“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

17
Dez 12


É engraçado como tudo o que me segurava apodreceu, é triste e tudo o que vejo é feito disto, é lúgubre e é sempre.

Se calhar há uns anos não imaginaria vir um dia a dizer isto mas preferia ser órfã de tudo.

Gostava de ser sozinha, já que não posso deixar de existir gostava de ser sozinha e mais não há que possa ser dito.


 

Aniversário

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus! O que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

 

Por Fernando Pessoa vestido de Álvaro de Campos



Balelas Fernando, tudo balelas é tudo melhor sozinho, é tudo bom quando podemos apenas ir embora sem levar ninguém, sem deixar ninguém, comer e poisar noutra flor e ir e ir e ir… não posso falar com os que conheço porque não me conhecem, não posso falar com os que me conhecem porque não existem, ando nisto há muitas luas.

Nada faz sentido, estou cansada de todos e cansada de todos estou.

Não posso falar, não quero falar mas aqui pensei que amainasse e não amaina.

No dia em que festejavam os meus anos era uma boa merda, mais valia que não o fizessem, que ninguém existisse, tenho dentro de mim uma mãe das abominações que quer evadir-se para a Carélia e existir só à noite ofertando o corpo, estou farta de escritores e imagens e pessoas e dias e nove às cinco e relacionamentos de todas as espécies e amigos e inimigos e intelectuais e burros e mulheres e homens, e agrados e discussões e mundos e além-mundos, do poema do Pessoa, que não é poema, que nem sequer gosto, que nem sequer reflecte o que sinto mas que entoa uma certa ânsia de que o passado é sempre este deus menino, pequenino e bonito, eu não tenho saudades do passado que foi uma merda, do presente que é uma merda e do futuro que será uma merda e menos merda seria se não fosse e se nem acontecesse a cada dia.

E há a cabeça na travesseira todas as noites e há olhos que se aferrolham mas que se abrem sempre e tudo é uma porcaria e tudo me mete nojo e tudo é feio e tudo é sem sentido… menos a música, menos a música, todo o resto pode ir em correnteza de rio para o caralho.


Jag finner inga svar
- Finns det några svar?
Jag finner inga svar
- Finns det några svar?
Jag finner inga svar
- Det finns inga svar!

 

Lyrics by Lifelover/Letra de Lifelover



publicado por Ligeia Noire às 14:56

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