Espera e escuta:
Não sei se estou a forçar-me a pensar assim mas há momentos antes de adormecer em que se escondem, por detrás das pálpebras, vislumbres de querer ser a tua mulher: Cavaleiro-das-Terras-Brancas.
Vestir a renda que teceste desde o dia em que me viste de vestido sem cor e cabelo todo descido, ó aranha laboriosa, ser assim e acreditar nesse "ser assim", piedosamente.
Também eu quero entrar nesse estupor e apagar tudo o que se fez de mim antes.
Existem estes momentos daninhos em que penso que, talvez, pudesse ser feliz se subisse ao teu cavalo, é como se eu fosse duas, a que quer durar no abismo rodeada de pecado, avassalando o corpo para desumanizar a alma e a que quer escolher o caminho sem lobos.
Lamb of God have mercy on us
Lamb of God won't you grant us?
Existem estas vontades dentro de mim e há trilhos que corroboram as duas.
Esta portinhola donde me espreito com ele e me ouço a dizer que não haverá melhor pescador, ao que objectas:
e o que faz deste melhor do que os outros?
E com franqueza te clarifico meu amigo, ele não é sequer pescador é cavaleiro e o cavalo é branco.
Agora, que me permiti a ver a impossibilidade de animar o meu Frankenstein e que o Aristocrata não existe, pelo menos aquele que eu fazia dele, vingo-me na aceitação da normalidade bacoca dos dias que começam às nove.
E objectas outra vez, ao quase ter fechado a boa vontade a estes vislumbres de luz em horas de sono:
Queres fazer isso para acabares com as tuas vigílias, fechar a porta e oferecer sorrisos cheios ao que te ama e aos que te esperam inteira.
Espera Supremo, deixa-me descer daqui, puxar a aldrava e molhar os dentes.
Sabes… não há propósito neste soalho, nesta manta nos pés descalços ou no amortiçar dos olhos na Geena, não sei se é desistência ou impossibilidade, sei que é tristeza sem cauda.
…porque a minha outra vontade, meu senhor, a urgente, a extasiada, a licenciosa, a mais funesta das vontades feitas fome quer atingir o mais puro negro, engolir negritude sem plenitude possível, transfigurar-se em pura fonte de carvão, que jorrará na boca do mais casto dos lírios brancos, até que essa maldita flor nevada se torne negra, faça a chuva que fizer.
É negra que a quero, negra, tão negra que tudo o que se acercar do bocado de terra onde ela esbracejar as raízes se torne negro também, como se ela fosse um sol pousado.
Ser imprópria para consumo, desgraçada, obscena, vadio vaso quebrado sem retorno ou extrema-unção.
Escandalizar e escancarar olhos e bocas além-caminho, mostrar-vos o avesso do que vos abscondo, ó mundo expirado sem saber de suicídio.