Depois de falarmos fiquei com a sensação de que te estavas a despedir.
Não me perguntes porquê mas o meu peito pesou-me sem medida e estreitou-se como se o enlaçasses.
Já não consigo deixar de parte as saudades, as saudades que me rebentam nos ossos e que me abarrotam a carne.
E é assim.
Tem sido assim, falta-me o sono porque sinto que vais embora, de mansinho, outra vez.
Se soubesses, se eu pudesse, se…
Lembras-te de quando disseste que…
Apeteceu-me descer de mim e esbofetear-te pela dor que aqui ficou plantada.
Eu sabia e eu sei de tudo isto, sei de tudo o que nós não dizemos e sei que ficarei no cimo das rochas, a acenar à caravela, como viúva antecipada a salgar as águas selvagens de mares que te navegam.
Fiquei zangada porque sei que não me mentes e porque sei que há palavras que não são para dizer.
Não são para dizer quando tu te manifestas e eu te sei fugidio como todas as coisas harmoniosas e naturais com as quais te poderia emparelhar.
Há coisas que se devem fingir inexistentes por conhecimento da sua impossibilidade.
Sabê-las, é por demais intolerável… é como presenciar o anjo da salvação do outro lado da escarpa.
Entendes?
Do outro lado da escarpa… ele de braços que me poderiam ter abraçada.
Consentir-me a contempla-lo, a sabê-lo ali, não mais seria do que dor deliberada.
É assim que sempre fomos:
uma utopia,
um desassossego de consubstanciação.
E, baixinho, peço sempre que te vás.
Peço-o para mim.
E tu vais e eu rogo que não voltes e tu voltas e tens em mim o efeito de rio bravo e caudaloso que rasga o abismo.
Hoje é assim, tive de transbordar um bocadinho para respirar.