Intro:
Oiço Líam e já tenho vergonha de gostar de todos os projectos e bandas em que o alemão, (e já agora o francês) põem as mãos, foda-se já parece caçada da minha parte, irra!
Voltando às coisas inúteis…
Ainda gostava de saber qual é o problema de certas figuras em aceitar o entendimento dos outros sem mandar o seu bitaite, a sua crítica acotovelada, sarnenta, bolorenta e corrosiva.
Sou a maior das assíduas no que ao humor corrosivo diz respeito mas detesto quando é usado para mostrar superioridade: eu sou melhor do que tu.
Escrevo estas palavras com uma pessoa visível na minha cabeça, foi por isso que deixei de a suportar, mimo, choros de atenção e mania… foda-se vira aí o leme marinheiro que não era disto que eu queria falar.
Era do senhor doutor, não, não vou mencionar a graça do excelso.
O pessoal achava-o pouco atraente mas eu até que tinha vontades de debicar, deve ter sido por causa do cabelo à Keanu Reeves e pela vontade que ele tinha de me desafiar.
Já lá vão uns bons anos mas confesso ainda me lembrar de quando ele me encavacava por estar desatenta a mexer no cabelo.
Bem, mas ia eu dizendo que não gosto quando se armam em espertos e o senhor professor nutria uma certa, como dizer, tendência em provocar aqui a petiza, dito assim, soa a narcisismo e a supra auto-estima da minha parte mas contra factos não há argumentos.
Isto é: todas as criancinhas que por ai pululam e que se vestem de forma pouco tradicional sabem o quão -anhos apetitosos- parecemos a estes intelectuais rebeldes de idade adulta :
"Olha-me esta, ah és contra o sistema, ai achas-te muito insubmissa, deixa-te começar a trabalhar. Deixa passar uns aninhos que eu quero ver…"
Ele leccionava uma espécie de História misturada com sociologia, quer dizer, ambas se complementam…
E nem sequer falei mas ah e tal splash:
"O Marilyn Manson, ah esse gajo armado em mauzão, esses gajos muita maus na tropa são os primeiros a choramingar… sabia dona (cof, cof) que essa figura se veste com roupas de marca, tipo dolce gabbana, aparece em revistas da moda, é tudo dinheiro."
Foi mais ou menos isto que ele palrou, não sei bem o que respondi... provavelmente que não me importava e que o que me interessava era a música, como ainda é mas hoje que já se me acrescentaram uns anos teria vontade de usar os meus mais altos sapatos, prender o cabelo num alto rabo-de-cavalo e pela noite encontrar-lhe o aposento e fodê-lo sem deixar número de telefone.
Ah e para que conste, senhor doutor, ele nunca disse não querer ser popular ou comercial, quer dizer até aquele cd de música da Etiópia, que poderia ter passado no festival de Sines, estará numa qualquer estante de uma grande superfície, é isso que é ser comercial, é ter um preço.
Mas eu percebo senhor doutor, o seu rumo, ele é mainstream na na na na, sim bebé, sente-se feliz agora, acha que é mais do que eu agora?
Olhe que esses anos todos que disse, já passaram. Aliás, metade deles já tinham passado quando falou.
Claro que sim, claro que é comercial mas esse sempre foi o objectivo, chegar ao maior número de pessoas possível, se ele quisesse ser underground teria seguido um estilo pouco popular como o jazz ou o industrial experimental dos Einstürzende Neubauten, não o metal.
E aí provavelmente o senhor doutor já ouviria e até mostraria e partilharia com os seus colegas doutores.
Agora este gajo de espartilho e plataformas, que mudou a música, as mentalidades, que usou e abusou da comunicação social e a virou contra si própria, o homem que apresenta, na trilogia irrepreensível, a dicotomia americana, o fascismo do cristianismo, a podridão dos valores morais e o niilismo do século vinte e um, fogo não usa óculos e camisa axadrezada ah e gosta de se divertir, do prazer, não, claro que não pode ser legítimo.
Quanto à dolce gabbana, bem sabia que ele vestia Marc Jaccobs, talvez Viviene Westwood, Galliano… a dolce gabbana não é só a marca das calças de ganga deslavadas hediondas das dondocas é também a delícia do desfile do ano transacto de Outono/Inverno, eles apenas fazem em massa o que sabem que irá vender.
A procura manda, o dinheiro é o que todos buscamos, não?
Lição primordial de planeamento e controlo da produção.
O Alexander Mcqueen veio dos subúrbios, era um pós-punk antes de se tornar na marca de alta-costura que é hoje, aliás ele fez daquilo que era, um mundo acessível… é nas subculturas que os criadores vão buscar ideias e é ao amacia-las, tornando-as domesticadas que o público geral lhes acha piada e as quer porque mostra status, porque foi aprovado, porque toda a gente bonita -the beautiful people- usa, porque está in já se pode usar, sem correr o risco de se ser apontado, exactamente o oposto do que é ser livre e pensante.
Aliás não é o que todo o misantropo sonha?
Viver daquilo que gosta?
Ter uma vida desafogada e poder durar num castelo de pontas aguçadas e não ter de contactar com meros mortais?
E a cena das revistas da moda, é uma boa treta, só se for numa de escárnio, pois que eu saiba só apareceu num editorial da Vogue aquando do casamento mas, quer dizer, com uma mulher deslumbrante daquelas, uma mulher dona de si, livre e imersa numa criação da Vivienne, num castelo na Irlanda, com o Jodorowsky presente e o Gottfried a celebrar e pavões nas imediações… crime seria não podermos ver.
É a velha estória, de que já aqui falei:
o nariz vermelho do palhaço.
Tomemos atenção: porque usava camisola de manga curta lisa e calças de ganga só podia ser muito mais genuíno, inteligente, ilustrado e trve do que uma fulana de cabelo heterodoxamente comprido e eyeliner…
Já o disse e volto a dizer, não é o desejo de atenção, é o idealismo de que um dia viveremos num mundo onde cada um se vestirá como quiser, sem ninguém ligar um chavo.
E como disse a senhora de negro, vamos lá ser sérios, não podemos agradar a Gregos e Troianos, há que assumir aquilo que somos sempre.
Portanto ah e tal que curto muito disto mas não preciso de me vestir assim é treta.
A única absolvição é o trabalho e se não usares o encarneiramento do uniforme, a coisa boa do espalhanço que isto levou, e que espero que esteja a passar, é que está tudo mais perto e a escolha abunda, pode-se perfeitamente amenizar a coisa no horário nobre para depois a aflorar fora do período de esclavagismo.
Se se for coveiro ou empregado numa funerária nada disto se aplicará.
The horrible people, the horrible people
It's as anatomic as the size of your steeple
Capitalism has made it this way,
Old-fashioned fascism will take it away