Ora bem, pareceu-me ser responsabilidade minha deixar-te secar.
Pareceu-me ser da minha responsabilidade sair do tabuleiro.
Depois de tanto e de tudo descer, ir embora, assim, tão facilmente, pareceu-me absurdo.
Um dia, bem cedo, levantei-me, arranquei a raiz das minhas terras e, sobriamente, saltei para a outra margem, puxei o capuz, atei os cordões e abri caminho.
Bonito e simples.
Aprendi que da gaveta saías com facilidade.
Reparei que a superfície onde dançava era minha e que apenas tinha de a tornar mais estreita e escura.
Portanto, flor-selvagem, não faças isso, não.
Apesar de toda a facilidade com que cheguei a esta conclusão, foi preciso trilhar um caminho bastante esburacado para a conseguir agarrar com as duas mãos e sem unhas.
De todas as vezes que quis saltar, de todas as vezes que quis deixar de te regar, tu voltavas sempre e escacavas o vaso recém-colado.
Percebi que era eu quem devia jogar primeiro, percebi que o canteiro era meu.
É a última casa na floresta, talvez a encontres porque recordas o perfume ou talvez porque talhaste a madeira de que é feita mas, não batas à porta, não batas, tenho o sono tão leve... é tão pequenino e indomado este meu sono.
Demasiado leve, meu amor, demasiado leve, ao contrário do meu coração, esse é pesado e bolorento como um cogumelo dos sapos e não se coaduna com urze de meia-noite.
Vai embora, as noites ainda estão frias, leva uma vela para te alumiar os carreiros e espero que chegues a casa, um dia.
Com amor:
Dama de paus