“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

20
Set 12


Não há, não há um céu assim, deves estar por aí Supremo, no abismo ao contrário que é isso aí para cima.

No outro dia ouvi um fotógrafo dizer que a fotografia permite tocar naquele espaço, aquele espaço sem linhas que fica entre duas almas, aquele espaço sem palavras, o espaço em que se estão a cruzar… entidades, talvez.

Olhos, sim, pois, há os olhos e há as mãos também mas há algo de diferente, há o espaço que antecede e sucede o tempo e nem é bem espaço é… não sei… o que está no meio, no por acontecer ou na simbiose do acontecendo, há essa feitiçaria daninha aqui e agora mas não sei de fotografia e não quero nada mais do que este firmamento cheio de noite onde tudo mora de eterno a eterno, sempre.

É aqui, assim como me descontinuo, que me abro para o que sou, o que quero e o que o silêncio de pedras de quartzo incolor significa para mim.

Não há esperança mas há isto e isto é e sempre será mesmo que eu não seja.

Ainda não é muito de noite mas um céu assim, ainda em botão, com todos aqueles bocadinhos luminosos a que chamamos estrelas, e que podem muito bem ser olhos, faz-nos pensar em nada e em tudo sem distinção e ao mesmo tempo.

É o apogeu do absurdo, faz-nos querer que a noite não adormeça de sol, faz-nos dosear os olhares perdidos que deixamos cair para tomar atenção a conversas que se marulham sem ondas.

É tudo mau, pois com certeza mas o céu estrelado e a noite assim tão de amor, tão puros e sapientes, tão unos a este espaço que os cinge, não deixam de ser o príncipe vestido de cetim azul funéreo e a mulher de negro, a quem estrelas, provavelmente já mortas, ofertam mil beijos estilhaçados.

Com um céu assim, seria capaz de me apaixonar para poder ter combustível capaz de me elevar às suas vestes compridas, onde ofertaria carícias com as pontas dos dedos das duas mãos estendidas e bem abertas.

É tudo mau, pois sim mas aqui, assim, quietinha e adocicada é quase como se me conseguisse lembrar do segredo para voltar, da verdade única, do existir sendo ou do voltar para ser sem existir.

São tantas as estrelas, são mesmo muitas e as árvores são muitas também e o cão deita-se debaixo delas e o pequenino, de orelhas pequeninas, procura os gatos que estão a saltar da mesa… além.

É por saber que isto é tudo menos idílico que aprecio o seu valor e repenso em não pôr um pé à frente do outro.

Talvez seja esta a sensação de estar sozinho com o mar, o mar selvagem de terras gélidas de que falam os que moldam os sons e as palavras ao seu choro de dentro.

Escrevo a ouvir Alcest, é como beber, é como beber a fada verde sem parar para querer pôr um pé e depois o outro.

E era o meu corpo que dava se pudesse fazer da minha vida este momento entre o que aqui está dentro e este céu caiado de estilhaços de muitos olhos mortos.

publicado por Ligeia Noire às 10:17
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