“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

10
Abr 12


Não havia muito espaço na minha mochila e apenas coloquei a agenda e uma caneta, instintivamente.

Tenho de ter sempre um caderno comigo.

Sempre que escrevo em páginas brancas e transponho para aqui, nada mais sou que uma tradutora.

Há coisas que não se podem ver sem roupa.

Era de noite, não há data nem hora mas há muito sangue e preciso de o verter para que este caderno medicamentoso não fique partido.

Há uns meses, durante a noite, num quarto sacro e branco:

Nunca pensei que conseguisse fazer isto, estar tão perto de tudo e, todavia, o mais longe que poderia conseguir.

Seria suposto serem apenas os meus lábios a abrirem-se em sorrisos e não, verem-se fechados e humedecidos, por gotejamentos em torrentes cálidas.

Acho que mais uma vez preferi enganar-me a suportar o insuportável, pensei ainda existir alguém que me conhecesse.

Estou sozinha, estive sozinha desde que me lembro de estar encostada ao muro no pátio da escola primária enquanto que, uma matulona, agreste e feia… (falha de tradução).

E dizia alto e a rir que...

Acho que nunca tive tanta consciência de estar sozinha como hoje.

Não é aquela solidão de que gosto, refiro-me à velha solidão de entendimento.

A solidão de saber que ninguém existe, ninguém me sabe e abrir os olhos para isto e matar a esperança é indescritível.

Estou rodeada de estrangeiros para quem o português é língua intransponível.

Estou no quarto de... (falha de tradução) apenas um andar, coisas que se esperavam, coisas que chegaram e que agora se espalham, como vidro esmigalhado e isso faz-me ter pena de mim.

Faz-me ter pena da rapariga pequena e cheia de retalhos que pensava que quando crescesse iria ser alguém e conseguir dar (falha de tradução) e isso… ninguém sabe.

Estou neste quarto e sinto pena de mim, estou neste quarto e a ela e à amizade que lhe sinto... não sei, perco-me toda.

Tudo isto foi perdido nos ontens que só podem ser ontens e que jamais sairão de ontem.

E, penso na flor-selvagem, também, e penso que há um ano lhe disse que tinha saudades e pensei e depositei e esperei que fosse ele, o alguém aonde os meus olhos fossem desaguar, era a esperança Supremo, era essa que me tinha à espera.

Ele disse que estava comigo, que gostava muito que… mas eu tive medo e hoje são tudo rosas esfaceladas, as rosas da rainha Isabel que aqui nunca chegaram a ser pão.

E fui eu Supremo, fui eu que não quis repetir, fui eu que saí, fui eu que fugi e me escondi debaixo de pedregulhos musgosos.

Jamais pensei ter coragem para fazer o que fiz, jamais sonhei que a minha força de vontade fosse tamanha, não porque o ame mas porque era ele a minha última corda para saltar, a última esperança de me ver derrotada.

Tudo se acabou em manhãs de dias de nevoeiro e, hoje, estou aqui, neste quarto, à espera dela e da anestesia para poder descansar um pouco de todas estas pequenas agulhas que me cobrem as costas.

Debaixo dos meus olhos toda a paisagem é triste, silenciosa e impossível.


publicado por Ligeia Noire às 14:02

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