“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

28
Fev 11

I'm a little teapot,

Short and stout,

Here is my handle,

Here is my spout

When I get all steamed up,

Hear me shout,

Just tip me over and pour me out!

I'm a very special teapot,

Yes, it's true,

Here's an example of what I can do,

I can turn my handle into a spoutTip me over and pour me out!


Nursery rhyme by George Sanders e Clarence Kelley


publicado por Ligeia Noire às 22:52
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24
Fev 11


E, às vezes as coisas vêm ter connosco.

Na cor do prato em que almocei.

Na sangue que tingiu a rosa do Oscar Wilde.

Na japoneira que atapetou o caminho para casa.

No esmalte que me aformoseia as unhas.

No sumo preferido.

Nas minhas bochechas.

Na Chemical Wedding do Bruce Dickinson.

Hoje foi o teu dia, Mulher Escarlate.


So the nightingale pressed closer against the thorn and the thorn touched her heart and a fierce pang of pain shot through her.

Bitter, bitter was the pain and wilder and wilder grew her song, for she sang of the Love that is perfect by death, of the Love that dies not in the tomb.

And the marvellous rose became crimson, like the rose of the Eastern sky.

Crimson was the girdle of petals, and crimson as a ruby was the heart.


Excerto da história The Nightingale and the rose da autoria de Oscar Wilde


Post Scriptum: Li este conto e perco-me da altura em que o fiz... mas não poderia ter havido dia mais alinhado para que ele viesse bater à porta uma vez mais. A vida é um riso escarninho.

publicado por Ligeia Noire às 21:41
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23
Fev 11


A cesta de medronhos que abona os teus braços e o rio de sangue que corre nos teus cabelos.

Inumo as unhas nas tuas mãos e és o cálice de vinho que derramo na boca.

Ganho-te beijos e sabes como gosto de te toldar os sentidos.

E hoje queria ser violenta e deixar a doença entranhar-se-me na carne mas, eis que chegaste, condensada, e a beleza é o melhor pasto.

Não sejas cândida e tão de porcelana, hoje… desenlaça o viveiro e abre os olhos.

Vem comigo.

Os tempos da santíssima trindade terminaram mas schiuuuuuu isto é um segredo bem pequenino.

Desce as escadas, esta noite vamos aprimorar a decadência.

Vê-los ali?

São tão belos, são assim porque a perfeição lhes nasce da alma.

O chão atapetado de cimento frio e catalítico e eles dançam e dançam, cheios de anestesias diversas.

Os corpos, máquina perfeita, imagino o quão vermelhos estarão os seus corações, os ramos de capilares na pele rendada, os cabelos que tapam os rostos, o passado veio poisar no cenáculo e as oferendas banham-se em cristais de gelo.

Anda comigo, desce as escadas e vamos soltar os cabelos.

Fugir do mundo, hoje a lua abriu-se e os mortos jazem por ela.

Deixa-me encher-te o peito e as veias, deixa-me dar-te liberdade e fazer-te pairar sem embargo.

Hoje tomo conta de ti, hoje estás no altar do mundo e o cenáculo é a tua casa.

Só é possível encontrar e usar este caminho, se o teu corpo se coadunou com o abismo.

Olho-te dentro e estás pronta, estás livre e enquanto a liberdade se encarna de vontade, somos todos nossos e somos todos sozinhos, a celebrar a alienação.

Gosto de deixar estes anjos assim… trazê-los à flor da pele e narcotizar-lhes a realidade para que possam viver uma noite à luz da lua e florescer de braços nus para a música.

O encantamento maior, a delícia mais sublimada e opiácea.

Sorris muito, sorris por entre esse teu cabelo de medronhos e olhos tenros.

Fazes-me bem, inspiro-te completa e danço contigo.

Se é saudável?

Não, não é.

Provavelmente amanhã irás sentir o corpo a fermentar e o céu cinzento vai entrar-te todo de uma vez nos olhos.

As cadeiras onde te sentares e as salas onde tiveres de guardar o corpo irão parecer-te masmorras embebidas de olhos escancarados.

Linhas de gumes afiados irão nascer-te por todo o lado, as bolachas 100% especiais irão dar-te sarna e vontades de lhes escacar os dentes, um a um, irão nascer-te nos dedos... mas ficarás a repousar a seiva que te escorre das unhas e guardá-la-ás nos bolsos.

Não queres assustar os pacotes extra-saborosos que aguardam todos os dias pelo sol mas que se auto-agraciam com a noite, envenenando-a de tédio.

Todos os bichinhos correm da sombra para o sol.

E noites de destruição massiva não podem ser domesticadas e regularizadas.

Não assinas pela tua integridade, nem esperas repetição.

Acontece assim, como um sonho em que apareces nua e rosácea no meio da erva-molar orvalhada, da qual nunca acordas inteira.

Olho para ela e olho para todos e olho para mim e sinto o sangue com pressa de chegar à carótida e cava-me lanhos no peito e sinto-o distender-se imensamente.

As anestesias correm-nos de uma ponta a outra e sinto-me toda.

Dançamos em júbilo e derramamos jóias dos olhos e da boca.

Ela renasce nos meus braços e já não somos pessoas, somos lobos brancos e cinzentos e castanhos e negros e uivamos à deriva.

O mar estende as ondas enroladinhas e quebramos o suor na sua frieza de Inverno.

Damos as mãos e abraçamos os nossos corpos de matilha.

Sei que ao cruzares a hora das bruxas tudo se esvairá da tua memória.

Resta-te o cabelo de sangue e a cesta de medronhos, atravessa a ponte e corre para casa, dorme e prepara a domino para a selva.


publicado por Ligeia Noire às 21:57

22
Fev 11


Um dia destes o meu pai disse: "Morreste ao nascer"... é, acho que foi a coisa mais acertada que me disseram até hoje.

publicado por Ligeia Noire às 21:57
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10
Fev 11


As veias estão demasiado vítreas e o zimbro está a dar-lhe.

E ria muito.

E apetecia-lhe o céu azul de veludo mas o sol rebenta na janela.

E os olhos caminhavam por outros caminhos, estavam longe, ela tentava puxá-los para ali, para o quarto anti-séptico mas ia tarde.

As saudades disto, aguavam-lhe na pele mortificada de dentes que abrasam.

E ela desce completamente incompleta e cheia de negro e apomorfias.

E eles olham-na e os olhos entram-lhe no vestido e nas tranças e nos pés pequenos e nas mãos de unhas prontas a rasgar carne mole.

E ela olha acompanhada de um sorriso prolífico e desdenhoso... sou só minha.

Deita-se em azul e adormece.

Resultou, dormiste minha pequena, toda tu dormiste.

Mas com todo o veneno no corpo delgado e a percepção sorrindo, ele volta, ele ali, todo inteiro.

E ela queria-o e ela queria-o muito mas ele não a encontra, ele não é dela, ele pertence ao mundo.

E ela estica o corpo crescido e desfaz as tranças de fresco e dispõe-nas no peito e espera e espera e espera de olhos fechados e sorriso envenenado.

E ele abre-se e chega e ele aparece e mostra-se.

E ela molha os lábios vermelhos de zimbro e é toda dele.

E ele ri do veneno dela e ela acende os olhos e ele abrasa-lhe o corpo de lírio.

Ela gosta muito dele, ele é verdadeiro e fá-la sorrir e abraça-a quando o mundo a tolhe.

O veneno prossegue a correr-lhe nas veias inchadas e ele beija-lhe as têmporas e abraça-lhe as pernas, ela mostra-lhe os caracóis desfeitos e ele abre o sol numa boca que a amansa.

Ela gosta dele e ele amansa-lhe o coração violento.

Ela tem palavras guardadas nas mãos, ela treme e ele prossegue, ela tem medo, ele tem cetim.

O tempo, o tempo que corre e o tempo que corre prossegue correndo.

E esse tempo descrito pára, congela, ali, quieto e frio, e ela abrasada de língua e mãos e abraços e corpo e lábios e tudo o que lhe ofereceu, sabe-o ali e quer que o tempo a leve com ele para que nunca mais o sinta longe, quer que o mundo os guarde para que ninguém mais o tenha e nada mais a abstenha dele e o abraço da morte é seguro e forte e ele sorri com olhos de açúcar e ela é toda dele e ela gosta muito dele e a alta senhora, cândida e negra, leva-os abraçados e pertencidos.

publicado por Ligeia Noire às 18:08

09
Fev 11

Choose Life.

Choose a job.

Choose a career.

Choose a family.

Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers.

Choose good health, low cholesterol, and dental insurance.

Choose fixed interest mortgage repayments.

Choose a starter home.

Choose your friends.

Choose leisure wear and matching luggage.

Choose a three-piece suit on hire purchase in a range of fucking fabrics.

Choose DIY and wondering who the fuck you are on Sunday morning.

Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth.

Choose rotting away at the end of it all, pissing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourselves.

Choose your future.

Choose life... But why would I want to do a thing like that?

I chose not to choose life.

I chose somethin' else. And the reasons? There are no reasons.

Who needs reasons when you've got heroin?


Excerpt from the film Trainspotting/Excerto do filme Trainspotting


publicado por Ligeia Noire às 14:01
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04
Fev 11


Foi a primeira vez que quis ler um livro depois de ver o filme.

Demorei demasiado tempo para lê-lo porque tudo à minha volta me impedia de estar a sós com ele.

Já havia começado há uns meses e hoje li-o de uma assentada.

Agora é meu e sinto-me terrivelmente abandonada.

Plantar flores e vê-las crescer, ficar ali enquanto despontam demoradamente da terra.

publicado por Ligeia Noire às 01:07

03
Fev 11


Quando tinha sete anos fiquei gravemente doente.

Humm, se calhar é por isso que sempre gostei do número sete.

Eu era uma criança dura como as pedras mas muito magra, lembro-me que adorava roupa mas não gostava de a experimentar porque tudo me ficava enorme.

Bem, a doença nunca me pareceu grave, só compreendi o grau da coisa quando a médica da minha terra me disse que tinha de ser internada de imediato e me levaram para a ambulância.

Se calhar foi por causa da escola, lembro-me que começámos a ter aulas de tarde e eu tinha de levar o almoço na mochila.

Lembro-me de que, como ia a pé, a chuva caía-me toda em cima e o meu corpo ficava com ela até ir para casa.

Nunca gostei da escola primária, era horrível porque existiam alunos mais velhos que me perseguiam, não me espancavam mas faziam brincadeiras néscias e humilhantes.

Lembro-me de preferir ficar na sala, a vir para o recreio comer o trigo com manteiga e beber o pacote de leite achocolatado.

Lembro-me de ter uma melhor amiga…

Nunca pus palavras nestas coisas mas hoje apetece-me fazê-lo.

Preciso expurgar-me e perceber-me.

Eu gostava muito dela, ficávamos tardes inteiras a imaginar o futuro e a conversar.

Ela ia muitas vezes à minha casa e gostava do meu "escritório" que era o que eu chamava à minha casa de bonecas.

Um quarto com um berço antigo e cheio de coisas, assim, pequeninas, o meu passatempo era fazer-lhes roupas e organizar e arrumar… Ah esta minha obsessão com o "arrumar", credo!

Lembro-me de que chegávamos sempre atrasadas à escola, era longe… mas acabávamos as cópias sempre antes de todos os outros meninos!

Bem, eu acabava sempre primeiro mas como a meio do texto a minha melhor amiga me pedia para esperar… eu esperava.

Como todas as meninas pequeninas eu tinha fixações pelos meus professores, havia uma, muito elegante e muito dourada, as outras eram feias e más, depois havia um professor, do qual já não me recordo o nome, que nos deixava ficar na sala e que, um dia, foi atrás de um miúdo ranhoso que me andava sempre a atormentar. Ele tinha um porte elegante e o cabelo um pouco comprido para professor primário, sempre gostei de cabelos compridos, ah pois, já sabes.

Engraçado, ainda tenho uma daquelas fotos que se tiram à classe inteira, onde estou enrolada no braço dele com um ar pequenino e protegido.

Estava eu a falar da minha doença, certo?

Pois estava, a minha doença tinha um nome complicado, bem, se calhar tinha dois nomes.

Sei que não conseguia subir um lance de escadas e mais tarde até andar me deixava exausta, dormia com a minha mãe porque o meu pai trabalhava longe.

Ela começou a achar esquisito ouvir o meu coração bater por fora das cobertas, coitado do coração estava esganado, se calhar.

E depois tinha um gato na garganta e ele miava coitado muito miava ele e, para variar, também nunca comia nada.

A minha mãe obrigava-me a ficar na mesa até comer tudo mas eu tenho um estômago diminuto.

E estava eu, frente a uma médica a chorar, porque não queria ir pró hospital e foda-se fui.

Lembro-me de estar numa sala, uma enfermaria talvez… e ter uma enfermeira, e outra enfermeira e um médico a darem-me tantas injecções que ainda hoje não percebi como aguentei sem partir os ossos e pedia-lhes, por favor, que parassem mas o cabrão não queria saber e só mandava os enfermeiros segurarem-me nos braços e nas pernas, coitados dos meus membros, eram finos como agulhas e brancos e pequeninos, ainda hoje odeio esses gajos, filhos-da-puta, aquilo doía!

Se calhar, é por isso que hoje em dia não consigo sequer medir a tensão arterial e quanto a vacinas, wow é um tormento, tenho de levar a mamã e mesmo assim é um terror.

Bem, depois despiram-me e vestiram-me um pijama ranhoso e colocaram-me a soro.

O quarto tresandava a álcool etílico e era tão branco que me fazia doer os olhos, as janelas eram altas e havia lá mais catraias, lembro-me da que estava na cama ao lado, coitada vomitava constantemente, ficámos amigas até ela ir embora.

Lembro-me de me ligarem máquinas, uma ao coração, porque a reconheço hoje, as outras não sei, e tinha o peito cheio de adesivos ligados a fios e merdas que se pareciam com pequenos alicates e coisas do género, tinha de dormir de barriga para cima, o que era temível.

A minha mãe dormia no chão do quarto enrolada num cobertor, como as outras mães.

Lembro-me de me levarem na cama para o elevador e lembro-me de estar frente a um médico e a minha mãe ter ficado no corredor.

Não sabia o que o médico me ia fazer mas lembro-me do bisturi e da anestesia, eu não senti dor mas a minha mãe disse que me ouvia a gritar no corredor, mais tarde, apercebi-me de que ele tinha feito uma pequena incisão por baixo da mama para mais tarde me enfiarem um tubo, que já no quarto anti-séptico estava ligado a outra máquina.

Através dele retiravam-me líquido dos pulmões, coitados estavam imundos.

Lembro-me de ter um monte de médicos especados e de ter vergonha de comer à frente deles (ainda hoje detesto que olhem para mim enquanto como) e lembro-me de ouvir um deles dizer "se tivesse chegado um dia mais tarde tinha morrido."

A minha mãe não podia ficar comigo todos os dias, os meus irmãos e o meu pai também precisavam dela, lembro-me de à noite ficar a olhar pela janela e chorar.

O tédio de me darem banho, levantar-me com cuidado por causa dos fios e passar um pano molhado no meu corpo pequeno, mudar lençóis, foda-se como odiava.

Lembro-me de me porem o termómetro debaixo do braço, todos os dias, e lembro-me das enfermeiras dizerem que não percebiam por que raio eu nunca tinha febre… pois.

Lembro-me de quando me tiraram a parafernália toda de cima e de eu não saber como andar, as minhas pernas estavam tão dormentes, sensação estranhíssima.

Lembro-me de não gostar de ir para a sala de leitura com os outros meninos, nunca fui muito sociável.

Gostava de levar os livros para a cama e gostava daqueles chocolates que as minhas professoras me levavam, mars.

Lembro-me de no dia de reis a gaja que tomava conta das crianças que estavam internadas, uma espécie de educadora, querer que fizéssemos e usássemos uma coroa de reis magos para andarmos em fila indiana a cantar pelo hospital.

Disse, peremptoriamente, que não queria porque achava ridículo.

Lembro-me da rapariga ao meu lado ter concordado e lembro-me de termos rido como perdidas quando vimos a procissão de miúdos pelo corredor.

Houve um dia, recordo perfeitamente, estava eu na sala de brincar quando a minha mãe disse que não podia ficar e eu comecei a chorar e disse-lhe que não fosse e lembro-me de ter levado uma chapada e de a outra senhora me ter pegado ao colo.

Que mimada e inocente era eu!

Não fazia a mínima ideia das tribulações que os meus pais estavam a passar.

Nessa noite a enfermeira acordou-me e revistou-me o corpo todo e resmungou comigo porque não encontrava o termómetro.

De manhã, quando me levaram para tomar banho, ao tirar o pijama ele caiu e partiu-se todo, bem-feito.

Quando já podia ir à casa-de-banho, lembro-me de esticar as pernas e saltar silenciosamente por cima das mães que dormiam no chão.

Lembro-me do médico barbudo e velhote e lembro-me do meu avô me levar bananas e do meu pai me levar uvas e de me ter dito que era proibido passar com uvas mas que não as viram na recepção e, de toda a fruta amontoada nas gavetas, às uvas comi-as todinhas, diz muito, não é Supremo? Eu sei.

O que será feito da minha amiga de curta duração do hospital, ainda hoje me recordo dela, não do seu rosto mas dela.

Lembro-me do dia em que finalmente tive alta, era uma festa de aniversário de um menino com diabetes, pediram-nos para ficar e comer um bocado mas só queríamos bazar, ainda provei o bolo mas era horrível.

No dia em que voltei para casa nevava muito.

Depois tive de fazer fisioterapia por muito tempo, a seca descomunal que aquilo era e eu, mimada, não queria largar a mãezinha para ir com a estranha para uma máquina de ginásio mas ela era bonita e chamava-se Maria da Conceição, diz muito não é Supremo?... e dava-me bombons e eu gostava dela.

Ela chamava-me a menina dos caracóis e eu ficava horas ali, a inspirar e a expirar e a fazer exercício e massagens torácicas etc. e tal, seca, seca e mais seca.

Ela era bonita, tinha cabelos claros e olhos claros, ou pelo menos é assim que me lembro dela.

As viagens da minha terra para o hospital eram cansativas, eu enjoava muito, então a minha mãe deitava-me no colo e eu ia assim enrolada, os motoristas eram simpáticos, às vezes não pagávamos bilhete, e quando o revisor aparecia a minha mãe deitava-me em cima da bolsa e dizia ao motorista que não me ia acordar para tirar o bilhete, o gajo chagava-a um bocado mas caía sempre.

Lembro-me do senhor de cabelo branco que me dava morangos e falava das minhas bochechas coradas que até hoje indicam o meu grau de saúde.

Ele era fixe, assim como a senhora da mercearia na cidade, a minha mãe dava-me sempre uma moeda de cem escudos e eu ia comprar um ovo kinder, ela também era fixe.

Já devem ter morrido todos.

Perdi o ano escolar mas não tinha muitas saudades de levar com os meus colegas, voltei para a escola e passei na mesma e fui a melhor mas até hoje não sei ler as horas em relógios de ponteiros, a família sempre me achou muito inteligente.

Eu acho que a minha inteligência estava e ainda está na minha percepção do que os adultos querem que façamos e de como gostam que nos comportemos.

De certa forma sempre fui óptima a agradar aos outros.

É-me fácil atingir aquilo que os outros querem.


publicado por Ligeia Noire às 16:42
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02
Fev 11


Quero sangue!

Quero sangue coagulado.

Líquido.

Sofrido.

Quero-te em sangue, podre e miserável

Vais ser tu e eu, tu e eu.

São raios de lava que vês nos meus olhos.

São venenos brancos que se vertem como saliva pela boca ressequida.

É a fome de um mundo inteiro.

Ah o ódio... é desfeito e fatiado nos teus braços.

Já mencionei o quanto te amo?

Não consigo controlar-me e os dentes abrasam-me a língua.

Deixa os pés juntos e desbravados para que te possas dobrar sem partir a campânula.

Vinagre e adagas no teu dorso.

Vestir-te de urtigas e ungir-te o peito com carvão.

Já te mencionei o meu amor?

Lodo.

Já te dispus no circo, dança e não abras a boca, ninho de sardões.

Tu ali disposto, indefeso, tu, pequenino rebento da incansável e comedida insanidade.

Regam-te todas as drogas do mundo, nunca sabes, tu nunca sabes.

Contempla como os teus olhos se revolvem e esgazeiam com os abutres que te acham deleitoso.

E elas?

Que terão elas a dizer?

Como cabem todas elas nas tuas mãos?

Elas, donzelas, putas, meninas e de desejos e prazeres rendadas.

Abrem cortinas e corpos e enchem-se de mirra, salva e enxofre.

A Babilónia é o teu regaço.

Às vezes mata-me a dor e serve-me a anestesia num vassalo dourado.

E acusas-me de demência e outros predicados bem indecorosos.

Como elas te olham e salivam e eu olho e cuspo.

Então, não é assim tão penoso, é? Meu amor?

Espancada e esmiuçada, esgrimi uma longa batalha com o pó e a terra seca mas estes não se demoveram. Quebraram-me a traqueia e derrubaram-me os pulmões.

Decresceu a quantidade de pele e os ossos das mãos ficaram-me mais notórios.

Achas que tenho medo?

Esmigalhada, só quero sangue quente e jorrado e estendido como azeitonas negras e lustrosas neste chão que piso.

Quero encher vários vasilhames e embebedar-me toda, toda, para assistir no meio de ratos à queda do império.

         

(...)You fucking touch me I will rip you apart
I'll reach in and take a bite out of that
Shit you call a heart...

  

*Excerpt of My Plague by Slipknot/ Excerto do tema My Plague dos Slipknot


publicado por Ligeia Noire às 23:57


E na verdade não fui por lugar algum.

Na verdade sinto-me exausta antes de iniciar qualquer percurso.

Como se se tivessem, propositadamente, olvidado de me fazerem reset.

Estava de noite como sempre, o caminho estava pejado de macieiras e mais macieiras e não pus os pés a caminho, sentei-me e esperei por ela.

Estavas aí mas não estavas inteiro.

Eu estava aqui e estava inteira.

Sabias que se vires um Santieiro, antes de ele estar completamente desenvolvido, este não cresce mais?

Também não te fizeram reset?

Se calhar esqueci-me de te dizer que não quero crescer mais.


*Well, I see you as you take your pride, my lioness

Your defenses seem wise, I cannot press...

 

*excerpt from "Pace is the trick" by Interpol/Excerto da canção "Pace is the trick" by Interpol


publicado por Ligeia Noire às 18:53
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