“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

23
Fev 11


A cesta de medronhos que abona os teus braços e o rio de sangue que corre nos teus cabelos.

Inumo as unhas nas tuas mãos e és o cálice de vinho que derramo na boca.

Ganho-te beijos e sabes como gosto de te toldar os sentidos.

E hoje queria ser violenta e deixar a doença entranhar-se-me na carne mas, eis que chegaste, condensada, e a beleza é o melhor pasto.

Não sejas cândida e tão de porcelana, hoje… desenlaça o viveiro e abre os olhos.

Vem comigo.

Os tempos da santíssima trindade terminaram mas schiuuuuuu isto é um segredo bem pequenino.

Desce as escadas, esta noite vamos aprimorar a decadência.

Vê-los ali?

São tão belos, são assim porque a perfeição lhes nasce da alma.

O chão atapetado de cimento frio e catalítico e eles dançam e dançam, cheios de anestesias diversas.

Os corpos, máquina perfeita, imagino o quão vermelhos estarão os seus corações, os ramos de capilares na pele rendada, os cabelos que tapam os rostos, o passado veio poisar no cenáculo e as oferendas banham-se em cristais de gelo.

Anda comigo, desce as escadas e vamos soltar os cabelos.

Fugir do mundo, hoje a lua abriu-se e os mortos jazem por ela.

Deixa-me encher-te o peito e as veias, deixa-me dar-te liberdade e fazer-te pairar sem embargo.

Hoje tomo conta de ti, hoje estás no altar do mundo e o cenáculo é a tua casa.

Só é possível encontrar e usar este caminho, se o teu corpo se coadunou com o abismo.

Olho-te dentro e estás pronta, estás livre e enquanto a liberdade se encarna de vontade, somos todos nossos e somos todos sozinhos, a celebrar a alienação.

Gosto de deixar estes anjos assim… trazê-los à flor da pele e narcotizar-lhes a realidade para que possam viver uma noite à luz da lua e florescer de braços nus para a música.

O encantamento maior, a delícia mais sublimada e opiácea.

Sorris muito, sorris por entre esse teu cabelo de medronhos e olhos tenros.

Fazes-me bem, inspiro-te completa e danço contigo.

Se é saudável?

Não, não é.

Provavelmente amanhã irás sentir o corpo a fermentar e o céu cinzento vai entrar-te todo de uma vez nos olhos.

As cadeiras onde te sentares e as salas onde tiveres de guardar o corpo irão parecer-te masmorras embebidas de olhos escancarados.

Linhas de gumes afiados irão nascer-te por todo o lado, as bolachas 100% especiais irão dar-te sarna e vontades de lhes escacar os dentes, um a um, irão nascer-te nos dedos... mas ficarás a repousar a seiva que te escorre das unhas e guardá-la-ás nos bolsos.

Não queres assustar os pacotes extra-saborosos que aguardam todos os dias pelo sol mas que se auto-agraciam com a noite, envenenando-a de tédio.

Todos os bichinhos correm da sombra para o sol.

E noites de destruição massiva não podem ser domesticadas e regularizadas.

Não assinas pela tua integridade, nem esperas repetição.

Acontece assim, como um sonho em que apareces nua e rosácea no meio da erva-molar orvalhada, da qual nunca acordas inteira.

Olho para ela e olho para todos e olho para mim e sinto o sangue com pressa de chegar à carótida e cava-me lanhos no peito e sinto-o distender-se imensamente.

As anestesias correm-nos de uma ponta a outra e sinto-me toda.

Dançamos em júbilo e derramamos jóias dos olhos e da boca.

Ela renasce nos meus braços e já não somos pessoas, somos lobos brancos e cinzentos e castanhos e negros e uivamos à deriva.

O mar estende as ondas enroladinhas e quebramos o suor na sua frieza de Inverno.

Damos as mãos e abraçamos os nossos corpos de matilha.

Sei que ao cruzares a hora das bruxas tudo se esvairá da tua memória.

Resta-te o cabelo de sangue e a cesta de medronhos, atravessa a ponte e corre para casa, dorme e prepara a domino para a selva.


publicado por Ligeia Noire às 21:57

mais sobre mim
Fevereiro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
11
12

13
14
15
16
17
18
19

20
21
25
26

27


Fotos
pesquisar
 
arquivos
subscrever feeds