Ninguém tira o pecado do mundo.
Ontem, ao finalmente terminar de ler O Castelo de Otranto, senti-me como a Hipólita, uma idiota que se conforma com a idiotia que lhe puserem no prato porque gosta da onda de prazer que lhe advém da martirização.
-Minha cara, acho por bem fatiarmos-lhe os dois braços porque Looks like it's gonna be another one of those rainy days again...
E, sem gastar a balança ou lhe usar os pratos já sabe de antemão que o melhor é conformar-se.
Sem meter pés ao caminho, já lhe fareja a inutilidade.
Há um esconderijo muito escondido cá dentro e enquanto o mantiver jamais conseguirei sentir-me toda limpa.
Não estava à espera desta carta, palavras desenhadas como as desenharia o Cavaleiro-das-Terras-Brancas que o cavalheiro é.
Todavia, enquanto os meus olhos ainda ensonados iam descendo pelas linhas ornadas de traços fortes e precisos via-me virgem casta cada vez mais elevada, tão elevada me mantém, que acho nem ele mesmo me conseguir tocar.
Não gosto, eu não fico bem de branco, nem de diadema mas partilho-te das saudades, meu querido.
Ainda não consegui perceber qual de mim vê ele…
Tenho por certo, que nenhuma das quatro merece tamanhos e tão longos afectos.
Ah, é verdade, a flor-selvagem secou.
Sempre soube que o que lhe devotava era uma forçada vontade de me ver enamorada e, não fui assim tão desventurada, consegui uma paixão menina na sua orla mas bravia no miolo.
Tomei-lhe a boca e o corpo e as mãos nas pálpebras, desenhei mesuras e sofrimentos, enlacei-lhe fitas rosa nos pulsos.
Foram demasiados anos de inutilidades pequenas e beijos sôfregos.
Chorei-lhe algumas lágrimas, minto, muitas.
Era necessário que toda eu me acreditasse na devoção que pensei conseguir cultivar, para que ao estádio de fruto chegasse mas dou-me conta de que o caixão onde me acho continua com espaço apenas para mim e para o meu cabelo enlaçado.
Ainda há duas ou três contas de rosário negro de vidro para desfiar mas preciso voltar para dormir.
For in the back of my mind I always thought I'd find my way to paradise