdamente imensa, que fico tempo incontado a aquecer o sangue liso.
O corpo fica ali, à luz do sol invernal, qual lírio esfomeado, a manhã toda.
E, em vão, procuro pela vontade, pela ambição, pela criatividade… pelo querer.
Mas, em deliciosa e lenta desvontade, (como se na realidade da minha alma o meu corpo fosse outro ser, o qual se distancia milhas de mim, impedindo a aproximação pela mísera culpa) nada encontro.
Sim!
É apenas por responsabilidade e culpa que me movo em direcção a ela.
Não a posso deixar a cargo de mim!
Se a minha alma ficasse no comando… ah! Que esfarpada seria a escadaria…
Quantas farpas não me rasgariam as unhas...
Ó Senhor da Luz completa, não posso!
Não posso porque ela mataria a minha temperança, extinguiria todo o meu esforço vidral.
Esforço esse, que aglomerei todo este tempo na crença de que -eu e eu- ainda possamos ser nós!
Corpo junto. Alma ligada.
...porque no lamaçal que me cobre, eu sei o quão egoísta, narcísica e egocêntrica sou.. ao ponto de nada me interessar, ao ponto de que tudo o que me interessa ter de a mim estar ligado pelo inquebrável.
Todo o resto não me alcança. Todo o resto que se atravessa no meu caminho lentamente se esvai de aborrecimento e leve candura.
Ou então em luxúria de fantasia a prazo.
No fundo…
Eu
Tu
Ele
Ela
Nós
Vós
E eles sabemos o quão inútil é viver.
Tudo o que criamos, descobrimos, prezamos, abrasamos, matamos é reduzido a reminiscências que se esfarpam até os vermes devorarem e regurgitarem o que resta no cenáculo.
Toda a intelectualidade dos cinco mundos não sacia a existência.
Eras de individualismo exacerbado.
O tão diferente que se tornou tão repugnantemente igual.
Ah, a repugnância!
A única coisa que vale por tudo, é uma lareira magistral sob um luar de Inverno.