I
As coisas não têm estado fáceis, acho que se coadunam com o tempo.
No entanto, devo confessar que gosto deste Maio agreste.
Há bocado, preferi nem abrir o guarda-chuva e comecei a rir, já devo ter chegado à casa da insanidade.
Gosto mesmo muito quando está de noite e a chuva bate na janela e o vento sopra e sei que lá fora está muito escuro e que há reis e rainhas, cavalos, esquilos, gatos a espreitarem em cada esquina.
Ok, chega de tolices…
II
Já muitas vezes o disse e se não fui explícita o suficiente, sê-lo-ei agora.
No outro dia, foi-me perguntado o que não gosto nas pessoas e o que não gosto nas pessoas é a pancada de bolacha-extra, detesto manias de essencialismo, detesto poleiros, aliás, sou incapaz de estar sentada numa esplanada, o que já de si é raro, se estiverem trolhas, carpinteiros ou demais obreiros nos seus postos, deve ser por toda a minha parte familiar masculina trabalhar nas obras ou, então, é porque não tenho qualidades de bolacha.
Bem, resumindo não tolero isso em ninguém, seja até em artistas que aprecie bastante, esses, que já em si mesmos vivem metidos.
Meus caros, achem-se superiores mas coloquem o manto e o ceptro longe, longe violeta.
Escumalha.
Odeio conspurcar com cisco alheio o meu caderno mas, às vezes, é necessário.
III
Descobri que tenho de me manter forte e amuralhada porque, às vezes, faço a diferença para os alguns que interessam, hoje fui a portadora de luz e fui feliz.
O que não torna as coisas mais simples, bem pelo contrário, as minhas costas dobram-se ainda mais mas se apenas as curvar no escuro do quarto, está tudo bem.
E tudo me corre como água de correr e não sei mais porque se mexem as minhas mãos, onde estou e porque estou, vou sem ir, vou sempre sem ir.
Nada me interessa?
IV
E, por último, sim já sabia que ias dizer isso, agora já está.
É por seres feito de quitina, índole discreta, nocturna e fodida, é não é?
Mas escusas de descer a culpa porque quem começou foi ele, eu apenas lhe pedi que parasse.
Tenho todo o direito de me sentir estupefacta, então ele falou como se me tivesse visto ontem, como se a ponte nunca tivesse descido!
Foda-se e quando voltei a falar com ele, quando sabia que o ia fazer, foi quase como se me estivesse a ver de cima, assim à maneira da Camilla Gibb, como se me presenciasse a saltar a margem e a não fazer nada para o impedir.
Não sei se sou fraca, se abri precedentes, não posso dizer que não quero saber porque quero mas senti-me tabuleiro aberto em dia do Sétimo Selo.
V
E depois isto junta-se àquilo e fico assim, a dizer bons-dias quando o sol vai alto, acamado nalguma nuvem por onde perdi o sentido todo.