Já é Sexta-feira e reparo que as coisas se tornam cada vez mais complicadas, como se isso fosse possível.
Pergunto-me se chegarei ao final deste ano.
Disse um adeus rápido para não prolongar conversas embaraçosas e fiquei à espera do autocarro, mais uma vez, sou abordada por um homem que me diz não me ir assaltar, sorrio e digo não o ter acusado de nada e ele retorque dizendo que as pessoas, por causa do seu aspecto, o tomam como um larápio.
Eu volto a sorrir e ele diz que vai ser sincero, está a ressacar e precisa da dose mas faltam-lhe quatro euros.
Digo-lhe que também serei sincera e que apenas tenho uma nota, ele diz que me dá troco, se eu quiser.
E eu quis e fizemos contas.
Ele não estava à espera e encosta-se ao muro, diz-me que já tentou várias vezes mas que não consegue e eu digo-lhe que imagino o quão difícil deve ser e ele pergunta de onde sou, respondo e ele diz que conhece.
Enumera algumas terras minhas vizinhas e acrescenta que trabalhou na associação x… diz que as pessoas da aldeia não são tão agressivas e arrogantes como as da cidade que, sempre que batia à porta de alguém, não lhes mentia e elas agradeciam a sinceridade, tornando-se seu conhecido.
Diz-me que foi futebolista profissional que trabalhou no estrangeiro e que ganhava bem e eu acabo a frase dele dizendo o óbvio "depois perdeste-te…" e ele assenta com um sorriso e uns olhos encovados.
Queria encorajá-lo a tentar mais uma vez mas não conseguia lembrar-me de um motivo pelo qual valesse a pena erguer-se, tudo o que lhe poderia dizer só o faria descer, ainda mais, pelo musgo.
Desejei-lhe sorte e sorri, ele prosseguiu o caminho em direcção ao sítio do costume.