“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

09
Jun 11


Prezado, Abre os olhos um bocadinho.


Ya, não é que esteja enamorada de ti mas, até hoje, não encontrei ninguém que te suplantasse e, não me entendas mal, não é que seja difícil suplantar-te mas, não me ponho a jeito de ser pescada, a maior parte dos pescadores não me acha uma boa pescaria e eu não acho que tenham engenho para que eu salte para o balde.

Se calhar, és mesmo difícil de suplantar, se assim não fosse, não eras flor-selvagem, rodeada de abelhas, vespas, formigas, borboletas, traças e mais uns quantos bicharocos.

Não te faço sentido?

Abre mais um pouco os olhos.

E, depois, quando estou neste humor introspectivo, a imagem de ti ou o conceito que criei para te explicar, não entra pela porta porque está sempre trancada à chave, (a minha colega de quarto foi para a Sibéria) a janela está fechada (porque a vizinhança é barulhenta) mas abro os olhos e…

Foda-se…

Foda-se…

Esta ligação desnaturada, bizarra, anómala, em que eu não te amo e tu não me amas, em que eu gosto de ti e tu gostas de mim, em que eu estou sempre a sobrevoar o abismo e tu estás sempre a atravessar o rio e a ir para o Mundo dos mortos, como Orfeu.

As saudades, as saudades e são saudades só minhas porque tenho medo, medo de ti e de mim e de tudo e do nada também.

É engraçado sabes, quando voltei estava convicta de que poderia invocar o teu cheiro quando quisesse, pretensiosa, pequena boneca pretensiosa...

De mim, que palavras poucas digo, não há muito para contar, ao contrário da Nau Catrineta.

Estou mais esburacada, alienada, cortei o cabelo, aprofundaram-se-me os olhos e matei a esperança.

Sim, leste bem, matei a desgraçada à navalhada.

Ainda bole mas já não guincha, era fraquita, a pobre.

E, sabes mais uma coisa?

Mesmo, quando durmo a noite inteira, acordo sempre cansada e sempre com sono, raramente me lembro do que sonho, lembras-te dos meus pesadelos, frios e compridos?

É melhor assim.

Prefiro não me recordar de nada e ficar apenas com o sono, não dói não é?

A antecâmara.

Nunca mais esqueci, fez sentido.

Quem és tu?

Teremos nós bebido do rio que atravessa o mundo de lá?

Abre as mãos, guarda, dorme.

Pode ser que o amanhã não exista.

Pode ser que abra, eu também, os olhos e o barqueiro esteja estacado à minha espera.


publicado por Ligeia Noire às 23:42

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