Não conseguia distinguir muito bem os rostos que se sentavam à frente, seria noite portanto.
Madrugada não, de madrugada voltámos nós: eu, a rapariga-que-tem-nome, o rapaz de óculos e o meu ex-namorado.
A estrada ia-se deixando usar, devagar, e o ponto b era a escadaria à luz da lua.
I’m not living I’m just killing time.
E, na viagem, o rapaz de óculos colocou a creep que, naquela altura, era o muito que eu conhecia desses senhores, embora, esta fosse a versão que consta no My Iron Lung, faixa oito e nem preciso de utilizar o Google para saber que estou certa, a acústica… só a voz e a guitarra… o que é que aconteceu?
Pedimos que voltasse a pôr e voltasse e voltasse até o rapaz do resgate de rapunzeis referir algo sobre o enfado…
Provavelmente chegámos ao destino e, acho que consigo desfechar sobre mim a memória da cidade lá ao fundo, a noite dava a ideia de existir um mar de chumbo a envolver-lhe as extremidades, nós sentados nas escadas… não, não estávamos sentados, já me lembro, estava frio, estava vento, a rapariga-que-tem-nome ficou na escadaria com o rapaz dos óculos e eu estava na muralha, tentando com muita força ser uma donzela enamorada mas perdida ainda nas muitas coisas pequeninas que se aninhavam lá ao fundo.
Na verdade, eu queria estar com ela e ressuscitar a nossa tradição de, em momentos de pressão inabalável, ir a um sítio abandonado e escuro gritar a plenos pulmões.
Fazíamos, sim isso.
Gritávamos numa ponte por cima de uma auto-estrada que levava os muitos carros, carrinhas e camiões para a cidade do nevoeiro.
Voltando à escadaria, foi bonito, sim mas acho que o resgatador de rapunzeis não gostou muito da minha afinidade com o rapaz de óculos tocador de guitarra e degustador de música que não envolvia a usual movimentação compassada de cabelos que existem ou não.
Não gostou de que eu não fosse a usual rapariga que gosta das usuais músicas daquela usual tribo.
Quão cómico será dizer isto hoje, numa época em que a creep é considerada um erro (ai as pessoas analíticas) mas os erros deram frutos e os frutos sementes ou as sementes frutos.
E perguntei ao amigo se tinha mais alguma coisa da banda e ele disse que tinha tudo e mais alguma coisa.
E foram dias até ter tudo o que ele tinha e, literalmente, ter passado semanas, meses mergulhada naquelas canções…
Não era uma época muito tranquila, se te disser que estava triste, provavelmente irá soar a eufemismo.
Ter descoberto estes senhores, naquela altura, foi doentio e fez-me muito mal, tão mal que depois de meses mergulhada no negrume de carvões tive de deixar de os ouvir.
Como disse a menina ontem, são as depressivas que gosto mais.
Em raros, raríssimos momentos volto a limpar-lhes o pó, não são nem de perto nem de longe o meu cardápio mensal mas andam por aqui como se soubessem de uma espécie de segredo.
Se espera ou não, ainda não sei, ainda não passei a fase da existência.
Às vezes, pergunto-me como podem eles tocar sem desatarem a chorar…
Hoje estou com um vestido cor-de-rosa com o qual poderia dizer-te you and whose army?
Pois não chegues perto.
In pitch dark
I go walking in your landscape
Broken branches
Trip me as I speak
Just 'cause you feel it
Doesn't mean it's there
Just 'cause you feel it
Doesn't mean it's there
There's always a siren
Singing you to shipwreck
(Don't reach out, don't reach out
Don't reach out, don't reach out)
Steer away from each rocks
We'd be a walking disaster
(Don't reach out, don't reach out
Don't reach out, don't reach out)
Just 'cause you feel it
Doesn't mean it's there
(Someone on your shoulder
Someone on your shoulder)
Just 'cause you feel it
Doesn't mean it's there
(Someone on your shoulder
Someone on your shoulder)
There there!
Why so green and lonely?
Lonely, lonely?
Heaven sent you to me
To me, to me?
We are accidents waiting
Waiting to happen
We are accidents waiting
Waiting to happen
There there by Radiohead/Tema da autoria de Radiohead
E grandes rodas faz este vestido, de olhos que também olham como se soubessem de segredos.