“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

27
Nov 12

 

Oiço My Dying Bride, o Evinta e, apesar da Loud assentar que foi um exercício inútil, continua a parecer-me um

belo, fantasmagórico, ambiental e melancólico trabalho do que melhor se faz nesse plano.

Estou triste, deve ser de tudo estar acobreado lá fora... bem, agora não, agora está escuro, uma lua siberiana

de tão bela e um céu que se deixa alumiar por ela, finalmente.

Estive a pensar ontem, pensar, e já não sei o que sabia, pelo menos não com certezas de quem agarra a mão dos pais para atravessar a estrada.

É que a culpa também não é minha, é desta inconstância e insatisfação que tenho.

E sabes o que me veio à memória?

Quando estive com a flor-selvagem, exactamente há quatro anos.

E, apesar do que quero dizer se prender com:


-afinal até gosto dele, afinal até lhe sinto um doce carinho nostálgico-


Bem, apesar de ser isso o que queria escrever para que ouvisses de olhos fechados, o que rememorei foi o quão leve, desprendida e animada me deixei ficar, nada mais, apenas corpo e irracionalidade.


Singular.


Tudo foram toques e beijos e mãos e enleios de desejos, sim desejos.

Mas estive lá, não só para o beijar mas para a ver também e lembro-me do antes, lembro-me de estar naquela

casa térrea em rua perigosa e estarem na sala esperando para que me juntasse aos comensais para o jantar.

Estava no jardim feio e escasso porque o telemóvel tocou.


Ela.

Olá.

Ouvi.

Ouvindo…


Cerrei os dentes mas depois a minha raiva tesa escacou-se de tão fraca e chorei uma meia dúzia de lágrimas

corridas para as mãos, para que pudesse ir jantar incólume e esperar pela noite branca.

O quarto era espaçoso, estava muito calor, a rapariga que dormia ao meu lado ressonava, procurei pelos auscultadores e…


Cult of Luna.


Estava naquela paixão arrebatadora de os ter descoberto há meia dúzia de dias e de não conseguir desapegar-me deles.

Eram e são como um exército de templários que se coloca à porta do castelo para que dali ninguém passe; provavelmente até seria a Leave me here ou a Waiting for you… e chorei apenas metade do que havia para chorar, para que ela não acordasse.

Naquelas horas nocturnas tive saudades de casa, odiei os doirados cabelos tabágicos do lado, quis que a flor-selvagem, que dormia a alguns metros e por quem eu não estava enamorada mas que me prendia o sentido, saltasse do tecto como um vampiro faminto e me fizesse esquecer as dores velhas e cansadas, odiava

a cidade e chorava por tudo, pela que já não sei e sei e não sei, perco-me toda...

Ela estava no planeta ao lado desde que as cervejas verdes ocuparam o seu espaço na mesa de pedra do episódio anterior.

Rememorei hoje, esse ontem todo.

No dia seguinte, entrei na escarpa dele para poder voar.

Não pairar, voar, e voei e gostei e foi bom e branco.


I'll be your lover, I'll be forever

I'll be tomorrow, I am anything when I'm high


Nunca a denominei neste caderno, até hoje não consegui arranjar uma palavra que a vestisse, para ela não

consigo...

Tem ficado solta pelas páginas, nomeio-a para mim nas entrelinhas, e não há um nome criado para que Adão a

possa convocar à reunião baptismal e Deus a reconheça.

E, já que falamos de senhoritas, sonhei com a rapariga-que-tem-nome numa destas manhãs de fim-de-semana.

Ela conduzia e eu estava com ela, num carro incógnito, na estrada secundaria que fica por baixo daquela árvore

impossível que não vou nomear.

Engraçado esse sítio porque ela não lhe pertence, nem o conhece mas eu sei-o de cor.

Já parti a cadência do que aconteceu mas ainda vejo o ramo de flores que colhi para ela e que ficou esquecido

na berma da estrada, no meio da erva.

Lembro-me bem delas, açucenas cor-de-rosa e lilás pálido, talvez, mas o róseo abonava o bouquet, eram para ela e faz todo o sentido que pode fazer.

Rosa cai-lhe bem no colo, confunde-se com a sua compleição eterna de mulher em todas as vidas:


Bela e orvalhada.


Acordei com a certeza de que estive apaixonada e ainda continuo nesta coisa de arrebatada e ávida por si, dona. 

 

 

publicado por Ligeia Noire às 12:01

23
Nov 12


Ante ScriptumÓ Poderosa Mãe de Deus e dos bichinhos terrestres, se estes gajos não me aparecessem por

Portugal jamais lhes poria os ouvidos em cima, falo dos nipónicos MONO… da terra das raparigas de

porcelana ainda só conheço os Boris mas acho que posso acrescentar estes à minha caixinha operária.


Já era tempo de escrever sobre ele, isto é sobre ele.

São coisas que me vêm à noite e ficam ali, a pairar.

Pairando.

Apenas à noite me permito pensar em tais insânias… nada de novo.

Intriga-me Supremo, intriga muita gente, ele.

E, na verdade, é como as musas e os estros, nunca são nossos.

Gosta de coisas que me passam sem ferir, não as contemplo como ele, não as entendo, não são expressas em língua que conheça.

E seivo por querer saber o que ali dentro anda e se caminha.

Não consigo confiar nele e confio.

Queria atravessá-lo para além do corpo, navegá-lo nos olhos e não os alcanço e isso anseia-me, frustra-me, irrita

me e, por fim, entristece-me.

Fico assustada de sequer pôr a hipótese de ter gostado dele – gostado- e não ter compreendido nada do que

estava a acontecer por ser demasiado eu e estar demasiado dentro.

E se ele me pudesse salvar?

E se eu me desatasse para ele – que flor escolherias?-

Seria tudo finalmente ou isto é apenas o desespero e o medo a incubarem o desejo de que ele me colha e

salve das vozes da barriga da Terra?

Esperemos que não, esperemos que seja uma dúvida natural, uma suposição mansinha de quem não conseguiu

adormecer, ainda.


publicado por Ligeia Noire às 14:57
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18
Nov 12

 

Rickets

 

It's so simple to look at every little thing I do wrong.
It's so simple to overlook every little thing I do right, right?

I think too much.
I feed too much.
I'm gone too much.
I skate too much.

I snore too much.
I'm blowing too much.
I ate too much.
I'm way too much too stuck up.

You're probably right...
... this time, but I don't want to listen.
You're probably right...
... this time, but I don't even care.

I dream too much.
I think too much.
I step too much.
Those things too much.
I am too much.
I'm pissed too much.
I need too much.
I'm not one to trust.

You're probably right...
... this time, but I don't want to listen.
You're probably right...
... this time, but I don't even care.
And if it was mine to say...
... I wouldn't say it.
And if it was mine to say...
... I wouldn't speak.

I'm blowin' too much.
I think too much.
I eat too much.
My face too much.

I feed too much.
I piss too much.
I sleep too much.
I snap too often.

You're probably right...
... this time, but I don't want to listen.
You're probably right...
... this time, but I don't even care.

And if it was mine to say...
... I wouldn't say it.
And if it was mine to say...
... I wouldn't speak.

 

Lyrics by Deftones/Letra dos Deftones

 

Post Scriptum: começa aqui com a lembrança poderosa da rapariga que sou na camisola de mangas compridas

que se alastraram.

Mangas que ia puxando até aos pulsos mais e mais e que depois cobriam o tamanho dos dedos de unhas.

Tinha vintes e não sei, e a camisola negra com que eu cobria a carne, fazia-me sentir subversões de afundar os olhos ou só a usava quando os olhos se afundavam…

Vesti uma da família dessas hoje e depois falarei do resto, da voz da canção, do que aí chegou, do que me trouxe e do que me fez recordar.

Tudo isto embrulhado em papel de Natal que vem aos bocadinhos.

Está tudo ali em cima, não é?

É.

Todas essas coisas de -demasiado rapariga de camisola até ao fim dos braços- presa na ponta dos dedos.

De rapariga funda que vai ao fundo, ou o fundo despe-a demasiado para que seja destrinçada e tragada em

porções apropriadas?

 

publicado por Ligeia Noire às 03:11
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13
Nov 12


Acho que isto veio do Dorian Gray, apontei há tanto tempo...

Como gostar de andar sem chegar a lado algum?

Perguntei-me.

Não compreendi antes porque estava a olhar de demasiado perto para ver.

Chega-se sempre a alguma coisa, nem que seja à cauda para olhar para a cabeça.

Pensa nos Vampiros, no Libertino, no Dorian… Não vivem por, nem para nada.

Houve um momento em que não era assim, claro que houve, a salvação na destruição vem sempre agarrada a um percurso direitinho que falhou, que se tornou insustentável.

Afinal nascemos todos iguais.

O viver sem querer realização a nível algum é incompreensível para uma fatia gulosa da espécie humana, somos animais procriadores.

E sabe bem a completude, mesmo que cheia de roedores, mas há o cansaço, há tanto cansaço e há também a impossibilidade, o sangue, os bolsos descosidos, há isto tudo e isto tudo deixa os percursos direitinhos barrados e os esburacados vão-nos ganhando o apetite e nós vamos por eles e gostamos.

No princípio ainda há esperança orlando os buracos, depois, na primeira bifurcação, há dor e violência e coisas que fazem arder os olhos com as quais nos sentimos mais confortáveis.

Lá vamos nós, habituando os olhos à luz escura e não é que gostemos, é que sempre foi assim mas teimávamos, ah néscios de nós... em rastejar cá para fora, mesmo que apenas conseguíssemos algumas estações de descanso.

Detesto os que gostei, nauseiam-me os que pensei querer, enfim, abrem-se os olhos para o nada de querer que sempre fez mais sentido.

A teimosia é dura mas o orgulho é refeito a cada vómito de adaptação.

E, finalmente, quando a cria de perder percebe o carreiro, os buracos, as circunvalações e as bifurcadas meadas entreabertas, abre o peito ao sol que vem de cima, pois claro, e deixa que tudo seque e, depois de mirrado, o que fica é este percurso de andar porque temos pernas, respirar porque nos é involuntário e viver porque nos obrigaram a saltar cá para baixo.

Todo o resto, já que o orgulho não morre, é o prazer porco, o escárnio da doçura que se usa para encarcerar bichinhos incautos aos nossos suspiros.

Todo este nada de chegar e violência de sentir pode assustar e afastar a maior parte das pessoas, e é bom que afaste, desperdiçar caminhos alumiados é pecado punível com outra volta na montanha-russa.

Não há saída e saber disto é aproveitar a circularidade do carreiro para escarrar vezes sem conta no acto petulante de encarreiramento interminável da moldagem a mais e mais receptáculos.

E, assim, vamos apodrecendo a carne porque esta fracassa diante do nosso appetite for destruction.


publicado por Ligeia Noire às 15:28

02
Nov 12


A provocation to loneliness, when all the best ends up into a grand march that doesn't fit you.

Insisting looks and cheap perfumes on trampled sidewalks are aggressions that I won’t answer to.

I try, I swear, I doubt, fail, I tried, I tried, I tried.

Just another witness… ain't seen it coming.

I was sitting there and yes, I could still watch silhouettes dancing, with some kind of interest.

I ain't seen it coming, month by month experimenting the distress of not seeing sense in the cadence of bodies.

I'm sitting back in a place and watching the world declining, slowly as a grandpa.

All wrinkles drawn with millions of shoes used on the side of complacency.

It's simply not for me.

I tried to give it all sense.

I tried to love perfume again.

I tried to give it all meaning.

tried to remember.

In the morning of my world, all loved has ceased.

And in the end it is only

you,

me and the violence, with no kind limitation.

Before the death of all hearts, when all love will cease, the hope is saving.

Give me a way to see clear into this foggy sea.

Slowly we walk to the end of our dreams.


Gosto muito, mesmo muito sim, gosto muito dessas três palavras emparelhadas, gosto da forma impetuosa

com que ele deixa que as palavras se lhe desaguem da garganta e da urgência da música, casada com a

pressa das palavras perenes ainda cheias de saliva.

In the morning of my world, all loved has ceased. And in the end it is only you, me and the violence…

Que bom.

Já vejo lá ao longe esse trecho a servir-me de epígrafe porque in the end… it is only:

you,

me

and the violence…

The violence.

publicado por Ligeia Noire às 12:52
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