“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

31
Mar 11


Algures em 2005 ou seria 2006?


Prelúdio


Rapariga frente a um estirador, aula de Literatura e Interpretação de Desenho Técnico.

O Professor manda fazer um exercício.

Perspectiva dimétrica, não sei de quantos graus, de uma máquina em corte ou seria uma ferramenta?

A rapariga sentada na cadeira olha para as folhas que tem entre as mãos e vira uma ao contrário.


Desespero


Se desenhássemos esta rapariga em perspectiva dimétrica ou mesmo cavaleira, vê-la-íamos a escrever e a escrever como se estivesse a injectar heroína na veia gorda do braço esquerdo, a ânsia é a mesma, fazer com que passe, com que diminua de tamanho com que o mundo pareça menos grave.

O professor dá passos pelo meio das filas ininterruptas de estiradores e ela está ali, a tentar tirar o mostrengo de cima das costelas.

O professor estaca-se atrás dela, como um gato silencioso, põe-lhe a mão pesada no ombro.

A rapariga cora demasiado e enterra as unhas nas pernas, a vergonha era demasiada, a vergonha de não ser suficientemente normal para pedir ajuda, a vergonha de desiludir, a vergonha de não merecer o sopro, a vergonha de ser ela ali assim, com aqueles olhos mortos e aquelas mãos que nada sabiam de respostas, nem de soluções.

A vergonha de saber que ele sabia, a vergonha de saber que ele tinha pena, a vergonha era tanta que voltou a ter quinze anos e deslizou para o fundo da oficina, escondendo-se atrás de um pilar.

Eram tantas coisas acumuladas num coração que continuava a ser pequenino.

Percebi bem o que escreveste? Estás assim tão aflita?

E ela transbordou como um regato em noite de lua cheia.


Algures no começo do Mundo ou seria no teu começo?

 

Interior


Não sei bem quando isto começou, não sei se começou, se sempre esteve aqui, se tinha consciência de que aqui estava ou se me aconteceu alguma coisa da qual me esqueci.

Não sei falar disto e, às vezes, tenho vergonha de que me perguntem coisas do buraco negro porque sinto sempre que não há palavras que me arranjem uma boa resposta.

Às vezes, é mais simples dizer que temos uma dor num qualquer membro ou que nos falta alguém ou que tivemos um mau dia.

Não podemos desenhar-lhes estas palavras:

olha, ontem à noite adormeci de olhos enxaguados, anteontem também e creio que antes de anteontem aconteceu o mesmo.

Não podemos dizer:

houve um dia, em que não sabia como respirar, as costelas adelgaçaram o coração, o sangue escoava pelo nariz, a cabeça rodava em valsas e o medo era tão grande e tão pesado que parecia ter perdido o corpo.

Não é isso, não compreendes.

Se deixasses de ser tão obtusa…

-As minhas mãos tremem todas as manhãs, as costas doem-me e as pernas também, o estômago aperta-se e, às vezes, a cabeça deixa-me nauseada.

-Já foste ao médico? 

-Não quero ir ao médico, não quero mais médicos. Esta semana o cheiro a adubo e enxofre andou sempre por ali…

-O quê? Não entendo, mas não andas na escola?

-Ando e, às vezes, não sei ler nem escrever, às vezes, sinto que nem sequer tenho opinião. Sabes, é como se já tivesse prescrito.

-Dizes coisas sem sentido, se calhar se cortasses o cabelo e aclarasses as roupas.

-E agora, Gostas mais de mim assim?

-Não. Continuas igual, os teus olhos parecem-se com os de um agarrado ao cavalo, não, não é isso, é pior, eles têm coisas lá dentro, como se... não sei, agonias-me!

-Há muitas coisas que não sabes sobre mim, há muitas coisas que tenho vergonha de contar.

-É isso! Os teus olhos, o teu corpo, é como se fizesse sempre noite nele, vês? Já me estás a contaminar com os teus ditos estranhos.

-Tens razão. Mas eu queria ser dia, eu queria amanhecer.

-Acho que sei o que tens… Acho que estás doente e… há muito, muito tempo.

-Doente? Não.

- Não? Tu estás doente.

-Os pobres nunca estão doentes. Não há meio termo, ou estão vivos ou mortos.

-Conta-me uma coisa sobre ti, quero aprender-te, deixa-me aprender-te um bocadinho hoje?

-Gosto de ver as pessoas felizes, gosto do sol delicado, gosto de gostar dos sentimentos bonitos e gosto muito de cinema de terror extremo e violento.

-Gostas de sangue?

-Não. Desmaio até, detesto. No entanto gosto de filmes pesados e pesados, como se precisasse de doses cada vez mais fortes para sair daqui.

-Mas não achas que isso te deixa ainda mais penosa e doente?

-Não sei, acho que me ajuda, acho que me amansa.

-Se calhar precisas de uma pessoa, sabes… um amante.

-Dizem que isso é importante.

-O amor é a coisa mais importante do Mundo.

-Então sou analfabeta.

-Gosto de falar contigo, não sei se é porque estás anestesiada mas tu és muito meiga, muito pequenina.

-Dizes coisas bonitas. Tu sabes da cura, não sabes?

-Sei sim. 

publicado por Ligeia Noire às 22:06

30
Mar 11


Swanheart


All those beautiful people

I want to have them all
All those porcelain models
If only I could make them fall

Be my heart a well of love
Flowing free so far above

A wintry eve
Once upon a tale
An Ugly Duckling
Lost in a verse
Of a sparrows carol
Dreaming the stars

Be my heart a well of love
Flowing free so far above

In my world
Love is for poets
Never the famous balcony scene
Just a dying faith
On the heaven's gate

Crystal pond awaits the lorn
Tonight another morn for the lonely one is born


Letra da autoria de Tuomas Holopainen/Lyrics by Tuomas Holopainen

 

Post Scriptum: como que resignada ao universo que me foge e ao de dentro que me manterá refém para sempre, já só te peço paz e acalmia.

 

 

 

 

publicado por Ligeia Noire às 22:36

29
Mar 11


WHITE LANDS OF EMPATHICA

 

The end.

 

The songwriter's dead.

The blade fell upon him

Taking him to the white lands
Of Empathica
Of Innocence
Empathica
Innocence

 

HOME


The dreamer and the wine

Poet without a rhyme

A widowed writer torn apart by chains of hell


One last perfect verse

Is still the same old song
Oh Christ how I hate what I have become

Take me home

Getaway, runaway, fly away
Lead me astray to dreamer's hideaway
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world
Forgive me
I have but two faces
One for the world
One for God
Save me
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world

My home was there 'n then
Those meadows of heaven
Adventure-filled days
One with every smiling face

Please, no more words
Thoughts from a severed head
No more praise
Tell me once my heart goes right

Take me home

Getaway, runaway, fly away
Lead me astray to dreamer's hideaway
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world
Forgive me
I have but two faces
One for the world
One for God
Save me
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world

 

THE PACIFIC

 

Sparkle my scenery

With turquoise waterfall

With beauty underneath
The Ever Free

Tuck me in beneath the blue
Beneath the pain, beneath the rain
Goodnight kiss for a child in time
Swaying blade my lullaby

On the shore we sat and hoped
Under the same pale moon
Whose guiding light chose you
Chose you all

I'm afraid. I'm so afraid.
Being raped again, and again, and again
I know I will die alone.
But loved.

You live long enough to hear the sound of guns,
long enough to find yourself screaming every night,
long enough to see your friends betray you.

For years I've been strapped unto this altar.
Now I only have 3 minutes and counting.

I just wish the tide would catch me first and give me a death I always longed for.

 

DARK PASSION PLAY

 

2nd robber to the right of Christ

 

Cut in half - infanticide
The world will rejoice today
As the crows feast on the rotting poet

Everyone must bury their own
No pack to bury the heart of stone
Now he's home in hell, serves him well
Slain by the bell, tolling for his farewell

The morning dawned, upon his altar
Remains of the dark passion play
Performed by his friends without shame
Spitting on his grave as they came

Getaway, runaway, fly away
Lead me astray to dreamer's hideaway
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world
Forgive me
I have but two faces
One for the world
One for God
Save me
I cannot cry 'cause the shoulder cries more
I cannot die, I, a whore for the cold world

Today, in the year of our Lord 2005,
Tuomas was called from the cares of the world.
He stopped crying at the end of each beautiful day.
The music he wrote had too long been without silence.

He was found naked and dead,
With a smile in his face, a pen and 1000 pages of erased text.


Save me

 

MOTHER & FATHER

 

Be still, my son

You're home

Oh when did you become so cold?
The blade will keep on descending
All you need is to feel my love

Search for beauty, find your shore
Try to save them all, bleed no more
You have such oceans within
In the end
I will always love you


The beginning. 

 

letra da autoria de Tuomas Holopainen/written by Tuomas Holopainen


publicado por Ligeia Noire às 21:47
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Respirar


Give me something for the pain 

Give me something for the blues 


Give me something for the pain 
When I feel I'm dangling on a hang-man's noose 


Give me something for the rain
Give me something I can use

  

Foi das piores semanas que tive e coisas muito feias haveria para dizer, muita saliva para cuspir muito fel para escoar de dentro mas há coisas que fazem milagres, não curam mas velam.

É o regaço de sempre, o vicio de sempre, a anestesia de sempre.

Veio devagarinho, deitou-se na minha cama e encostou o meu corpo chagado ao seu peito imenso.


Efeito


I dream of wolves

With them I run
For me she lengthened the night
I am home
I am in peace


Quente, o estômago acalmou, o redemoinho abandonou a cabeça e as minhas mãos deixaram o tom violáceo.

Mesmo com tudo a partir-se de todos os lados, mesmo sabendo que atingi níveis insuperáveis e irreparáveis, não estou desgarrada.

O velho círculo, onde cada um de nós deposita com cuidado as flores, flores que pingam, gotejam e crescem, indefinidamente, dos mistérios destas chagas que nos perseguem até se tornarem tão fundas que um dia não conseguiremos ser mais do que uma poça de sangue de onde todas elas sairão para desabrochar na perfeição e agudeza que nós nunca conseguimos atingir.


Longe, aqui.


Music is the strongest form of Magic

   

Foi assim que a musa me deixou, abrandada, como se me tivesse levado até aos dias em que bebia leite morno acabado de mungir pela minha mãe, da vaca preta e branca que tinha olhos grandes e da cor dos meus.

Foi isso que ela fez, esta musa sublime, abrandou-me e deitou-se junto das minhas pernas e braços abandonados e disse-me em tons universais que pairamos juntas pelos mesmos abismos, que o mundo é um sítio grande e cheio de pessoas e que, talvez, esta até seja a minha última viagem, o meu último casulo.

 

Está quase, contraria-me. Eu sei.

 

And when the day arrives

I'll become the sky

And i'll become the sea


And the sea will come to kiss me

For I am going Home

Nothing can stop me now

   

Ou então mesmo que seja somente pó e ao pó retorne, tenho as veias abastecidas, inchadas e suculentas da seiva desta musa sublime e, tão simples, que não quer, senão, que a ouçamos e a abracemos desnudos.

 

Redenção na queda

 

(…) it’s a cathartic experience for hopefully everybody.

You are going through universal pain together.

The pain of losing people around you, the pain of growing up and the pain of, as you grow up, learning that, actually, you don’t know anything.

 The world becomes day by day a bit more complicated place and basically is good to know that you're not alone (…) and to be able to confront the negativity in the world in general with a smile on my face, more or less.

It’s tough and it’s hard and it’s hard for everybody but it’s crazy how a person lives a zillion miles away in a place called Helsinki sits on his bed, feels something and picks up a guitar and puts that feeling into the music...

A couple of words a couple of chords and through a long process gets that thing recorded and all of the sudden the music spreads all around and what happens is that it does exactly the same what it did for the perpetrator, so to speak, it’s a weird cycle (…) at times its painful and at times its rejuvenating, hopefully both at the same time.

 

Quotation of Ville Valo’s interview on The digital Versatile Doom

 

Portanto, lay me down on a bed of roses quando morrer e que os espinhos destas se sintam em casa. 

publicado por Ligeia Noire às 01:14
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25
Mar 11


There are no more tickets to the funeral!

There are no more tickets to the funeral!

There are no more tickets to the funeral!


The

fucking

funeral

is

crowded.

 

Diamanda Galás

publicado por Ligeia Noire às 15:17
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Ainda vais demorar muito?

Preciso de acabar.

Preciso de ti.

O Inferno adensa-se e hoje o cheiro a adubo misturado com enxofre estava por todo o lado.

Como posso eu cruzar-me contigo, se o meu sono não endurece?

Não me deixes aqui sozinha, não vás embora.

O tamanho do meu desespero... não aguento, é isso, é assim, simples, tão simples que já nem sequer sei o chão que piso.

Não vás embora, não deixes que digam que morreste.

Procuro-te todos os dias.

Tu não podes ir embora, apieda-te de mim.

Isto não pode, tudo isto, tudo o que... não, não quero, olha daí para mim Supremo, olha para dentro, viste?

publicado por Ligeia Noire às 00:18
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23
Mar 11


Há quem tenha estrabismo, há quem seja daltónico, eu sofro da incapacidade de ver o todo.

Os detalhes, sofro da capacidade de ver os detalhes, todos e principalmente os mais inúteis e os mais grotescos.

Não consigo estabelecer conexões, foi-se-me a concentração e todas aquelas coisinhas admiráveis que já fazem parte da mobília.

Se calhar, é por isso que detesto pontes, elevadores, aviões e tudo o que me condena às alturas, prendo-me nos detalhes, proporções eminentes descontrolam-me o sistema.

Os detalhes, uns olhos lassos ou uma japoneira florida de luxúria ou as mãos grossas de um velho ou a consciência dos afazeres, nunca o todo, nunca a inter-relação, nunca a vontade.

Sou desorientada, lazarenta, demorada e pesada como uma nuvem de chuva.

Misturando isto, com o facto de me parar por um instante e não nascerem em mim vontades de me mexer ou de abrir os olhos ou então, apenas autorizar as funções de sobrevivência mínimas mas continuar tão parada como antes e, quando acordo, terem se passado meses e tudo a que me sujeitei, tudo o que encontro na pele e tudo o que me passou pelos olhos é demasiado.

Incapacidade de perceber o tempo.

A eterna embriaguez mas das pesadas porque nunca me lembro de nada, nem quero fazer nada, passei a vez à irresponsabilidade infantil:

enterrar a cabeça debaixo dos cobertores e fingir que moro num planeta em que dormir é como respirar, intrínseco.

Mas há cliques e a ressaca é lancinante, pontilha-me a cabeça toda e ando em constantes vertigens e vejo as bocas deles, as perguntas, as obrigações e não sou capaz de articular mas sou dama de paus e o meu leque é perfeito.

Impune, corro as lágrimas e os espancamentos.

Torno-me inútil e obsoleta porque na verdade nada em mim é mais forte do que a destruição, fui feita para me comer na fome e em mim só há fomes.

Fomes ilícitas.


publicado por Ligeia Noire às 17:42
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22
Mar 11


Suicide Trees


I spent my

whole life...
...In love with despair
Kept my lungs full
With the breath of their...
...Mute atmosphere
I became
What I hate
And thus
Shall I remain
To give birth to a
Mighty assassin
Armed with a weapon of words?
To defy the lies
To never compromise?

 No.

Today...

...My name
is pain.

I stood

Beyond the world
Whispering secret syllables in the...
...Eyeless dark
Dancing wildly
Round and round on the rotting ground
Surrounded by the dead dusts of hell

 

This is how I delete myself
And this is how I corrupt
Everyone else
To obey 

 

Obey
Betray 

 

You are not unique!

You do not need to think!

Take it!

(Take it)

(I will, I will, I will...)

You succumb

So nicely...
Like an insect staring back
Like a dying dove
My love 

So here we are again

 

The sheets are stained and bloodied
The animals scratch at my skin
Here we are again
My face is scraped and bloodied
I've nothing left to give...

I wasn't there.
I'm not involved.
I'm innocent.
It's not my fault.


I wasn't there, I'm not involved, I'm innocent, It's not my fault.

I wasn't there, I'm not involved, I'm innocent, It's not my fault.

 

Here in the suicide trees 

 Here in the suicide trees 


(No, bloody, bloody, bloody
Murder
Among the excitement of my sins
it’s not happening) 

So here we are again
In secret ceremonies
Changing shape, amen
Here we are again
Pretending not to notice
The illness sneaking in...

I wasn't there.
I'm not involved.
I'm innocent.
It's not my fault.
I wasn't there, I'm not involved, I'm innocent, It's not my fault.

I wasn't there, I'm not involved, I'm innocent, It's not my fault.

(I wasn't there, I'm not involved, I'm innocent, It's not my fault.)


Here in the suicide trees

Here in the suicide trees


Toil and labour, hate your neighbour, faith in favour, obey

Toil and labour, hate your neighbour, faith in favour, obey


Obey!!!


Here I do as I please, obey, here in the suicide trees, obey

Here I do as I please, obey, here in the suicide trees, obey


Hate your neighbour

Hate your neighbour


The animals scratch at my skin


It's not happening


Lyrics by Otep Shamaya/Letra da autoria de Otep Shamaya

publicado por Ligeia Noire às 20:30
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Autopsy song


Open wide, look inside

At my autopsy


I feel like
A woman
I feel like
I care
I feel like
I shouldn't
I feel like a child
Of despair
I feel like
It's over
I feel like it's coming
After me
I feel like
It's closer
I feel like this is all I'll ever be
I feel like
A failure
I feel like a hungry
Parasite
I feel like
A razor
I feel like a prayer
Lost in flight
I feel like
I'm hopeless

I'm afraid I'm a slave, I'm weak and average

I feel like
A hammer
I feel like
A nail
I feel like
I'm guilty
I feel like the wrist that it impales
I feel like
A butcher
I feel like 
I'm being decieved
I feel like a beautiful loser
I feel like all you sheep
Are laughing at me

 

Open wide, look inside, at my autopsy

 

I feel like a complete waste of time
I feel I'm
Transparent
I feel like I can't
Escape my mind 


Lyrics by Otep Shamaya/ Letra da autoria de Otep Shamaya

 

Post scriptum: quando as palavras não chegam a música sobra. Ninguém incendeia as palavras e as cospe como esta menina. É assim.


publicado por Ligeia Noire às 00:19
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18
Mar 11


Há muitos tu neste caderno medicamentoso, e apetecia-me falar do tu de hoje, o tu que não posso clarear em palavras, o tu que não sei se ainda gosto.

Tu que nunca sei como enunciar.

Tu que fazes com que tenha de metamorfosear e camuflar ainda mais as palavras porque és um espírito sempre presente e não tenho a certeza se quero que leias isto.

Como dizem os Interpol de uma golfada I am safe without it mas, às vezes, meus caros músicos, as coisas surgem, aparentemente, abandonadas à nossa porta e temos de as carregar no bolso.

E é assim que me sinto em relação a ti, que estou melhor sem te pensar, sem me lembrar, sem te trazer para

os olhos, às vezes, até acho que já morreu e não me sinto culpada por isso.

Tudo é dúvida, pelo menos em mim.

E também me pergunto por ti mas confesso que já não há atmosfera ou tempo para quebrar, aliás, não há coragem.

Mas hoje aconteceu uma daquelas coisas que me fez retroceder alguns anos e ver-me embevecida a contemplar as maravilhas do que não se pode explicar.

Já não esperava que o universo ainda se importasse em cruzar-nos a distância.

E de facto, parece que ainda não perdi a ingenuidade porque o coração tremeu e os olhos sorriram e eu com eles.

Como se aquilo tivesse provado, que tudo era verdadeiro, real e inequívoco.

Como se fosse suceder para além das nossas vidas e vontades. Como se fôssemos conhecidas de outras reminiscências.

E fiquei feliz por saber que o Supremo ainda não se esqueceu de nós e quer que nós façamos o mesmo.

Na verdade, depois de perceber que apenas eu me sentia alentada, todas aquelas coisas pesaram nos bolsos e na alma.

Não vejo as coisas planas e, se calhar, foi tudo empolado na minha cabeça desde o princípio.

E no princípio era o verbo e o verbo fez-se carne e, uma vez enxaguado dela e de sangue e coisas que alimentam a alma, este pereceu às mãos de si mesmo.

O verbo não foi eterno porque se consubstanciou.

Todavia, foi apenas na sua concretização, no seu alagamento com vida, que este pôde algum dia entender-se e ser entendido.


publicado por Ligeia Noire às 00:55

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