Há muitos tu neste caderno medicamentoso, e apetecia-me falar do tu de hoje, o tu que não posso clarear em palavras, o tu que não sei se ainda gosto.
Tu que nunca sei como enunciar.
Tu que fazes com que tenha de metamorfosear e camuflar ainda mais as palavras porque és um espírito sempre presente e não tenho a certeza se quero que leias isto.
Como dizem os Interpol de uma golfada I am safe without it mas, às vezes, meus caros músicos, as coisas surgem, aparentemente, abandonadas à nossa porta e temos de as carregar no bolso.
E é assim que me sinto em relação a ti, que estou melhor sem te pensar, sem me lembrar, sem te trazer para
os olhos, às vezes, até acho que já morreu e não me sinto culpada por isso.
Tudo é dúvida, pelo menos em mim.
E também me pergunto por ti mas confesso que já não há atmosfera ou tempo para quebrar, aliás, não há coragem.
Mas hoje aconteceu uma daquelas coisas que me fez retroceder alguns anos e ver-me embevecida a contemplar as maravilhas do que não se pode explicar.
Já não esperava que o universo ainda se importasse em cruzar-nos a distância.
E de facto, parece que ainda não perdi a ingenuidade porque o coração tremeu e os olhos sorriram e eu com eles.
Como se aquilo tivesse provado, que tudo era verdadeiro, real e inequívoco.
Como se fosse suceder para além das nossas vidas e vontades. Como se fôssemos conhecidas de outras reminiscências.
E fiquei feliz por saber que o Supremo ainda não se esqueceu de nós e quer que nós façamos o mesmo.
Na verdade, depois de perceber que apenas eu me sentia alentada, todas aquelas coisas pesaram nos bolsos e na alma.
Não vejo as coisas planas e, se calhar, foi tudo empolado na minha cabeça desde o princípio.
E no princípio era o verbo e o verbo fez-se carne e, uma vez enxaguado dela e de sangue e coisas que alimentam a alma, este pereceu às mãos de si mesmo.
O verbo não foi eterno porque se consubstanciou.
Todavia, foi apenas na sua concretização, no seu alagamento com vida, que este pôde algum dia entender-se e ser entendido.