Acho que isto veio do Dorian Gray, apontei há tanto tempo...
Como gostar de andar sem chegar a lado algum?
Perguntei-me.
Não compreendi antes porque estava a olhar de demasiado perto para ver.
Chega-se sempre a alguma coisa, nem que seja à cauda para olhar para a cabeça.
Pensa nos Vampiros, no Libertino, no Dorian… Não vivem por, nem para nada.
Houve um momento em que não era assim, claro que houve, a salvação na destruição vem sempre agarrada a um percurso direitinho que falhou, que se tornou insustentável.
Afinal nascemos todos iguais.
O viver sem querer realização a nível algum é incompreensível para uma fatia gulosa da espécie humana, somos animais procriadores.
E sabe bem a completude, mesmo que cheia de roedores, mas há o cansaço, há tanto cansaço e há também a impossibilidade, o sangue, os bolsos descosidos, há isto tudo e isto tudo deixa os percursos direitinhos barrados e os esburacados vão-nos ganhando o apetite e nós vamos por eles e gostamos.
No princípio ainda há esperança orlando os buracos, depois, na primeira bifurcação, há dor e violência e coisas que fazem arder os olhos com as quais nos sentimos mais confortáveis.
Lá vamos nós, habituando os olhos à luz escura e não é que gostemos, é que sempre foi assim mas teimávamos, ah néscios de nós... em rastejar cá para fora, mesmo que apenas conseguíssemos algumas estações de descanso.
Detesto os que gostei, nauseiam-me os que pensei querer, enfim, abrem-se os olhos para o nada de querer que sempre fez mais sentido.
A teimosia é dura mas o orgulho é refeito a cada vómito de adaptação.
E, finalmente, quando a cria de perder percebe o carreiro, os buracos, as circunvalações e as bifurcadas meadas entreabertas, abre o peito ao sol que vem de cima, pois claro, e deixa que tudo seque e, depois de mirrado, o que fica é este percurso de andar porque temos pernas, respirar porque nos é involuntário e viver porque nos obrigaram a saltar cá para baixo.
Todo o resto, já que o orgulho não morre, é o prazer porco, o escárnio da doçura que se usa para encarcerar bichinhos incautos aos nossos suspiros.
Todo este nada de chegar e violência de sentir pode assustar e afastar a maior parte das pessoas, e é bom que afaste, desperdiçar caminhos alumiados é pecado punível com outra volta na montanha-russa.
Não há saída e saber disto é aproveitar a circularidade do carreiro para escarrar vezes sem conta no acto petulante de encarreiramento interminável da moldagem a mais e mais receptáculos.
E, assim, vamos apodrecendo a carne porque esta fracassa diante do nosso appetite for destruction.