“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

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Jun 12


She ain't no princess, ain't no angel, ain't no little fairy

She believed she was special, sweet little Mary

She feels betrayed, she feels deceived, oh sweet little Mary

 

Às vezes, acho que vou conseguir chorar e fico de olhos escancarados a noite toda.

Descobri que, bem de manhã, também se revela uma boa hora para escrever, na verdade, é como se ainda

fosse o dia anterior.

Ainda cheiro a noite.

Estou rodeada de mentirosos, enganadores, se pudesse voltar na primeira bifurcação do carreiro não teria

escolhido o bolo de chocolate, as cerejas eram tão vermelhas…

O sangue é vida.

Ah!

Sempre a querer ser a menina bem penteada, a que dobra os lenços em três partes, a que 0,7… bem, paremos.

Há algo de doentio nisto, há algo de profundamente degenerado nesta vontade doce.

Tão ridículo quanto andar vestida de linho virginal pelo meio de corpos pejados de pústulas e brotando pús.

Estou rodeada de pessoas que me rogam pragas nas costas, pessoas que me execram, me maldizem, me mentem de si e para si mas que continuam a abrir a boca cálida de ludíbrios, em sorrisos.

Sinto-lhes a descrença, cheiro-lhes a vergasta a desferir bastonadas nas minhas costas que se desfazem em

azeitonas de azeviche:

o meu desprimor para com a sua gentileza.

Há os que vejo e os que se ocultam.

E ambos repugno.

Ambos se questionam por que ainda sorrio, ambos gostavam de ter tido metade da vontade do meu silêncio,

metade do escarlate que amo, ambos param para pensar e gostavam de ter estado calados.

Só quem vencedor já se julga, ao subir a escadaria, jamais lhe encontra o último degrau.

Se vos achais vencedores, perfeitos por graça e natureza, para quê a escada?

Não subais, o Inferno é para baixo.

Sois tão feios.

Continuo aqui, se doente me reconheço neste receptáculo, por certo, não foi a vosso ditame.

Foi tarde que cheguei no ontem que já era hoje, foi no ontem que frente a uma qualquer capela a roupa negra

e o cabelo caído colhiam chuva de nevoeiro acelerado.

Se pudesse não prosseguir aquele carreiro, se pudesse não ter dito, não ter trazido baldes de lodo comigo.

No passado fazia sentido, agora, não sei porque o continuo a fazer, agora, hoje, nesta manhã, sei que é

apenas por pura mecanização, já não há qualquer desejo, é apenas por não conseguir vislumbrar qualquer

vulto lá ao fundo.

Aliás, há alguma coisa, há desprezo e letargia, é por isso que sinto raiva de mim, outrora quando era o

mistério e a paixão que me moviam, toda eu me aurorava nenúfar de flor branca no lago, bicho-da-seda em

noite de Agosto.

As pessoas de braços e pernas que couberam nestas pobres linhas…

A Maria quer sentir-se melhor, deixem-na rabiscar, deixem-na abrir a blusa.

Já agora, elas e um ou dois eles, não percebiam porque se tinha a rapariga-que-tem-nome prendido, porque

tinha ela aquelas mãos duras e agrestes ao redor de tão fina cintura mas eu percebi-a bem, tão inteligente

foste rapariga-que-tem-nome, eu deveria ter feito o mesmo.

Sempre me disseste que preferias ser amada, a amar, a segurança e os alicerces são sim, o mais importante.

Tenho-te saudades e cada vez te contemplo mais a formosura.

Ainda não é hoje que falo do medo, ainda não consigo falar da tesoura que vai cortar o laço, ainda não quero

falar da asfixia que o saco de negro industrial vai provocar.

Ainda tenho tanto sono.

Esta semana sonhei com coisas muito feias, já não me recordo bem mas havia uma grande extensão de água,

como um mar particular no cimo de uma fábrica abandonada, cheio de coisas podres e infectas que, de quando

em vez, emergiam.

Acho que no dia anterior voltei a sonhar com aquele edifício grande de escadas íngremes, tem espelhos e tem

pessoas e eu tenho medo de cair, em todos os meus sonhos eu tenho muito medo, já não pairo há muito

tempo.

Estou rodeada de pessoas que mentem e eu sei.

Já descobriram a partícula de Deus?

publicado por Ligeia Noire às 12:49

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