Estás a ver aquele videoclip dos Gojira em que a miúda arrasta um caixão através de uma corrente que lhe sai do umbigo?
Bem, foi o que fiz com tudo o que está aqui e espero que a caída fique protegida dos salteadores nesta fundura desmedida.
É que todas as palavras que aqui escrevo, neste meu caderno medicamentoso, são mesmo aquilo que quero dizer, toda a simbologia entrelaçada faz amor com os desenhos alfabéticos e dá à luz a criação.
Tudo faz sentido, nada em mim é por acaso, nada aqui é por acaso.
Espero, assim, que os decalcadores não se lembrem de que os vales podem ser fundos e que os silenciosos de sempre encontrem o caminho.
Ontem, o argonauta trouxe o Baudelaire, só lhe conheço poemas avulsos e os paraísos artificiais, hei-de lê-lo com calma porque, mesmo estando a ser declamado em português, houve um clique imediato e ao ouvir o nome do autor, sorri no escuro.
Je t'adore à l'égal de la voûte nocturne,
Ô vase de tristesse, ô grande taciturne,
Et t'aime d'autant plus, belle, que tu me fuis,
Et que tu me parais, ornement de mes nuits,
Plus ironiquement accumuler les lieues
Qui séparent mes bras des immensités bleues.
Je m'avance à l'attaque, et je grimpe aux assauts,
Comme après un cadavre un chœur de vermisseaux,
Et je chéris, ô bête implacable et cruelle!
Jusqu'à cette froideur par où tu m'es plus belle!
Charles Baudelaire
E por falar em franceses, sonhei com a rapariga limpa, a dos maravilhosos cabelos de trigo, queria tanto ter arriscado, achas que ela teria parado de florir, esconderia o azul dos olhos, a voz pequenina?
Sei que gostará de coisas mais solarengas e saudáveis mas desde que lhe lacei um vestido feito à pressa com fitas roxas, a liberdade tomou-me à força e contemplei-lhe as pestanas, intimas guardiãs de pedras jacintinas.
És toda o contrário da noite, és toda raios e limpeza e vontade e espontaneidade e afabilidade.
Meu mais belo narciso fulvo derramado na imensidão azul deste meu receptáculo de tristeza.
Ficas tão bem no meio de todas estas palavras, gostei de começar contigo.