“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

26
Out 12


Just freedom is only a hallucination

That waits at the edge of the distant horizon

And we are all strangers in global illusion

Wanting and needing impossible heaven


Chasing the dream as they swim out to sea

The mirage ahead says that they can be free

Become lost in delusion drowning their reason

Swept on by the current of selfish ambition

 

Frightened ashamed and afraid of the blame

The questions are screaming the answers are hiding

The sickness is growing distracted condition

You can feel the disgust and smell the confusion

 

Lying insane getting soaked in the rain

Draining the sky of the guilt and the shame

The nightmare is coming the clouds are descending

Pulled under two thousand metres a second

 

Clawing at walls that just slip through my fingers

Darkness consuming collapsing and breaking

Distilled paranoia seeped into the walls

And filled in the cracks with the whispering calls

 

Shadows are forming take heed of the warnings

Creeping around at four in the morning

Lie to myself start a brand new beginning

But I'm losing my time in this fear of living

 

Freedom is only a hallucination

That waits at the edge of the places you go when you dream

Deep in the reason betrayal of feeling

The mistakes that I made tore my conscience apart at the seems

 

Freedom is only a hallucination

That waits at the edge of the places you go when you dream...

 

Freedom is only a hallucination

That waits at the edge of the places you go when you dream


Deep in the reason betrayal of feeling

The mistakes that I made tore my conscience apart at the seems

 

Freedom is only a hallucination

That waits at the edge of the places you go when you dream...


Letra dos Anathema/Lyrics by Anathema 

publicado por Ligeia Noire às 12:06
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25
Out 12

 

(…)

-What's vampires?

-They're not very nice. They bite your neck, and drink your blood. Stuff like that.

Not very sociable.

- What do they do that for, Pa?

- Because if they don't, they get old.

They do it to stay young.

Then the people whose blood they drunk, well, they get old... and then they die.

And during the day, they sleep in a coffin... and at night they turn into a bat.

If they feel so inclined.

(…)

-Did your father ever touch you anywhere?

-Yeah.

-Where?

-In the kitchen.

-Anywhere else?

-Anyplace outside the kitchen?

(…)

-Why don't you go play with your friends? 

-They're all dead. 


Post Scriptum: Apaixonada por este filme.

Um filme de vampiros sem vampiros.

publicado por Ligeia Noire às 11:10
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22
Out 12

 

I

 

One, two, three do you love me?

Watch me scream, burning on the trees in amazement

 

Uma espécie de sarça ardente, gosto que não queimes as plantas, prezo tudo o que não fala.

Bem, não sei se estava lá, na verdade, nem sei o porquê da minha indolência… talvez me faltasse sal nas veias.

Mas aonde vais?

Espera, eu tenho tudo p'ra aqui escrito nalgum sítio, do resto falarei depois.

Se calhar estou zangada porque não consegui comparecer dentro de mim e olvidar as cercanias.

Ora bem, nem sempre pode a ovelhinha saltar lá para dentro.

Acho que foi o tudo que os meus olhos filmaram em: Slo-mo-tion até ali, que me barrou de saltar para terrenos pantanosos.

Talvez com umas gotas de zimbro conseguisse diluir o algodão que me prendia as pernas, lá está a Justine a

aflorar-me à cabeça, no seu vestido contraproducente de felicidade para sempre onde desmente e finge o que sente, assim penso ter-me sentido, com coisas na garganta que não me deixavam engolir e raízes nos pés, que pelas pernas se ramificando, não me deixavam caminhar.

 

II


Pareceria ridículo se dissesse quem é, na verdade, todas estas páginas estão pejadas de nomes, moradas, idades, traços faciais, linhas de coser…

Se ler cada uma delas, é como se me pegasse pela mão e me deixasse sentada no meio do exacto momento do que ali se fala.

Começou sem entendimento, tornou-se no cinzeiro que nunca é limpo.

Há três cancões dos Nadja:


You write your name in my skin

You write your name in my head

You write my name in your blood

 

É isto que faço aqui.

III

 

Sempre achei uma tolice a cena das musas, estás a ver assim tipo as Tágides, pois, afinal era eu a néscia, é

tão ou mais importante do que a dor, a tal esquisitice.

É o segredo bonito que pára de crescer se contado.

Hoje reparo, sem querer, que estou a cair aos bocados, que com a minha dignidade e orgulho cinzelarei a lápide que me cobrirá, se dinheiro houver para a atarracar em cima de mim, uma espécie de autopergamene.

E não me arrependo, embora devesse.

Hoje experimentei a dor que dói duas vezes, usei a domino... (ri comigo Supremo) experimentei, disse eu,

pois… não experimentei, eu, eu estava de pé, frente à causa e dentro de mim andava-me até à gaveta e

pegava nela, colocava-a nos olhos, para que não fosse muito eu que estivesse ali.

 

IV


Limpei a alma da culpa mastigada daquele Domingo, lembras-te?

Estou sempre a perguntar se te lembras…

Fui desabada pelas costas, cervejas verdes acumulavam-se na mesa de pedra escura da cozinha.

Mas eu estava, já, do outro lado, chão branco, gaveta última aberta, toda, quando a rapariga-que-tem-nome e a de cabelos de trigo abriram a porta.

Fui com a segunda para a taberna do senhor de barbas.

Nesse dia eu era como o buraco negro dos Bizarra.

Coisa sem jeito, roupa feita só do avesso.

Nunca meu amigo, nunca me havia sido inculcado tamanho golpe.

E por o apreço ser tanto e a fuga tão inelutável, ainda hoje trazia os espigões metidos até às partes moles da alma.

É tempo e faz-se urgente deixar crescer as unhas para os ir buscar lá dentro e desapegá-los da sua comensalidade, esmagando-os neste cinzeiro.

Afinal o meu amor sempre foi maior do que o lado de lá dos olhos.

Afinal tínhamos oceanos mortos no – entre nós-

Por querer guardar os olhos para florirem incautos à tua Primavera, recebi de peito desabrochado e de rosto corado o derradeiro golpe.

Incrédula, raivosa, seivada, descendo para agressiva, em estado negativo chego à hipocrisia, viscosa culmino nesta gaveta aberta sem a domino lá fechada.

publicado por Ligeia Noire às 11:54
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16
Out 12


Sabes, sinto-me como a Justine quando se deu conta de que o Melancolia ia destruir a Terra, confortada,

calma, entendida, preparada para a liberdade quando leio Bukowski.

Gosto da palavra melancolia, gosto das letras que a compõem, gosto do som, do significado, da música que

expele…

Revi o filme, como é claro para ti, não sei se fale agora dele, se o misture com o que queria dizer, se mencione o que é importante ou se me cale.

Mas só vejo a Justine no seu vestido branco de devaneio, de felicidade para sempre, de véu incauto e ramo de

pureza, as mamas abastadas e os olhos doentes, se pensar no filme é esta a imagem que me perpassa pelas

pálpebras fechadas, um mundo lá em baixo, com pessoas e mesas e coisas a acontecerem e esta rapariga branca a caminhar perdida pelo labirinto, até perder o vestido, as flores e se sentar a um canto sem querer mais levantar-se.


Pain is strange.

A cat killing a bird, a car accident, a fire.... Pain arrives, BANG, and there it is, it sits on you.

It's real.

And to anybody watching, you look foolish.

Like you've suddenly become an idiot.

There's no cure for it unless you know somebody who understands how you feel, and knows how to help.


(Charles Bukowski)


Haveria tantas coisas lineares para serem ditas.

Direi algumas.

A primeira vez que vi o filme achei que seria uma perda de tempo, um aborrecimento intelectual de menino

riquinho que não sabe o que é ter fome e não ter tempo ou dinheiro para depressões e, na realidade, a

primeira parte não deixou de me causar sarna.


It was true that I didn’t have much ambition, but there ought to be a place for people without ambition, mean a better place than the one usually reserved. How in the hell could a man enjoy being awakened at 6:30 a.m. by an alarm clock, leap out of bed, dress, force-feed, shit, piss, brush teeth and hair, and fight traffic to

get to a place where essentially you made lots of money for somebody else and were asked to be grateful for

the opportunity to do so? (Charles Bukowski)


Afinal por que raio está a Justine tão deprimida?

Talvez a Claire tivesse maiores motivos para não querer acordar, talvez a Claire me assustasse mais enquanto

a Justine me inspirasse compaixão.

Se te iniciares no filme sem nenhum tipo de informação, exceptuando o prólogo, o que vês para além da

limousine com os noivos?

Não me parece felicidade mascarada, parece-me riso genuíno e vontade de seguir, há pois o simbolismo da

grande máquina branca que não consegue avançar naquele carreiro curvilíneo, a metáfora da manifesta

aberração, do elefante na loja de cristais, diria.

Mas sem saberes nada mais, não podes dizer que ela esteja a fingir sorrisos… apenas com o decorrer da festa

te vais apercebendo do miolo e mesmo depois do miolo percebido a felicidade inicial continua a afigurar-se

genuína, talvez indicando que é a intrusão do externo, da família e das concupiscências sociais a causa da melancolia, do cansaço.

Bem, mas ia dizendo que a Justine é uma privilegiada, dá-se ao luxo de fretar uma festa milionária, de se

armar em presunçosa e, mesmo depois do atraso imenso, ir visitar o cavalo.

Diria qualquer um que, estando a doença já num estádio de severidade ou mesmo de catatonia, nada interessa.

O cunhado é descrito como o sovina e materialista do pedaço mas, na verdade, seria um pouco chato gastar

tanto dinheiro e ver a princesinha passarinhando com ar de frete e de obrigação, ora pois, dissesse que não.

A Justine pode dar-se ao luxo de não querer comer, vestir-se ou sequer andar e tem a irmã a cuidar dela, a servir-lhe de gradeamento berçal, Claire que se me afigura tão ou mais deprimida que Justine, não pode e não tem.

Claire é descrita como agarrada às convenções sociais e quejandos mas o que vejo é uma mulher que também

não as suporta, que não tem alternativa, que atura todas as situações e que não tem quem olhe para dentro dela, já Justine dá-se ao luxo de desprezar e de se rebelar contra o que acha ser a ambição desmedida do chefe, a frieza da mãe, a desatenção e irresponsabilidade do pai, dá-se ao luxo de poder não fingir, de cair e ficar caída.

O difícil não é cair, chorar, não se mexer, largar a mão da sacada, difícil é ficarmos agarrados, chorar sem

provas, ficarmos quietinhos e termos de engolir em seco e calçar os sapatos.


I was naturally a loner, content just to live with a woman, eat with her, sleep with her, walk down the street

with her. I didn't want conversation, or to go anywhere except the racetrack or the boxing matches. I didn't

understand TV. I felt foolish paying money to go into a movie theatre and sit with other people to share their

emotions. Parties sickened me. I hated the game-playing, the dirty play, the flirting, the amateur drunks, the

bores. (Charles Bukowski)


Mas eu não detesto a Justine, eu gosto da Justine, eu não sei por que está a Justine doente, isto é, mais do que as pistas que são dadas mas posso usar de muitas miradas e escolher as que quiser e as que escolhi foram as induzidas pelo argumento, um pai que se desresponsabiliza de ser pai (a tal treta de se ser adolescente para sempre) ora bem se se quer continuar a foder, beber, dançar, sair sem dar um ai aos que ficam, então não cases e não procries, sempre fui apologista da salvação na destruição mas individual, sempre, sem danos colaterais porque senão perde toda a validade.

Uma mãe que se mostra intencionalmente fria, dorida e fracassada.

Em suma, o que aconteceu a esta mãe, é o que acontece a todas as meninas que são amamentadas a sonhos românticos, a positivismos de alcofas e a linearidades de percurso, isto é, descobrem que tudo é uma treta e levam com dez doses de realidade de uma vez, ao invés de optarem pelo doseamento controlado.

Ela não foi dura com a filha, ela disse-lhe a verdade.

Esta nossa Justine de vestido branco e mamas espartilhadas trabalha na publicidade, no meio da venda, do envenenamento… cá para mim estando ao lado de um pai que não é pai e de uma mãe de peito seco, juntou-se-lhe a vivência no meio do mundo fabricado onde se enfia garganta abaixo a legitimidade do oco, do pueril, as convenções sociais e boom…


There's nothing to mourn about death any more than there is to mourn about the growing of a flower. What is

terrible is not death but the lives people live or don't live up until their death. They don't honor their own

lives, they piss on their lives. They shit them away. Dumb fuckers. They concentrate too much on fucking,

movies, money, family, fucking. Their minds are full of cotton. They swallow God without thinking, they

swallow country without thinking. Soon they forget how to think, they let others think for them. Their brains

are stuffed with cotton. They look ugly, they talk ugly, they walk ugly. Play them the great music of the

centuries and they can't hear it. Most people's deaths are a sham. There's nothing left to die.

(Charles Bukowski)


Ao lado das suspeições há o factual ódio que ela nutre pelo chefe que se pavoneia como um ser evidente e ambicioso.

Nothing, is too much for you diz-lhe Justine…

E ele desmorona-se desesperado e sai da imagem que faz de si, parte o copo. Será que também ele quis ser um homem ambicioso e materialista?

Será que o Mundo lhe deu o luxo de poder dizer não e continuar a alimentá-lo?

E o noivo?

O noivo faz-me lembrar os príncipes que se vêem a si mesmos como príncipes e, por tal, sentem a

necessidade intrínseca de ter uma princesa que nem sequer conhecem, querem que ela se deixe arrebatar, que sinta o amor dos trovadores e seja a Rapunzel resgatada.


Love is a form of prejudice.

You love what you need, you love what makes you feel good, you love what is convenient.

How can you say you love one person when there are ten thousand people in the world that you would love more if you ever met them?

But you'll never meet them.

All right, so we do the best we can.

Granted.

But we must still realize that love is just the result of a chance encounter.

Most people make too much of it.

On these grounds a good fuck is not to be entirely scorned but that's the result of a chance meeting too. You're damned right.

Drink up.

We'll have another. (Charles Bukowski)

 

Ele pensa que a ama, ele ama-a mas o amor não existe.

Ela quer esquecer a dor, ela quer agradar à irmã, ela quer tentar ser feliz: enganar-se... e quando lhe leva a mão pelo vestido e o provoca e sorri matreiramente e sai e mais tarde não lhe cede à vontade de a possuir acabando por foder com o rapaz que conheceu à instantes no relvado, faz-me lembrar do gajo do Shame.

A primeira incursão, a masturbação, foi o uso do escapismo -o mesmo que se faz com a droga, o álcool e os

demais prazeres- vontade de fuga, por instantes, da dor, da realidade, a segunda foi o castigo.

 

And my own affairs were as bad, as dismal, as the day I had been born. The only difference was that now I

could drink now and then, though never often enough. Drink was the only thing that kept a man from feeling

forever stunned and useless. Everything else just kept picking and picking, hacking away and nothing was

interesting, nothing. The people were restrictive and careful, all alike and I've got to live with these fuckers

for the rest of my life, I thought.

God, they all had assholes and sexual organs and their mouths and their armpits. They shit and they chattered and they were dull as horse dung. The girls looked good from a distance, the sun shining through their dresses, their hair. But get up close and listen to their minds running out of their mouths, you felt like digging in under a hill and hiding out with a tommy-gun. I would certainly never be able to be happy, to get married, I could never have children. Hell, I couldn't even get a job as a dishwasher. (Charles Bukowski)

 

Este homem, agora marido,estava ali, atraente, provavelmente bom partido, amava-a mas não a entendia, nem a atingia, ele amava algo que ela não sabia ser.

Ela, na sua desvontade, na descrença nessa convenção social que é o amor, sente-se culpada, diferente, tudo isto lhe é tão sagaz que o nojo de si mesma, a impureza que sente em si lhe traz a vontade de castigo e castiga-se ao oferecer o corpo ao primeiro que lhe aparece, como se não conseguisse optar pelo caminho correcto, como se precisasse de se danificar, de descer mais.

Talvez fale da segunda parte noutro dia mas deixa-me dizer-te que não me parece que a descoberta do

Melancolia tenha invertido os papéis das irmãs, como se de repente a Justine ficasse curada, parece-me, antes

que vendo a iminência do final do Mundo, deste Mundo donde ela não vê saída, que ela detesta, cheio de maldade, às avessas, é como se visse a luz ao fundo do túnel.

Sente-se em casa neste território de desesperança com o qual sente empatia, reconhecimento, alívio.

Finalmente tudo vai parar: paz.


I was drawn to all the wrong things: I liked to drink, I was lazy, I didn't have a god, politics, ideas, ideals. I

was settled into nothingness; a kind of non-being, and I accepted it. I didn't make for an interesting person. I

didn't want to be interesting, it was too hard. What I really wanted was only a soft, hazy space to live in, and

to be left alone. (Charles Bukowski)


publicado por Ligeia Noire às 11:41
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10
Out 12


Prólogo


Não se preocupem crias malnascidas que vossas mercês caberão todas por aqui, é só o tempo de deixar que a música, a minha mais abonada musa, me conceda sangue líquido.


O reino de dentro: parte I


Há que iniciar olhando para mim, nunca para o alheio porque eu sou eu e os outros são esterco, ora aí está o que lhes havia de dizer todos os dias. A ânsia de ter de escrever e não poder, não ter tempo ou espaço fez com que tudo se aglomerasse: cordões, meias e sapatos.

Eu sei o que fazer comigo, não sei o que fazer é com os outros, os mirones.

Estou muito cansada, o meu corpo está muito cansado, a minha cabeça não, a minha cabeça não dói, ao contrário do que disse ontem e anteontem e antes de anteontem. Não foi bem mentir… ela doía de maneira diferente, doía de os ouvir mas já arranjei contendas suficientes para um fim-de-semana, tenho de controlar a violência e abonar a hipocrisia, ó coisa tão boa, se soubessem que é isso que os outros querem, ser enganados, elaborados no desenho, ninguém quer saber de verdades, as verdades são tão verdade não é?

Ó que coisa feia e imunda saber agora de verdades, ainda por cima dessa boca que não fala coisas iguais às outras bocas, dessa garota arrogante e com fundações no início do Inferno, lá na primeira caleira.

E que feia que ela é, e como queríamos saber o que está dentro daqueles olhos e daquele rosto opaco quando ela olha e não fala e quando fala mas nada diz do que lá está enterrado.

 

O estábulo

 

Lembras-te do gajo de cabelos loiros, aquele das indumentárias de régua e esquadro que eu via na…?

Nunca mais o avistei mas encontrei um que se lhe assemelha em tudo... mas no nosso espaço cruzado só têm existido olhos, às vezes não sei se o quero desossar ou comer sem condimento algum.

Detesto as conversas deles, os rostos deles, a forma como lançam os olhos da janela, aquilo que pensam conhecer de mim.

Se calhar, isto que pensei quando estava cheia de entremeadas e dores de alma, não foi uma boa ideia.

Não sei de quem tenho pena, se de mim por não os entender, se por eles… pelo que têm de desarmar.

Não é soberbia de personalidade superior, é curiosidade e até mesmo tristeza por não me conseguir moldar ao seu mundo, ao seu campo de visão, é como se estivéssemos na Alemanha do muro, na China da muralha, na cama entorpecida do casal desaparelhado.

Vivo neste interregno de não encontrar o meu povo e de não me conseguir ajustar ao de outrem.

Vivo a vida comezinha com um vestido que não me serve, desconfortável.

Há vezes em que me asseguro de que não haverá esse encontro com o meu povo e há, também, as outras vezes, aquelas em que acho não me saber consignar aos demais e, mesmo que não possa ser aquela eu, aquela que sou em completude, posso viver as outras três, as que me são em parte.

Que pena que essa bacoquice do amor não existe, se existisse apaixonava-me por ele e punha os meus pézitos em sabrinas e percorria todo o carreiro até me conseguir servir numa travessa prateada rodeada por uvas fresquinhas.

 

O reino dos outros 

 

Não é que eu estivesse enganada, não é que eu tivesse acreditado, não é que eu tivesse dado vinte e dois dias constitucionais de repouso à negritude, sempre estive na quitina de um caranguejo vermelho: recua, avança, ui recua e recua ao quadrado.

Confesso, no entanto, que sabia assaz bem crer que ele era um tipo inteligente, que sabia da natureza vitral do mundo, do desengano, da imundície nos olhos dos outros, no prazer pelo prazer e na lealdade.

Bem, acho que esse meu recuo de caranguejo carmíneo de águas pantanais, me providenciou com este sorriso, este que estendo enquanto escrevo e faço pausas para levar o trigo à boca.

Na verdade, tenho estado a sorrir há uns dias por ter sido um caranguejo de recuos estratégicos e um pântano de verdades enganosas.

Supremo, desiludi-me, pois claro, afinal de contas também ele faz parte das bolachas extra-saborosas.

 

O reino às avessas: parte II

 

Supremo, está a chegar… juro e prometo que vou sorrir muito, que vou saborear todos os dedos, todos os cálices de bruma.

Supremo, prometo e levo o joelho à terra, recentemente vindimada, para te garantir que todos estes papéis amarrotados, caroços secos e manhãs de provas consideradas não vão acordar mais do que já foi acordado.

Sempre me vesti para um mundo de dentro, amuralhando-o e, apesar da idade e das coisas que deveria saber, não foi tanta a leviandade que agora me devesse prender na quantidade de orgulho desferido, bem pelo contrário, apesar de desgostosa, até que esperava este novelinho desenrolado na primeira volta do carreiro, lá no fundo da minha alma em corpo de mulher de sol e lua em terra, eu sabia que era tudo um recreio, um desafio para encontrar e vencer o minotauro mas eu não me chamo Ariadne e jamais proveria um fio para o miolo de tudo isto que sou.

Colhemos as uvas todas num dia de sol raiado e os santieiros pululavam pela leira dos castanheiros, a cor do vinho que jorrava para o almude não se pode descrever, só a Natureza tem direito a usar tais cores. Eu banho-me na não-cor que é o negro e pincelo-o em dias de violência com o branco dos lírios ou com o vermelho de rosas de sangue, nada mais.

E à quinquagésima inquisição sobre o negro que me veste, nada mais claro há a dizer, senão que brota de dentro, fluindo para o exterior em torrentes que toldariam até a mais alaranjada das cores.


Epílogo


E é assim que os lírios cortados há tão pouco tempo e nascidos ainda há uns dias se vergam com as gotas que:

-ping, ping, ping-

deslizam do firmamento até à raiz, dizem eles, dizem elas e eu escrevo e assim fica escrito.

Estes reinos de onde saio a tremer de frio e devaneada para entrar devagarinho e com a verdade toda para descobrir, em estábulos anexados como fetos malnascidos, afinal de contas sou eu, a do pó.

publicado por Ligeia Noire às 17:52
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01
Out 12


Espera e escuta:

Não sei se estou a forçar-me a pensar assim mas há momentos antes de adormecer em que se escondem, por detrás das pálpebras, vislumbres de querer ser a tua mulher: Cavaleiro-das-Terras-Brancas.

Vestir a renda que teceste desde o dia em que me viste de vestido sem cor e cabelo todo descido, ó aranha laboriosa, ser assim e acreditar nesse "ser assim", piedosamente.

Também eu quero entrar nesse estupor e apagar tudo o que se fez de mim antes.

Existem estes momentos daninhos em que penso que, talvez, pudesse ser feliz se subisse ao teu cavalo, é como se eu fosse duas, a que quer durar no abismo rodeada de pecado, avassalando o corpo para desumanizar a alma e a que quer escolher o caminho sem lobos.


Lamb of God have mercy on us

Lamb of God won't you grant us?

 

Existem estas vontades dentro de mim e há trilhos que corroboram as duas.

Esta portinhola donde me espreito com ele e me ouço a dizer que não haverá melhor pescador, ao que objectas:

e o que faz deste melhor do que os outros?

E com franqueza te clarifico meu amigo, ele não é sequer pescador é cavaleiro e o cavalo é branco.

Agora, que me permiti a ver a impossibilidade de animar o meu Frankenstein e que o Aristocrata não existe, pelo menos aquele que eu fazia dele, vingo-me na aceitação da normalidade bacoca dos dias que começam às nove.

E objectas outra vez, ao quase ter fechado a boa vontade a estes vislumbres de luz em horas de sono:

Queres fazer isso para acabares com as tuas vigílias, fechar a porta e oferecer sorrisos cheios ao que te ama e aos que te esperam inteira.

Espera Supremo, deixa-me descer daqui, puxar a aldrava e molhar os dentes.

Sabes… não há propósito neste soalho, nesta manta nos pés descalços ou no amortiçar dos olhos na Geena, não sei se é desistência ou impossibilidade, sei que é tristeza sem cauda.

…porque a minha outra vontade, meu senhor, a urgente, a extasiada, a licenciosa, a mais funesta das vontades feitas fome quer atingir o mais puro negro, engolir negritude sem plenitude possível, transfigurar-se em pura fonte de carvão, que jorrará na boca do mais casto dos lírios brancos, até que essa maldita flor nevada se torne negra, faça a chuva que fizer.

É negra que a quero, negra, tão negra que tudo o que se acercar do bocado de terra onde ela esbracejar as raízes se torne negro também, como se ela fosse um sol pousado.

Ser imprópria para consumo, desgraçada, obscena, vadio vaso quebrado sem retorno ou extrema-unção.

Escandalizar e escancarar olhos e bocas além-caminho, mostrar-vos o avesso do que vos abscondo, ó mundo expirado sem saber de suicídio.

publicado por Ligeia Noire às 14:50

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