“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

08
Abr 13

 

Foda-se é tarde, estou com o rádio mal centrado na antena 3, isto deve ser a Nação Hip-hop do Abreu. Ora aí está um género que me é antagónico, por falar em rap, acabei de ver um filme sobre um tal de Notorious Big, só me lembro do nome do tipo por causa dele, ya da flor-selvagem.

Foi também por ele que ouvi, pela primeira vez, o nome Tupac, o gajo que fazia rimas e curtia Shakespeare. O senhor da lei que me veio oferecer um bouquet, há uns tempos, também era da mesma onda mas vivia do outro lado do rio e, ao contrário do cliente do Caronte, lecciona o catecismo e gosta do David Mourão-Ferreira.

A flor-selvagem, esse incógnito que tanto pó por aqui agitou...

Ah... foi preciso passarem anos para me dar conta do resto, só vejo o minucioso, lembras-te?

Ele permitiu que eu me desse conta de que foi sempre entre mim e mim, o meu carreiro esburacado, ajudou-me a ser ainda mais minha, lutei sempre comigo, era para mim que os degraus se estendiam, não para cima como ele queria, o nirvana, mas para baixo, o escondido.

Sempre foi desejo, entre nós, sempre foi tentação prolongada, camisas rasgadas e conversas sempre de madrugada: ele pedrado e eu bêbada.

O lírio, eu o lírio, o cabelo, as mamas pressionadas no corpo estendido e ya pára aí, cabeça minha de pensar.

Antes de todos estes detalhes se alinharem como um mapa astral, comecei a pensar que lhe tinha perdido o respeito, eram ideias de ah e tal um ilícito, lunático, narcisista, já fui nesse barco, já estou por cima mas o passado é o passado e a selva vai sempre albergar uma flor que cresceu no e do cimento.

Mas não foi por isto que tive de vir aqui, foi pelo Cavaleiro, quero oferecer-lhe raios de luz, quero fazer-lhe tranças, como as dos bravos da Escandinávia, foda-se eu faço-o sorrir, eu faço-o sorrir.

Porra, se não me apaixonar por este, ganho uma viagem na barca, só de ida e sentada numa almofada de veludo carmesim, topas?

Nunca liguei a estas merdas quadradas do amor e dos duos, tu sabes, eu escrevo de coisas pentagonais mas isto da vida humana, da verdade dos olhos, da humanidade, da relação entre almas fita-me as orelhas como a um felino.

Eu gosto dele.

Talvez ele te consiga curar, digo-me.

Sabes Supremo, isto é importante, ter o condão de fazer o dia abrilhantar-se só porque sim, mostrei-lhe que o Mundo não é assim tão miserável, que a vida não é totalmente uma merda dolorosa, fico contente.

Da minha negritude, adormeci todo o meu abismo, o paradoxo!

Não escondi Supremo, nada, mas quis que ele fosse feliz e foi, nessa coisa de felicidade compartilhada que me vi de sorrisos tolos quando se lhe abria o sol no rosto coroado pelos olhos azuis.

Não o permitiria a mais ninguém, sabes, de me ver assim... docinha e amenizada, também nunca quis ser o lobo, ou o predador, sou das que sabe baixinho, sem estrilho, das que quer um berço mas que não embala mas isso não invalida que faça a ventura de quem a merece, girl behind the wheel, driving anywhere, é... se calhar não há volta a dar, tenho de assumir que, se calhar, não vai ser assim, não nesta vida, não nesta volta.

publicado por Ligeia Noire às 02:20

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