“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

29
Mar 13


Ante Scriptum: Não sou conhecedora por aí além de Moonspell mas esta letra está equilibradamente emocional e simbólica.

Ao contrário da horda metaleira, os meus preferidos são os trabalhos mais experimentais, O Efeito Borboleta, o Pecado...

Esta e a The Hanged Man estão lá e, porque acordei de sonhar com o Cavaleiro-das-Terras-Brancas e, porque não acontece todos os dias, apeteceu-me procurar o disco por entre o pó e reparei que tenho um dos H.I.M. em cima do Black Seeds dos Nile, ai a blasfémia, o que vale é que era o Venus Doom (já que me cheira que este Tears on Tape vai ser uma boa desilusão...) mas, voltando aos nossos lusitanos conhecedores de Lúcifer e Lilith e porque estão sentados à direita dos My Dying Bride no quarto dele, fechem-se os olhos para que se termine de sentir o peso humano perfeitamente encasulado.

 

A greater darkness for all it's worth
A friend so young who's life was cut
We drink the rain to clear our throats
We drink the poison to make it go

The little mercies above all things
No final act. no final scene
A friend for life and in death too
Forever strong, forever hold, inside our soul

So raise your hands above the waters
We are the thieves in giant shoulders
Se raise your hands, our hearts sink lower
To watch you drown inside the monster

The day now ends and all within
A greater darkness covers everything
Is there no end for such a pain
Is there no hope, no other life no way to know?

So raise your hands above the waters
We are the thieves in giant shoulders
Se raise your hands, our hearts sink lower
To watch you drown inside the monster

So raise your hands inside the monster


Letra da autoria de Moonspell


publicado por Ligeia Noire às 13:59
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24
Mar 13


Antes:

Quero escrever para me libertar deste sufoco, deste atilho do porvir e não consigo.


Depois:

Às vezes sonho que ando muito depressa, como se estivesse a correr mas não corro, é como se galgasse, como se cada passo fosse um salto, é muito difícil pôr isto por palavras... sonhei outra vez com essa parte anoitecida e, quando olhei para as minhas pernas percebi que eram de um animal, eram patas e eu estendi o torso como se fosse um cão ou um lobo e, com as pontas fazendo grandes extensões, percorri os carreiros escuros do lado como se fossem vales e vales e eu só tocasse nos cumes.

Persisto neste círculo de coisas a acontecerem, coisas de que não vale a pena falar, continuo a ter discussões e a ser agressiva e azeda ao mesmo tempo que me adocico e faço braços de sol para que todos se libertem de cruzes pesadas de madeira que por certo lhes acorcovam as costas.

Sou intervalada e volúvel em aflição, vivo em perigo de perda constante.

Às vezes odeio o Mundo e as pessoas que ele guarda na barriga, todas, essas, muitas... pessoas.

Outras vezes, tenho mágoa nos olhos e, senti-lo, só me faz querer chorar convulsivamente.

Com os dois olhos magoados e o tacto cheio de desgosto e caiado de pesar, penso nos dois pés juntos e, movendo o direito em sentido norteado, acerto-me e volto no carreiro, ponho a domino e junto as mãos ao peito fechando muito os olhos, até que tudo seja noite e giestas brancas à chuva.

Sou esta e mais nenhuma.

publicado por Ligeia Noire às 22:34
sinto-me: e, e, e, e, e, e, e, e, e, e,
música: "MMIX" dos Líam
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21
Mar 13


Intro:

Oiço Líam e já tenho vergonha de gostar de todos os projectos e bandas em que o alemão, (e já agora o francês) põem as mãos, foda-se já parece caçada da minha parte, irra!


Voltando às coisas inúteis…

Ainda gostava de saber qual é o problema de certas figuras em aceitar o entendimento dos outros sem mandar o seu bitaite, a sua crítica acotovelada, sarnenta, bolorenta e corrosiva.

Sou a maior das assíduas no que ao humor corrosivo diz respeito mas detesto quando é usado para mostrar superioridade: eu sou melhor do que tu.

Escrevo estas palavras com uma pessoa visível na minha cabeça, foi por isso que deixei de a suportar, mimo, choros de atenção e mania… foda-se vira aí o leme marinheiro que não era disto que eu queria falar.

Era do senhor doutor, não, não vou mencionar a graça do excelso.

O pessoal achava-o pouco atraente mas eu até que tinha vontades de debicar, deve ter sido por causa do cabelo à Keanu Reeves e pela vontade que ele tinha de me desafiar.

Já lá vão uns bons anos mas confesso ainda me lembrar de quando ele me encavacava por estar desatenta a mexer no cabelo.

Bem, mas ia eu dizendo que não gosto quando se armam em espertos e o senhor professor nutria uma certa, como dizer, tendência em provocar aqui a petiza, dito assim, soa a narcisismo e a supra auto-estima da minha parte mas contra factos não há argumentos.

Isto é: todas as criancinhas que por ai pululam e que se vestem de forma pouco tradicional sabem o quão -anhos apetitosos- parecemos a estes intelectuais rebeldes de idade adulta :

"Olha-me esta, ah és contra o sistema, ai achas-te muito insubmissa, deixa-te começar a trabalhar. Deixa passar uns aninhos que eu quero ver…"

Ele leccionava uma espécie de História misturada com sociologia, quer dizer, ambas se complementam…

E nem sequer falei mas ah e tal splash:

"O Marilyn Manson, ah esse gajo armado em mauzão, esses gajos muita maus na tropa são os primeiros a choramingar… sabia dona (cof, cof) que essa figura se veste com roupas de marca, tipo dolce gabbana, aparece em revistas da moda, é tudo dinheiro."

Foi mais ou menos isto que ele palrou, não sei bem o que respondi... provavelmente que não me importava e que o que me interessava era a música, como ainda é mas hoje que já se me acrescentaram uns anos teria vontade de usar os meus mais altos sapatos, prender o cabelo num alto rabo-de-cavalo e pela noite encontrar-lhe o aposento e fodê-lo sem deixar número de telefone.

Ah e para que conste, senhor doutor, ele nunca disse não querer ser popular ou comercial, quer dizer até aquele cd de música da Etiópia, que poderia ter passado no festival de Sines, estará numa qualquer estante de uma grande superfície, é isso que é ser comercial, é ter um preço.

Mas eu percebo senhor doutor, o seu rumo, ele é mainstream na na na na, sim bebé, sente-se feliz agora, acha que é mais do que eu agora?

Olhe que esses anos todos que disse, já passaram. Aliás, metade deles já tinham passado quando falou.

Claro que sim, claro que é comercial mas esse sempre foi o objectivo, chegar ao maior número de pessoas possível, se ele quisesse ser underground teria seguido um estilo pouco popular como o jazz ou o industrial experimental dos Einstürzende Neubauten, não o metal.

E aí provavelmente o senhor doutor já ouviria e até mostraria e partilharia com os seus colegas doutores.

Agora este gajo de espartilho e plataformas, que mudou a música, as mentalidades, que usou e abusou da comunicação social e a virou contra si própria, o homem que apresenta, na trilogia irrepreensível, a dicotomia americana, o fascismo do cristianismo, a podridão dos valores morais e o niilismo do século vinte e um, fogo não usa óculos e camisa axadrezada ah e gosta de se divertir, do prazer, não, claro que não pode ser legítimo.

Quanto à dolce gabbana, bem sabia que ele vestia Marc Jaccobs, talvez Viviene Westwood, Galliano… a dolce gabbana não é só a marca das calças de ganga deslavadas hediondas das dondocas é também a delícia do desfile do ano transacto de Outono/Inverno, eles apenas fazem em massa o que sabem que irá vender.

A procura manda, o dinheiro é o que todos buscamos, não?

Lição primordial de planeamento e controlo da produção.

O Alexander Mcqueen veio dos subúrbios, era um pós-punk antes de se tornar na marca de alta-costura que é hoje, aliás ele fez daquilo que era, um mundo acessível… é nas subculturas que os criadores vão buscar ideias e é ao amacia-las, tornando-as domesticadas que o público geral lhes acha piada e as quer porque mostra status, porque foi aprovado, porque toda a gente bonita -the beautiful people- usa, porque está in já se pode usar, sem correr o risco de se ser apontado, exactamente o oposto do que é ser livre e pensante.

Aliás não é o que todo o misantropo sonha?

Viver daquilo que gosta?

Ter uma vida desafogada e poder durar num castelo de pontas aguçadas e não ter de contactar com meros mortais?

E a cena das revistas da moda, é uma boa treta, só se for numa de escárnio, pois que eu saiba só apareceu num editorial da Vogue aquando do casamento mas, quer dizer, com uma mulher deslumbrante daquelas, uma mulher dona de si, livre e imersa numa criação da Vivienne, num castelo na Irlanda, com o Jodorowsky presente e o Gottfried a celebrar e pavões nas imediações… crime seria não podermos ver.

É a velha estória, de que já aqui falei:

o nariz vermelho do palhaço.

Tomemos atenção: porque usava camisola de manga curta lisa e calças de ganga só podia ser muito mais genuíno, inteligente, ilustrado e trve do que uma fulana de cabelo heterodoxamente comprido e eyeliner…

Já o disse e volto a dizer, não é o desejo de atenção, é o idealismo de que um dia viveremos num mundo onde cada um se vestirá como quiser, sem ninguém ligar um chavo.

E como disse a senhora de negro, vamos lá ser sérios, não podemos agradar a Gregos e Troianos, há que assumir aquilo que somos sempre.

Portanto ah e tal que curto muito disto mas não preciso de me vestir assim é treta.

A única absolvição é o trabalho e se não usares o encarneiramento do uniforme, a coisa boa do espalhanço que isto levou, e que espero que esteja a passar, é que está tudo mais perto e a escolha abunda, pode-se perfeitamente amenizar a coisa no horário nobre para depois a aflorar fora do período de esclavagismo.

Se se for coveiro ou empregado numa funerária nada disto se aplicará.


The horrible people, the horrible people
It's as anatomic as the size of your steeple
Capitalism has made it this way,
Old-fashioned fascism will take it away


 

publicado por Ligeia Noire às 01:21
música: "II" dos Líam

17
Mar 13

 

Todos os dias são bons para ir embora, bater com a porta, visitar a barriga da Terra, todos os dias são bons para desertar, podem não prestar para mais nada mas para fechar o ciclo servem sempre.

É Supremo, é isto a querer subir-me pelas pernas e perpassar as órbitas outra e outra vez, não há volta a dar.
Estou cansada de não ter cordas para subir, são sempre as minhas pernas, são sempre os meus braços, os amigos de todas as horas.

Até o musgo se abastece demasiado desta cercania de pedra meia molhada.


(…)

Beyond this beautiful horizon
Lies a dream for you and I
This tranquil scene is still unbroken by the rumors in the sky
But there's a storm closing in
Voices crying on the wind
This serenade is growing colder breaks my soul that tries to sing
And there's so many, many thoughts
When I try to go to sleep
But with you I start to feel a sort of temporary peace

(…)

 

É o que sinto com ele, doçura, paz, sinto carinho, sinto o final do mar, o mar agreste de Inverno: calmo e ininteligível.

E fazer-me sentir isto já faz parte do mover céu e Terra.

É tudo turvo na minha vida.

Em nada me satisfiz, em nada me completei, tudo me empurra para a cave do rato de bigodes encarquilhados e é por isso que não posso deixar que este braço deixe de estar estendido, não posso ser eu e o Mundo.

Não agora, neste tempo, com esta idade, já escasseiam as coisas bonitas e a vontade de abrir os olhos para que elas me façam sol.

São os Anathema que me enrolam no colo hoje, colhendo-me as lágrimas, enquanto vou empurrando a cabeça como um gato até que me esconda toda e faça noite.


There's a drift in and out, there is always going to be a drift in and out...


publicado por Ligeia Noire às 23:12
música: "Temporary peace" dos Anathema

10
Mar 13

 

Qual não foi a minha surpresa quando, ao esgazear os olhos, descubro que sonhei com o meu amigo, não vou descrever o lugar.

Populoso era e sentado estava.

E, eu, com pressa de ir não sei onde, beijei-lhe a bochecha, à Lolita, e fui pela chuva, ultrapassando o portão para o sítio que não sei, o sítio que me apressava ou que eu queria que me apressasse.

É estouvado da minha parte falar disto nesta altura, a tão pouco tempo de experimentar o vestido vermelho, de voltar a trazer felicidade ao cavaleiro e, talvez, depois, com elas, no tempo das uvas, matar umas outras honras e perder a realidade.

Sou uma vergonha.

Demorou algum tempo até que tivesse, não sei, o orgulho arrumado, a displicência, o arrojo de voltar ao assunto mal desinfectado.

Aliás, a maior parte das minhas purgações acontece anos depois de me distanciar do epicentro, quando já troquei de posição na cerimónia da Ligeia, represento?

Não.

Mas curto distâncias seguras.

Tenho de ser muito cautelosa e ao mesmo tempo induzir o pensamento incómodo, talvez, a outrem, porquê?

Porque sou assim, calculada, rabina e atiçadora.

Só dei por mim a pensar no denominador explícito da nossa, já cúmplice, mistura quando mo mostrou aos olhos com sol.

E olha que não foi tarde ou cedo, se até ali nunca me tinha passado pela cabeça, depois de confrontada, corei e não mais me consegui despir do fato de traça à roda do luzeiro ou de voltar ao momento anterior, se me fosse possível fazê-lo.

A maldição de quem sabe o que instila e onde instila.

Eu sei, eu sei sim, mas até os criminosos têm algumas normas, alguns recatos, pelo menos eu tenho, não vale tudo.

Ou será que vale?

A reacção seria adversa mas não foi por isso que deixei de enrolar o cabelo a pensar na falta de preceitos ou de remoer gestos esfumaçados, censurando as naturalidades que se insurgiam dos meus dedos.

Era exaustivo tudo o que tinha de perpendicular, de controlar.

Não se tratava de crença ou confiança porque não o cria, nem confiava, o que não me impediu de entrar, sabendo que tudo se empolava pelo cálculo de quem gosta de encarnar o principezinho com as docs à mostra.

Eu sabia, soube e continuei a saber que era assim e ignorei os danos aos outros porque não eram meus, porque não era de minha responsabilidade olhar por eles.

Difícil, foda-se, se foi... caminhar sob aquele olhar de milhafre e cordeiro agregados... mas eu também sei do tamanho do negro.

Gosto dele, nada calculado, nunca foi e sorrio e pisco o olho esquerdo, o do lado venial, porque sei que isso o desconcerta.

Ah e ambos temos segredos que não são nada bonitos.

Só que eu não lhe contei os meus e os dele, segredos ou não, afundar-se-ão comigo.

O tempo que demora o negrume até ao acender do fósforo.

 

publicado por Ligeia Noire às 23:01
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E escumo a pensar na possibilidade de algum dia estes gajos tocarem, cantarem, celebrarem esta linha de coca ao vivo, já nem concebo a possibilidade de ser por terras lusas, era só mesmo tirá-la do estúdio, do disco e celebrá-la ao vivo, o estar presente seria inestimável.

Foda-se, agora que falo nisso, estas duas bandas devem, devem não, foram as mais preciosas descobertas desde, desde sei lá pá, desde os Nefilins, sim, amor todo e sem trejeitos persecutórios, a cena pura do mesmo.

Foi ouvir, comprar e guardaram-se logo no altar onde estão os eleitos.

 

Siren of souls
Howling and piercing the night
These are the streets
Clinic fingertips
Sex and violence

A naked soul
Smashed apart
Yearning, searching, longing
These are the streets
I call my home

A light pressure
Reality dissolves
I am shattered
Light, streams, energy
My ground is shifting
A mosaic of senses

Matter is running through my fingers
Time is laughing at me
This is the world:
Pulse
Surreal

 

Lyrics by Lantlôs/Letra da autoria de Lantlôs


publicado por Ligeia Noire às 22:01
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06
Mar 13


Ante Scriptum: Vivo com obsessões, ando envolta na União Soviética e desta feita caminho por Chernóbil e lembrei-me deste filme do Ridley, o gajo que, para além de um cineasta que sabe o que faz, prova ser um letrista que escreve em condições.

E ao regressar ao âmago da trilogia veio esta avalancha de sentimentos que já tinha começado há umas semanas, senão meses... esta condição de sufoco, de impossibilidade, esta compaixão que só compreendi com o Kundera e de que falarei mais tarde.

Tudo isto intercede junto da minha índole virginiana de mãe estéril que amamenta todos.

Este hino à aberração, esta elegia ao desaparecimento baixinho, aquele em que nunca se existiu.

Este pedido de boca seca e coração empalado para que venhas e consertes estas dobradiças guinchantes, este medo do que não se vê, do que não se conta.

Houve uma professora que comentou, assim sem delongas, que estava morto, que a pós-modernidade era isto e aquilo e eu contei dois e pensei: um conjunto de nada e coisa nenhuma e ainda por cima sem graça é o que caralho é, na verdade.

Morto, disse a gaja, assim, e escrevi na cabeça e chorei em casa porque tenho medo e lembrei-me do outro também e como não sei de cor fui perguntar à senhora Wikipédia, sempre pronta a ajudar os oprimidos:

 

Deus está morto!
Deus permanece morto!
E quem o matou fomos nós!
Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes?
O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas.
Quem nos limpará desse sangue?
Qual a água que nos lavará?
Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar?
A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós?
Não teremos de nos tornar, nós próprios, deuses, para parecermos apenas dignos dele?
Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!

Nietzsche, A Gaia Ciência

Vês Supremo? 
Anda depressa, senão depois acontece-me como o gigante dos olhos verdes: too late: frozen.

Heartless

When I woke up this morning the trees didn’t work
bird song had turned to gunfire and the stars were in the dirt
The snow feels like a heatwave,
The sunshine feels like rain.
If a feather touches my skin, it causes me pain

Come back, come back
And make the world work again.
Come back and put an end to all this mess,
Come back and prove the world’s not heartless.
Come back and prove the world’s not heartless.

The air is thick as tar and my skin is bruised and stung
I try to talk but no one understands my tongue
With every passing second,
I age a million years
When I fall and graze my knees
The universe cheers

Come back, come back,
And make the world work again.
Come back and put an end to all this mess,
Come back and prove the world’s not heartless.
Come back and prove the world’s not heartless.

When I call your name out
it tends to shrapnel in my mouth
And the last time I looked up the north star was south.

Come back, come back,
And make the world work again.
Come back and put an end to all this mess,
Come back and prove the world’s not heartless.
Come back and prove the world’s not heartless.

 

Lyrics by Philip Ridley/Letra da autoria de Philip Ridley


publicado por Ligeia Noire às 21:47
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05
Mar 13


Somos órfãos até de nós próprios.

Abandonámo-nos.

Não há nada aqui, não há magia, esperança, fé.

Não sei como era séculos antes, ou nos primórdios... mas, agora, está tudo ainda mais maquinal do que na ida Metrópolis, não há nada aqui em baixo, já não há, acredito que houve, nalgum momento no tempo mas não agora, não agora.

Não há misticismo, mistério, fantasmagoria, epifanias…

Estive a ouvir Sigur Rós, aquela música que parece uma litania fúnebre.

Nos meus anos de adolescente, lembro-me de estar a ver a tabela de discos na televisão e do nome destes gajos aparecer, várias vezes, por ali. Passavam telediscos deles também, deviam vender bem por cá, aliás sempre tive a ideia de que a relação de Portugal com eles era bastante profícua.

Na altura não ligava muito a música, nem sabia bem o que era.

O que passava era uma merda e aquilo que não o era, não chegava cá.

No caso destes islandeses, não percebia ou achava aborrecido e demasiado divagador, já não recordo.

É curioso que, mesmo na altura da ditadura das editoras, que graças à internet acabou de vez, havia alguns furões que conseguiam escapar até lugares tão recônditos quanto aqui o bosque que, certamente, seria bem mais perdido que Reiquejavique.

Estou a conhecê-los, hoje, depois de tantos anos…  hoje e agora que a minha cultura de música etérea e shoegaziana é um pouco melhor e a solitude mais à vontade.

Nas alturas em que me resvalo, um pouco, da violência para permanecer por outras paragens, páro muito.

Devo agradecer aos Alcest que, tantas bandas novas e admiráveis já me ofereceram e que, uma vez mais, me desataram novos/velhos atilhos.

E, pronto, já que o Winterhalter e o Neige foram gravar o novo disco para a Islândia, no estúdio e com o produtor dos Sigur Rós e, graças a uns pozinhos vampirescos lá me decidi a visitar as encostas destes ambientes sonhados.

Escusado será dizer que as que mais me adocicam são as tristes, as muito tristonhas.

Impossível não me lembrar, um pouco, dos Dead Can Dance, Cocteau Twins e mesmo dos My Bloody Valentine, tudo divindades e, mais uma vez, é preciso maturidade e calmaria para namorar as conchas.

A escrever-te e a lembrar-me do primeiro concerto que os My Bloody Valentine deram em Portugal, foi num festival novo, lá p’ro Algarve, onde os Offspring eram cabeças-de-cartaz e actuavam a seguir aos referidos, já podes imaginar o conflito de públicos…

Li por aí um fã da banda americana dizer que até gostou do som dos irlandeses (à parte do holocausto) mas que gostava que os vocais estivessem mais audíveis, fossem mais proeminentes.

Destaque é tudo o que o Shoegazing não é, aliás, conta-se por aí que o epíteto do género foi começando a pegar porque os guitarristas que iniciaram por este terreno estavam sempre de cabeça baixa, olhos postos nos pés, isto é, nos pedais a causarem a tão definitória distorção.

Assim, a voz neste género não tem a mesma superioridade ou não coloca a cabeça no outeiro como a da ópera, a do rap ou a do RnB.

A voz, aqui, é mais um instrumento, as palavras só estão ali porque sim, podiam significar coisas ininteligíveis, podiam, olha a glossolalia da boca da Elizabeth Fraser, da Diamanda ou mesmo o dialecto esperançoso do vocalista dos Sigur Rós, não interessa, é para o the greater good como diria o Reznor que anda por aí a espreitar.

E não sei porque fui por aqui, eles nem sequer são shoegaze, são pós qualquer coisa, rock, sim rock ah já tinha dito…

E coloquei os auscultadores e fui à deriva até ao monte.

Já estava a escurecer e caiu aquela ambiência nocturna que me causa água na boca, o céu com bocados bem escuros, o vento espesso a sacudir as árvores todas, ainda bem que tinha o cabelo entrançado e preso com ganchos, não chovia e estava frio seco.

Lá de cima, olhei para o lá em baixo e lembrei-me da dureza de tudo e lembrei-me de uma entrevista do Johannes dos Cult of Luna aquando, provavelmente, do Somewhere Along The Highway, ou seria do Salvation?

Não, não era… em que eles tinham ido gravar para um celeiro, ou cabana lá p'ro meio dos nenhures suecos e, durante a noite, viram uma rapariga de branco lá ao fundo e nunca chegaram a saber de onde vinha ou para onde foi…

Bem, se calhar inventaram isso, como inventaram a historia do Holger Nilsson no Eviga Riket, confesso que fiquei fodida, até já estava com ideias de traçar um paralelo entre os males do Reino do Ugín e o mal nascente do Twin Peaks mas agora não me apetece, não, que não existam pessoas, aparentemente, sofredoras de distúrbios mentais a cometerem crimes e a não assumirem os mesmos, acusando seres aparentemente fantasiosos…

Digo isto porque estava ali, no alto, com o vento a levantar as folhas que não caíram e o céu negro cedia algumas pingas de chuva ou lágrimas de Deus porque a música chorava e porque o Mundo é um lugar tão triste e tão sozinho e tão sem pai, porque estou triste e quando estou triste todas as gotas são lágrimas.

 

publicado por Ligeia Noire às 01:08
sinto-me: de noite
música: "Dauðalogn" dos Sigur Rós

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