Começo por detestar tudo mais um bocadinho, principalmente os que escrevem dores a fingir mas não me fico por aqui.
Hoje é dia de continuar o ódio e odeio tudo e um mais que tudo que ficou por odiar em todos aqueles dias nos quais me esqueci de fazê-lo ou em que pratiquei a condescendência como táctica desportiva de observação.
Uma saca transparente de tomates, de um vermelho amadurecido e de um aroma silvestre.
Vermelhos, vermelho, vermelho, como pode alguém tão morto gostar tanto de algo tão não-morto?
Pedrinhas de sal, pedrinhas de sal e as pedrinhas de sal.
O vermelho quente, pulsante que me emudece, provoca-me, acredita, eu tento, eu tento e pedrinhas de sal saltam por todo o lado.
Eu gritei por ti ontem e tu não vieste, atravessei.
Sabes quando nos arrependemos no minuto seguinte de algo que fizemos no minuto anterior?
Ou melhor, o minuto era o mesmo, eu gritei e tu não atravessaste.
Ele joga-te como tabuleiro estendido, público e unidimensional.
Mas não vou falar disso hoje, parece-me uma infantilidade.
E se eu for, que lhes vou dizer?
Se lho disser, irão provavelmente abrir-me a camisa, anelar-me o braço, rodar as mãos no pescoço, anestesiar-me, vão, provavelmente, olhar e olhar e olhar e dizer que preciso fazer isto e aquilo e depois voltar e deixá-los lerem-me e roubarem-me de todo o vermelho.