Antes:
Quero escrever para me libertar deste sufoco, deste atilho do porvir e não consigo.
Depois:
Às vezes sonho que ando muito depressa, como se estivesse a correr mas não corro, é como se galgasse, como se cada passo fosse um salto, é muito difícil pôr isto por palavras... sonhei outra vez com essa parte anoitecida e, quando olhei para as minhas pernas percebi que eram de um animal, eram patas e eu estendi o torso como se fosse um cão ou um lobo e, com as pontas fazendo grandes extensões, percorri os carreiros escuros do lado como se fossem vales e vales e eu só tocasse nos cumes.
Persisto neste círculo de coisas a acontecerem, coisas de que não vale a pena falar, continuo a ter discussões e a ser agressiva e azeda ao mesmo tempo que me adocico e faço braços de sol para que todos se libertem de cruzes pesadas de madeira que por certo lhes acorcovam as costas.
Sou intervalada e volúvel em aflição, vivo em perigo de perda constante.
Às vezes odeio o Mundo e as pessoas que ele guarda na barriga, todas, essas, muitas... pessoas.
Outras vezes, tenho mágoa nos olhos e, senti-lo, só me faz querer chorar convulsivamente.
Com os dois olhos magoados e o tacto cheio de desgosto e caiado de pesar, penso nos dois pés juntos e, movendo o direito em sentido norteado, acerto-me e volto no carreiro, ponho a domino e junto as mãos ao peito fechando muito os olhos, até que tudo seja noite e giestas brancas à chuva.
Sou esta e mais nenhuma.