Preciso de escrever, tenho de escrever quando chegar ao escuro do meu quarto e quando todos os cérebros estiverem do outro lado.
Aqui o eu é e está.
Tic-tac
Não pude escrever, a dor de cabeça só passou com rodelas de coma white.
Hoje sinto aquela frustração de que falam os músicos, tenho tudo aqui dentro e não sei como fazer a trasfega para esta folha branca…
Como já me passaram as vontades de ser florista e nutricionista, há muito tempo que o meu almejo é o de
andar daqui para ali a enrolar fios e cabos de uma banda em concerto, ser simplesmente necessária sem
existir, nunca estar no mesmo sítio demasiado tempo, mover-me constantemente para que não possa ser nem
existir, como nas viagens de autocarro, não estou em lugar algum, o por acontecer.
Tenho um imenso bouquet de hidrângeas de azul arroxeado, que abalroam o amarelo de três ou quatro dálias, no quarto.
Enquanto lá estava e arrumava os vestígios que não eram meus, não senti qualquer nostalgia, na verdade só
queria ir embora. Toda eu era nada de pensar e de sentir, a bolsa não me pesava e o coração nem lá estava, acordou apenas o miolo do crânio para buscar a metamorfose.
Havia nas minhas mãos desejos de a levar para casa, nunca a li, tenho um grave problema, ou melhor, a minha lavra trouxe-me o grave problema de ler tudo fora de tempo.
Ora, quando estivermos a sós, espero ainda conseguir mergulha-la.
Foi o homem de tranças loiras e malmequer branco numa delas, que um dia me leu páginas da dita, sentado
num banco de madeira.
E sim, aqui não estou a traduzir, metamorfosear ou metaforizar nada, é o literal das letras juntas.
Hoje, para além da ansiedade da trasfega, também sinto a alegria do negro.
O privilégio de ter conhecido alguns valetes bifurcados, damas de corações e demais personagens a que dou
valor quando estou pelo meio de versões relvadas da humanidade.
Depois de andar a fugir a manhã do jovem cavalheiro que conheço de obrigatoriedades sociais e a quem já não
quero roubar o sustentáculo, as minhas sete partes de limão tornaram-se dobradas em negatividades de
açúcar.
E, de um momento para o outro, vi-me moderna aia de domino e olhos opacos.
Haverá dias em que o terei de ser para coleccionar o vil metal que aos meus olhos brilha como o sol que evito.
E para ti minha cara, o sumo de tomate não era bom mas para não te provar a razão bebi-o como se de
nectarinas das Terras Brancas se tratassem.
E sim, eu gasto dinheiro em tabletes de chocolate, as inutilidades dizes tu.
Ainda não entendeste, nem nunca vais entender que prezo o poder do dinheiro, não o dito em si, nunca fui de
o armazenar, bolas, não te gosto.
Ah Deus... que cansativo será ter de fingir horas diurnas de sono roubado a escutar o que não ouço, o ruído da
inutilidade.
Os quadradinhos de chocolate versus o ruído que expeles: salvação quadrilátera.
Шлем ужасa Cavaleiro-das-Terras-Brancas, está quase aqui, em cima da cómoda, por debaixo do molho de
hidrângeas que se calhar já terão secado quando o acariciar com os meus dedos de unhas.
Devia ter ido, eu sei, mas havia tantas cordas atadas nos pulsos e nos tornozelos... até no pescoço!
Eu não sou uma pessoa má.
Sim, isto é mil novecentos e oitenta e quatro e é por isso que as rosas vermelhas se proliferam como aradeira
pelas paredes amuralhadas dos meus dois lados, mitigam as ruas ao sol para que não lhes veja nada mais do
que uma massa informe de podridão.
Eu sou uma pessoa amuralhada.