É tantas coisas, purificador, vida, quente, denso.
Laço.
É-nos familiar, reconhecemo-lo.
De certa forma acalma-nos, reduzimo-nos à nossa fragilidade viva na sua presença.
A mão fria, matutina que encosta os seus dedos compridos ao pescoço.
Ele está ali, por debaixo da fina camada de pele.
Se te debruçares na claridade, podes segui-lo nas veias e capilares rendilhados do corpo.
O sangue quente que volteia em grandes e pequenas viagens.
O sangue sagrado que encheu o cálice do Filho feito Homem.
Nascemos do sangue e quando o seu reduto se estanca, morremos.
Mas e quando não há sangue?
Como naqueles filmes raros em que não há torturas medievais, nem esquartejamentos de matadouro… há o medo sem rosto, apenas… o medo que levámos para a cama, no escuro.
De que rir?
De que sentir agonia?
A ferida que não brota.
Não há porque colocar curativos, torniquetes, ataduras… e agora?
Não entendemos, assustamo-nos, não há nada e se não podes curar, estancar, cortar, coser… é porque é grave, está podre, está a inundá-la por dentro, sufocá-la-á.
A pele está pisada, os olhos estão fundos, as mãos tremem, a pele enrijece mas não há fonte.
O sangue líquido é um alívio, significa que a vida ainda reside.
Mas quanto silêncio, quanto temor, não nos habita na presença de uma ferida que não jorra?
Que não pode ser estancada por falta de entrada...
A capa do disco Halo dos Celan só se pode equiparar à Écailles de Lune dos Alcest e mesmo assim… prefiro a primeira, o que é dizer muito.
Deve ser porque tem vermelho e vermelho sempre foi a minha cor, principalmente se morto.
É, acho que seria um bom cenário para este devaneio ou melhor seria se pudesse trocar todas estas palavras pela imagem daquele álbum.
Diria tudo o que aqui quis dizer mas que não consigo por falta de tudo... engenho, paciência, existência real.
Tudo o que importa é simples, a beleza é simples, a simplicidade é intrincada.