Como se o tempo e o espaço te fossem indiferentes.
Como se as feridas abertas e os olhos molhados não te fizessem parar.
Como se acreditasses sempre enquanto fazes crer ao mundo que tudo são lágrimas.
É ela que te traz preso e é ela que guardas entre o sangue mais quente.
É ela, meu querido amigo, que esperas no teu Inverno.
Foi essa flor, que desabrocha longe dos Homens, a tal, a que procuraste em todas as outras.
A mulher entre as mulheres, a de regaço balsâmico que te limpava o coração e o pensamento do horror do mundo cimentado.
Acha-la rainha e navegas por entre o céu e o inferno para lhe impores coroa e trono.
Mareias num mundo circular mas nunca cessas e corres muito, com os pés desfeitos mas os braços bem abertos, na esperança de que a musa esteja lá e te revele o que lhe envolve o peito.
Queres-lhe enleios e guardas-lhe o teu sorriso mais precioso, para que lhe acenda os olhos embaçados.
Queres-lhe palavras de amor e exiges que o firmamento se funda e os deuses chorem na presença da pureza que albergais.
Foste cavaleiro, leal guerreiro, trovador de coração agredido, guardando do mundo todos os segredos.
Mas a musa, a musa não voltou, a musa trazia lâminas nas palavras e ,viste-lhe os passos certeiros e de partida trilhados, por entre a neve.
Agora, o lume restringe-se à lareira, enquanto os dias te consomem sem piedade, sem talheres e de boca imensa.
Lá ao fundo, há uma janela por onde os teus olhos caminham, testemunhando a flor que luta por colocar as suas pétalas, brancas, acima do manto gelado.
O milagre da sobrevivência nasce sob a tua alçada e nada dizes, nada sabes porque crescer é saber que nada é o que parece.
A ti devotado, ao último dos românticos.