Há uma música de Lifelover, "En Sång Om Dig", que pára a um dado momento deixando irromper um piano à Bach que ambienta uma voz que diz:
Until the day you die, you will always be shit.
Não há volta a dar, não há mesmo.
Não sei o que ando a fazer comigo.
Culpa
Vergonha
Pena
Cansaço
Nojo
Ódio
Tristeza
Raiva
Prescrevi.
Esforço-me para parar mas não consigo.
Já não sei diferenciar nada neste esgoto, somos iguais, inúteis e imundos.
Se calhar não somos assim tão iguais, o esgoto faz sentido, eu não.
Hoje não há paciência para a linguagem metafórica.
E as pessoas são coisas que não compreendo, como diz o Trent Reznor:
Don't think you are having all the fun, you know me, I hate everyone.
E é isso que, infelizmente, sinto que são quase todos dispensáveis.
Não me dizem nada de novo, não me aquietam.
A culpa é minha, a culpa de me conservar em vinagre.
A culpa.
Ó, a culpa.
Puta de culpa, culpa de quê?
De ser eu?
De estar cravejada de ódio pela estagnação?
Quero mesmo é que se foda.
Já prescrevi e já, o problema são aqueles que me guardam no peito, o amor de sangue.
Não suporto vê-los a olharem-me assim, sabes que por eles dou a vida, sabes que essa é a corrente para o mundo.
É.
Seria muito mais simples parar a queda se eles não existissem.
Dás-me dores que não me cabem nas costelas, o coração está a escapar-se-me pelas brechas e pelos lanhos disto tudo.
Não podes ficar aí em silêncio, a culpa também é tua, não me perguntaste se eu queria ser uma pessoa.
Deverias responder-me ou então desfere o golpe em sangue líquido e acaba com isto.
Sabes mais que eu, portanto, sabes a resposta.
Noites de olhos pisados e pesadelos espelhados em todos os cantos do cérebro.
Arruíno-me a cada dia que passa, a euforia anestésica, eu sabia o que ela trazia, traz sempre o mesmo, a queda constante.
Não consigo explicar o cansaço que sinto.