“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

31
Jan 11


Sim, Peter Joseph, tens razão, apoio e concordo, maioritariamente com tudo. Fui cilindrada pelos documentários, à parte de um ou outro argumento que discordo, entendo a palhaçada que queres demonstrar e até me punha nas putas deste circo num instantinho mas é que não me apetece muito morrer à fome, mesmo que tanto como a economia a minha evaporação não fizesse a ordem natural das coisas mover-se um centímetro.

No entanto, até foi fixe ter a certeza de que nos puxam mesmo os cordelinhos até nos rasgarem as articulações.

Todavia, não fiquei feliz por ter razão, apenas ainda mais deprimida. O estado do mundo neste momento é a coisa mais abjecta, nojenta, ridícula e fastidiosa que alguma vez o ser humano poderá ver na sua miserável vida de escravo.

E também tenho de te dar razão flor-selvagem, eu sei que só falas verdades, és um menino puro de coração.

Há muito tempo que tenho vindo a pensar nisto tudo e o Zeitgeist acresceu à batalha.

É óbvio que não tenho vontade de continuar neste ciclo vicioso mas eh man! There’s a big problem, you know… não sou aventureira nem corajosa e acho completamente impossível "virar a mesa" eles são bem mais poderosos do que nós, isto só se resolverá mesmo à matança. Não há remédio mas boa sorte aí com a senda.


Post Scriptum: Os doutorados que aprendem no decoranço e no achanço de que são as melhores bolachas do pacote, bem podem foder-se porque o curriculum não lhes dá vida eterna e no final morremos todos ou derretidos pela avidez do fogo ou pelo estrangulamento sem membros da água ou pela fome de larvas gordas e amarelas. ;)

It's a wonderful world, there's no doubt about it, let's pray my child, and drink in the name of Babalon.


publicado por Ligeia Noire às 18:44
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27
Jan 11


O Sétimo Continente filme de Michael Haneke


Post Scriptum: os filmes deste Homem aparentam a visibilidade de janelas fronteiriças sob a comédia circense que a humanidade representa 24/7.

publicado por Ligeia Noire às 23:11
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Acordei cedo, como sempre aliás.

Tive pesadelos, como sempre aliás.

Dormi mal, como sempre aliás.

E sinto-me a regressar.

Não me apetece comer, não me apetece levantar-me.

Já não sei falar.

Queria poder fechar as pálpebras, adormecer e não ter corpo.

Uma voz, lá longe e mais problemas, problemas no único universo que me atinge.

Gostava que a desconhecida se fosse embora, gostava de ter a fada verde no armário para me embalar.

Deveria ter feito coisas esta semana, deveria ter-me portado como uma pessoa.

Deveria ter respirado, deveria ter aberto os olhos.

Na verdade, tive-os escancarados, direccionados para dentro e vi, lá ao fundo, a quantidade abismal que está para chegar.

Tenho medo.

Achas que não deveria?

Não sei, tu nunca falas, se calhar não sabes falar.

Mas sabes ficar aí especado e sei que sabes medir a dor porque já te vi as mãos.

E sei que sabes que estou a partir-me em pedaços cada vez mais pequenos e sei que sabes que o faço deliberadamente.

Gosto de fingir que sou uma pessoa, gosto de fingir um futuro, gosto de fingir tudo isto antes de adormecer mas cansei-me.

Já não tem graça, já fingi tudo o que havia para fingir.

Já não quero mais.

Acho que já aqui te disse que se a corda de suspensão partir, escusas de intervir em sonhos, escusas de achar que sou tua filha ou irmã ou célula ou o que quer que seja.

Eu não tenho somente medo, eu estou verdadeiramente aterrorizada.

Foi tudo demasiado longe, quantidades industriais de lonjura.

Já não há mais nada do que desistir,

Talvez me vá deitar agora e deixe apenas a música de amparo.

Não estou zangada contigo, estou apenas triste e dorida.

É verdade, consigo estar ainda mais triste, consigo fazer o negro ficar ainda mais negro e dói saber isto.

Como queres que eu amanhã acorde?

Como queres que eu me levante e me sente a uma mesa estéril e engula um prato com comida?

Como queres que eu me vista e saia assim tão violácea para a rua?

Como queres que suporte olhos e mais olhos a quererem violar-me a dor, corpos e mais corpos entregues à completude, a passarem por este abismo?

Como queres que vá à selva?

Como queres que entre numa sala de ninguém e armada de caneta e folhas escreva coisas que não sei e não atinjo?

Como queres que me olhe ao espelho e não veja estes lanhos neste cansaço amortalhado?

Estou aqui há muito tempo, deste-te conta?

Deixaste-me aqui, há muito tempo, e fiquei no mesmo sítio, os meus pés, pequenos, são agora raízes.

Falo contigo por meio de letras e sons e olhos e dores e noites e sonhos e pesadelos porque és o único que me sabe toda e porque estou louca.

Gostava muito, assim demasiadamente muito, de poder chegar a algo, tu sabes… a alguma coisa que me pudesse abrandar, que me pudesse aliviar.

Neste tempo longo que é teu, que edificaste, que patrulhas, neste teu tempo em que eu nunca, sequer, me cheguei a apaixonar por alguém, homem ou mulher.

Mais um lanho neste rosto de abismo ou então é, (riso… arlequim salta e brinca com a rapariga que precisa de ir embora), como se estivesse apaixonada mas pelo amor ou então por alma que não cabe neste mundo.

Tu sabes, tu sabes sempre.

Achas demasiado?

Achas que…

Não sei o que achas, nunca falas.

É uma parte importante não é?

Dizem que sim, disseste um dia que sim.

Às vezes sinto falta de mim e sinto uma solidão imensa, tão grande que não suporto estar com alguém e isso parte-me mais bocadinhos.

A insuportabilidade de ter de continuar sabendo que nada disto algum dia mudará, sabendo que nada disto está realmente descoberto.

Sabendo que tu nunca vais falar.

Mesmo que eu pare de cair, mesmo que eu um dia pare de cair, se calhar nesse dia, descobrirei que tu és eu.

  

publicado por Ligeia Noire às 17:51
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There is no turning back

From this unending path of mine

Serpentine and black
It stands before my eyes
To hell and back
It will lead me once more
It's all I have as I stumble in and out of grace

I walk through the gardens
Of dying light
And cross all the rivers
Deep and dark as the night
Searching for a reason
Why time would've passed us by

With every step I take
The less I know myself
And every vow I break
On my way towards your heart
Countless times I've prayed
For forgiveness
But gods just laugh at my face
And this path remains
Leading me into solitude's arms

I see through the darkness
My way back home
The journey seems endless
But I'll carry on
The shadows will rise
And they will fall
And our night drowns in dawn

Amidst all the tears there's a smile
All angels greet with an envious song
One look into stranger's eyes
And I know where I belong

 

Letra dos H.I.M./ Lyrics by H.I.M.

publicado por Ligeia Noire às 15:42
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25
Jan 11


Agora, que estou aqui a questionar-me se realmente foste embora, apercebo-me do murmúrio de todas as coisas como se toda eu fosse ouvidos.

Agora, que paro e olho para a imensidão branca deste quarto, choro.

Sei que tens sede e sei que a água te circunda há meses, provavelmente já deves ter consumado.

Consentido.

Bebido.

Embriagado.

Doce.

És.

A glória do que não pode ser.

E eu aqui, de peito raquítico e alma sentenciada ao limbo, perduro na consciência desperta de saber tudo isso de antemão e de nunca ter querido que me interpelasses uma vez mais, mas tu voltas sempre, e partes a minha campânula como se fosses dono e senhor do tempo.

É como se o tivesses guardado no bolso e tudo se tivesse cristalizado com o teu gesto.

Esperas que te espere com um sorriso florido, falas-me de coisas que te fazem sorrir e que a mim me trespassam.

Adocicas-me o copo e fechas-me as pálpebras com beijos, abraças-me enquanto o mundo me comprime as costelas até doer e anestesias-me a carne para que só te sinta a ti, sinto-te a ti e depois... depois...

...faz frio lá fora e por vezes neva e enregela-se a floresta e eu vou à janela e vejo os teus passos desenhados no manto virginal e o teu cheiro impregnado no nevoeiro.

Molho de sal tingindo os lírios que se aninham por debaixo da janela e garanto-me em palavras duras e seguras de que somos apenas aquilo que somos.

Não me prometeste e eu não te prometi, nunca prometemos e vais e eu vejo que foste e tu sabes que fiquei e tu vês que fico sempre.

E guardo-me da janela e fecho o casaco e recolho o sal ao peito e sei que nada disto faz sentido porque não somos e porque mesmo assim hás-de sempre voltar e eu hei-de sempre cá estar.

 

*Here we are

In the maelstrom of love

Waiting for the calm

To sooth our hearts

Here we are

And don't know how to stop

Waiting for the war

To end it all

 

*excerto do tema "Salt in our wounds" dos H.I.M./ Excerpt of "Salt in our wounds" by H.I.M.

 

 


 

publicado por Ligeia Noire às 23:43


Descoberto por acaso, e jamais será largado, tudo em mim está absorto.

publicado por Ligeia Noire às 00:05
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24
Jan 11


Um filme de Andrei Zvyagintsev


A Rússia fascina-me como uma floresta escura no Inverno.

O povo russo, a forma como eles crescem, como encaram a vida, como vêem o mundo, como usam o afecto.

A Rússia que não conheço cria-se na minha cabeça das pequenas coisas que viajam no tempo.

Os filmes.

As bailarinas que se assemelham a garças.

A ginástica artística.

Tchaikovsky.

Rachmaninoff.

O que aprendi na escola: Bolchevismo, o exército vermelho, a perestroika, Lenine, Estaline.

A dinastia Romanov.

O Império de Czares e Czarinas, a Yekaterina, S. Petersburgo, a Catedral de S. Basílio que parece saída de um quadro do Dali.

O Kremlin, os edifícios de cúpulas e torres altas, as janelas arqueadas, os palácios, as abóbadas, as escadarias.

A tundra, a floresta boreal.

A Sibéria, cristalizada, cortante.

As Bétulas, a neve gélida e virginal.

A vodca a sério.

Os Vikings, o Báltico, os montes Urais, o Volga, os cogumelos.

As letras, Lev Tolstoy, Dostoievski, os upires e os vurdalakas do Aleksey Tolstoy.

O domínio da Finlândia.

Os ushanka, lindos e negros.

Nunca conheci nenhum russo, nunca fui à Rússia, não sei de onde vem este fascínio intemporal, mas o filme é cortante e avassalador como a beleza arcana do país branco.

publicado por Ligeia Noire às 21:51
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20
Jan 11


Desculpas e mais desculpas para me resguardar do dia.

Evasivas e mentiras para tapar todos estes buracos, grandes buracos, profundas crateras.

E, enquanto as lágrimas resvalam para a boca, apercebo-me que sou feita de solidões e desamparos de outras vidas.

A doença acresce-me e sinto-a nas veias, lateja e queima e rói e não dorme.

Sabes que é para mim e para ti Supremo, que escrevi, escrevo e porventura, escreverei.

Não há intuito estético, ornamental ou literário, isto é-me intrínseco, apaziguador, involuntário e controla-me a agonia.

Nada mudou realmente, nada chegou, nada se completou.

Lembro-me de terem dito que isto era uma maldição e agora compreendo o alcance da palavra e compreendo também a dimensão do negro que nunca me vai sair de dentro, vista eu o que vestir.

Sei que não saberia ser diferente, sei que nunca vou ser feliz.

Sei que nunca vou ser completa, sei que nunca chegará.

Sei que nunca ninguém navegará os meus olhos e sei que de nada adianta tê-los abertos.

Sei que estou cansada e sei que estou doente há alguns anos mas que da cura... nada sei.

Sei que sou pouco e em breve serei nada.

Sei que esta vida que me prescreveram, me inutiliza e abate.

Tenho o cansaço todos os dias injectado na minha jugular, como um vampiro raquítico.

Por tudo o que encontro perco sempre em dobro.

Por tudo o que sou e não soube fruir.

Sei de tudo isto desde pequena e tenho pena por mim, como se fosse um rato mirrado no fundo das escadas, sem força nas patas pequenas para subir.

Escaco-me constantemente, obrigo-me constantemente, procuro incessantemente e dói e dói e nunca parou de doer.

Lanceta-me o peito e arde nos olhos.

Já mendiguei cessação.

Iludi-me com atalhos infundados ou cerrados.

Usei e abusei de violência.

Já me guardei numa caixa

Já vivi para devaneios.

Mas lanceta-me o peito e arde nos olhos.

A resignação é custosa mas acho que já cresci o suficiente para a aceitar.

publicado por Ligeia Noire às 21:58
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Tanto de meu estado me acho incerto,

que em vivo ardor tremendo estou de frio;

sem causa, juntamente choro e rio,

o mundo todo abarco e nada aperto.


É tudo quanto sinto, um desconcerto;

da alma um fogo me sai, da vista um rio;

agora espero, agora desconfio,

agora desvario, agora acerto.


Estando em terra, chego ao céu voando,

nũ' hora acho mil anos, e é de jeito

que em mil anos não posso achar ũ' hora.

Se me pergunta alguém porque assi ando,

 

respondo que não sei; porém suspeito

que só porque vos vi, minha Senhora.


Da autoria de Luís de Camões


publicado por Ligeia Noire às 00:19
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19
Jan 11


A mulher interpelou-me na rua e, ao contrário do que me é característico fazer com quem me costumo cruzar, para ela abri um sorriso... se calhar não me é assim tão contrário, se a pessoa me inspira confiança, é comum que me apresente serena.

Atravessava eu uma ruela envelhecida, o cabelo dançava com o vento, quando uma cigana se aproxima e me indaga sobre ele, elogiando-o e perguntando o que fazia eu para que ele fosse assim... Corei e respondi... nada.

Vem do cabelo de corvo da minha mãe e dos caracóis vastos do meu pai, pensei.

Pelos vistos já me havia visto outras vezes.

Por entre uma cara franca e pequenas frases ditas olhos nos olhos termina com:

Deus a abençoe.

Já não é a primeira vez que um ou outro cigano me aborda de rosto franco e palavras que me recordam as gentes da minha aldeia.

Nutro uma profunda admiração e curiosidade pela vida deste povo, tão martirizado ao longo dos tempos.

As mulheres, meninas e moças de cabelos densos, peito farto e ar desembaraçado e selvagem, os anciãos de vestes negras e aparência apocalíptica.

Têm nas mãos os traços do mundo.

Numa certa entrevista, a Diamanda Galás falava de como se sentia orgulhosa de ser de ascendência grega e como gostava de, aquando da sua estadia em países do sul da Europa, não se distinguir das outras mulheres, como todas elas têm traços fortes, rostos duros, olhos profundos, cabeleiras fartas.

Continuava, dizendo que não apreciava belezas tradicionais e rostos delicados e frágeis.

A Diamanda canta muitos povos.

Romenos, Arménios, Assírios, Gregos...

A Diamanda é especial e a sua musica é crua e muitas vezes sufoca-nos porque ela canta a alma de povos chacinados, de dores de sangue, de mortandade escondida.

Ao falar com a senhora cigana, tudo isto me acorre à memória.

Tenho um orgulho desmedido e lavado de ser filha de pais de peito e alma nobre, respeitadores, humildes, verdadeiras preciosidades.

Assim como irmã de pessoas completas, fortes e sensatas.

Orgulho-me de ter crescido no meio do:

monte,

do campo,

das vacas pretas e brancas,

dos esquilos,

das raposas,

das corujas,

dos ratos,

da erva-molar,

das oliveiras pesadas,

dos plátanos monstruosos,

dos santieiros,

dos lírios,

das roseiras,

das videiras imensas,

gladíolos,

fiteiros,

agua gélida,

neve de cristal,

velhos de coração puro,

gatos de todas as cores e com vidas ocupadas,

cães que levei para casa e que me deixaram os filhos,

as serras que se cobrem de neve e me protegem do alheio.

Foi nisto tudo que pensei quando a senhora me tocou no ombro e me falou de olhar franco.

Tudo isto tem tanto de sublime como de correnteza para alto mar e é tudo isto que me prende aqui e é a tudo isto que dou valor e faço reverência.

O que um dia chamei "a corrente de suspensão", por tudo isto me sinto pequena e de coração espinhoso por não ser mais e melhor.

De tudo isto me lembro quando abro os olhos para o circo de desilusões, o circo burlesco que se me dispõe aos pés.

O circo do que me repugna e que nem sequer concedo o direito de me tocar, o circo do que me iludiu mas que nunca é tarde para desmanchar.

Tenho tanto de doce como de vinagre, são precisas luas para me navegarem nos olhos.

No entanto, se estes vos reconhecerem de outras eras e vos souberem feitos de sentimentos nobres e palavras francas, distende-se vasto e devoluto o meu coração.

No entanto, ele tem-se mantido enrolado e desconfiado como um gato em casa alheia e assim se irá manter.

Este teatro tem demasiados actos, demasiadas personagens a perfazer o mesmo papel.

Todavia, tenho assistido de camarote a todas as sessões, já conheço a tragédia de cor.

publicado por Ligeia Noire às 22:26

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