“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

29
Set 10


A fraca que cresce em hipocrisias

As sombras com dentes de luz sem carne para mastigar.

São costelas partidas em sangue coagulado

São sorrisos de puta e olhos de máscara veneziana.

Contempla devagar e crava os olhos em todos os lanhos, em todos os rasgões porque eu escapo-me e deixo-me ali, porque eu sou legião.

Porque eu sou o rato mirrado de patas calejadas.

Sei dos vossos olhos tenros que se fecham quando os julgam abertos.

Sei da travessia que tenho lapidada nas costas e do sal que trago nas unhas.

Sei quando o Supremo aviva as margens e me naufraga sem dimetiltriptamina.

O terror que se esconde nas minhas pálpebras, o suor que se cola, do pescoço às mãos, em cordas tensas.

Os dentes que rangem em estertores.

É o pesadelo do que me nasce sem possibilidade de aborto.

As sinapses que se revestem de úteros malditos e geram olhos de vidro, comboios siberianos, escadas industriais, medos feitos carne, sem rosto, dos quais me elevo e pairo numa queda constante e à qual regresso sempre e em doses absurdas.

Águas escuras e florestas que ficam ali, inexpressivas e abundantes.

Todos, todos.

Muitos e tamanhos e escondem-se dentro da minha cabeça e fazem ninhos e procriam e não consigo dormir e acordo e tremo e engulo o grito rasgado que delapida a garganta de tão descarnada.

E o dia trá-los, aos de fora, aos reais, aos que não metem medo, aos que se compõem de olhos virgens e peito cheio de furúnculos.

A esses... A esses dou-lhes olhos quádruplos e o espelho do festim de nevoeiro.

Na vigília há sempre velas acesas. 

publicado por Ligeia Noire às 00:30

23
Set 10


Às vezes, só a mais pura das belezas nos permite chorar.

publicado por Ligeia Noire às 01:45

21
Set 10


A certeza das horas indistintas.

Tu não és uma pessoa, tu não existes.

Tu és feito de bocadinhos que coleccionei ao longo da vida.

Enlaças o Inferno e o Paraíso nos mesmos olhos.

És o Caído que não procriou com as filhas dos Homens.

Vives no Inverno e trazes a eterna rosa no peito.

És flor-da-lua que espera noite cheia.

Certeza de horas indistintas, aquelas em que existe beleza e quietude.

És travessia completa do desejo de atravessar.


publicado por Ligeia Noire às 00:30
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