“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

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Jan 12

 

"(…) Esta teoria considera que as divisões em classes e grupos sociais, e as configurações ideológicas e materiais sobre as quais elas se apoiam, são transmitidas e reproduzidas através da violência simbólica. Ou seja, quando o poder detido por uma classe social é utilizado para impor uma definição do mundo, para definir significados e apresentá-los como legítimos, dissimulando o poder que essa classe tem para o fazer e escondendo, além disso, que essa interpretação da realidade coincide com os seus próprios interesses de classe. Assim, esta violência simbólica «reforça com o seu próprio poder as relações de poder nas quais ela se apoia, e contribui dessa forma, como sublinha Weber, para a "domesticação do dominado"» (Bourdieu, P., 1977, p. 115).

A cultura encontra-se, portanto, dominada pelos interesses de classe. Esta violência simbólica vai exercer-se muito directamente através da acção pedagógica. De facto, P. Bourdieu e J. C. Passeron declaram de forma explícita que «toda a acção pedagógica é objectivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um arbitrário, de uma arbitrariedade cultural» (Bourdieu, P., e Passeron, J. C., 1977, P. 45).

Dentro da concepção de acção pedagógica entram todas as tentativas de instrução, quer as que são levadas a cabo pela própria família e por outros membros ou grupos da sociedade que não têm uma intenção expressa de educar, quer, a que se desenvolve no quadro da educação escolar. Esta acção é rotulada como violenta, visto que se exerce uma relação de comunicação em que as inter-relações são do tipo desigual; existe uma classe ou grupo social que tem maior poder e que o utiliza para realizar uma selecção arbitrária de cultura e impô-la aos mais desfavorecidos. É importante realçar que se trata de uma selecção arbitrária que vai precisar de recorrer a uma maior ou menor coacção, uma vez que os significados que impõem não correspondem a princípios universais ou a leis físicas ou biológicas.

 Dado que estamos perante uma situação definida como a de imposição, é preciso, por isso mesmo, tratar de a dissimular. Entre as estratégias válidas para levar a cabo o trabalho de ocultação está a de deitar a mão ao conceito de «autoridade». Se a acção pedagógica quiser ter êxito na distribuição do capital cultural terá de recorrer à autoridade pedagógica. O reconhecimento da legitimidade do inculcar vai condicionar a recepção da informação nos seus destinatários, a possibilidade de transformar essa informação em formação.

 Em virtude desta autoridade pedagógica, qualquer agente ou instituição pedagógica, surge automaticamente como digno de transmitir aquilo que transmite e, portanto, fica autorizado a impor a sua recepção e a controlar o seu inculcar mediante um sistema de recompensas e sanções que goza da aprovação dessa colectividade. Mas é também preciso não esquecer em momento algum que esta autoridade pedagógica é fruto de uma delegação de autoridade; dispõe desta na qualidade de mandatária das classes ou grupos sociais cuja arbitrariedade cultural impõe.

 É desta forma que se legitima a cultura dominante e que os dominados interiorizam, lhe conferem reconhecimento e que, simultaneamente, aprendem a não conferir valor a outras formas culturais diferentes ou incompatíveis com a «legítima». Os próprios sectores sociais cuja cultura é marginalizada ou desprezada convertem-se em aliados dos seus inimigos. Tudo aquilo que não se identificar com a arbitrariedade cultural que a acção pedagógica impõe fica automaticamente excluído, vê negada a sua existência."


In Santomé, Jurjo (1995). O curriculum Oculto. Porto: Porto Editora.

publicado por Ligeia Noire às 20:20
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