A fraca que cresce em hipocrisias
As sombras com dentes de luz sem carne para mastigar.
São costelas partidas em sangue coagulado
São sorrisos de puta e olhos de máscara veneziana.
Contempla devagar e crava os olhos em todos os lanhos, em todos os rasgões porque eu escapo-me e deixo-me ali, porque eu sou legião.
Porque eu sou o rato mirrado de patas calejadas.
Sei dos vossos olhos tenros que se fecham quando os julgam abertos.
Sei da travessia que tenho lapidada nas costas e do sal que trago nas unhas.
Sei quando o Supremo aviva as margens e me naufraga sem dimetiltriptamina.
O terror que se esconde nas minhas pálpebras, o suor que se cola, do pescoço às mãos, em cordas tensas.
Os dentes que rangem em estertores.
É o pesadelo do que me nasce sem possibilidade de aborto.
As sinapses que se revestem de úteros malditos e geram olhos de vidro, comboios siberianos, escadas industriais, medos feitos carne, sem rosto, dos quais me elevo e pairo numa queda constante e à qual regresso sempre e em doses absurdas.
Águas escuras e florestas que ficam ali, inexpressivas e abundantes.
Todos, todos.
Muitos e tamanhos e escondem-se dentro da minha cabeça e fazem ninhos e procriam e não consigo dormir e acordo e tremo e engulo o grito rasgado que delapida a garganta de tão descarnada.
E o dia trá-los, aos de fora, aos reais, aos que não metem medo, aos que se compõem de olhos virgens e peito cheio de furúnculos.
A esses... A esses dou-lhes olhos quádruplos e o espelho do festim de nevoeiro.
Na vigília há sempre velas acesas.