“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

13
Mai 12


A brisa continua a transportar o som

Se calhar desaparecerei…

O rasto perder-se-á na neve

não me vais encontrar aqui


Gelo começa a formar-se

terminando o que começou.

Estou trancado na minha cabeça

com aquilo que fiz.

 

Eu sei que tentaste resgatar-me

não deixar que ninguém entrasse.

Deixado com um rasto do que foi

e do que poderia ter sido


Por favor

pega nisto

e foge para longe

longe de mim


eu estou…

manchado.

Nós os dois

nunca estivemos destinados a ser.


todos estes…

Bocados

e promessas e abandonos…


Se pelo menos eu pudesse ver

no meu

nada

tu eras tudo

tudo para mim


Ido, desvanecendo

tudo

e

tudo o que

poderia ter sido

e tudo o que poderia ter sido


Por favor

pega nisto

e foge para longe

tão longe quanto o que conseguires alcançar


eu estou

manchado

e felicidade e paz de espírito

nunca foram para mim


e todos estes

bocados

e promessas e abandonos…


se pelo menos eu pudesse ver

no meu

nada

tu eras tudo…

tudo para mim

 

Tradução livre do tema "And all that could have been" dos NIN/ Free translation of "And all that could have been" by NIN  

 

Post-Scriptum: Como tenho montes de coisas para fazer decidi não fazer nada.

Fui um pouco herética por traduzir uma das mais belas canções e letras que conheço, tentei ser fiel às palavras, (trigo limpo, farinha amparo) e também àquilo que a música é, sem tentar adicionar sentidos, sei que o senhor deixou versos ambíguos, sem sujeito definido, frases partidas e etc. e tal, propositadamente.

 Ontem, muito à noite, sentada numa cadeira de uma sala e com a janela escancarada, o calor era considerável e as pessoas continuavam a viver por debaixo da janela que abri.

Levantei-me e pousei a cabeça no parapeito e fiquei ali, um bocado, a vê-las viverem.

Crianças que corriam e gritavam constantemente, daqui para ali e depois para o antes, ciganas de cabelos impossíveis em grupos e riam e falavam enquanto os homens lavavam carros e estacionavam carrinhas.

Ele deixa uma frase propositadamente ambígua que eu acho reveladora:

Didn’t let anyone get in

Quem?

A pessoa que o tentou salvar, que tentou resguardá-lo da selva?

Ou será que foi ele mesmo que não deixou que ninguém entrasse, nem aqueles que o tentaram proteger?

Assim como:

Left with a trace of all that was and all that could have been

A vileza que é estar ali, frente a frente com o acabrunho de nós, com uma das folhas da árvore da vida, com um vislumbre do que podia, podia, podia, podia, podia mas não foi.

Lá longe, havia néones de coisas que vendiam coisas e cá perto, continuava o burburinho de pessoas que, para além de existirem, também eram.

Um gato magro, preto e branco ia atravessando tudo à procura de qualquer coisa, comida talvez, passeava-se devagar, por entre os agarrados que davam sinal codificado a brancuras ou transparências que tardavam em chegar para que pudessem ser conduzidos a uma qualquer masmorra que, outrora, se vestiu de castelo instalado nos píncaros.

Sentei-me outra vez e o barulho foi indo embora, restava apenas o gato, a terra sem erva, algumas janelas iluminadas e uma grande, uma melancolia sem tamanho que atravessava o mundo de um lado ao outro.

Era tarde mas não queria adormecer, não queria que o amanhã, que na verdade já o era, chegasse definitivamente, mas ele chegou e chega sempre e eu tenho de lhe abrir o corpo e ir com ele.

Dizer que gosto desta canção é dizer metade.

Dos meus olhos não a vejo como sendo sobre o amor, sobre o par, sobre o desgosto mas sobre o individuo, sobre a escada que erguemos e para onde subimos (não de onde mas para que), simplesmente, nos possamos avistar aos tropeções cá em baixo, sem fazermos porra nenhuma, é sobre irmos embora, irmos sempre embora.

É aquele momento em que admitimos saber que nos assemelhamos àquele puzzle velho que arrumámos há muitos anos, à pressa, num caixote qualquer.

Um dia lembrámo-nos dele e fomos, portanto, buscá-lo e reparámos que faltava uma peça: "é inútil", concluímos.

Marcado, estragado, corrompido, manchado, gosto da palavra estragado, ou melhor, gosto da sua acepção.

Estou estragada.

E acho que foi isso que vi ontem, o que poderia ter sido feito de mim, do meu carreiro, da minha vontade, do meu coração e do meu corpo.

A minha alma, como diz acima, não está guardada ou perdida cá dentro, está mesmo trancada, o som da palavra traz aloquetes, ferrolhos, correntes de aço e fundos do mar onde está o anjo fugido, sem migalhas de cinzas que nos levem até lá, para que nos salve.

Eu estou toda trancada, não no azul-escuro de águas silentes de juncais mas, como não poderia deixar de ser, numa qualquer caverna de uma particular floresta negra, os meus passos foram cobertos pela neve que eu quis que caísse porque cai sempre, cai continuamente, cai hoje porque caiu ontem e cai, cai, cai porque é de sua intenção cair.


publicado por Ligeia Noire às 14:50

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