Ante Scriptum: Oiço a Venus in our blood do Dark Light, não gostei daquele álbum a princípio, queria lentidão, peso, dor pesarosa, queria a atmosfera da For you, a lascívia da Our diabolical rapture, no entanto, fomos fazendo as pazes.
Não é de longe o meu preferido e, sendo melhor que o Screamworks e o Tears on Tape, partilha-lhes duma característica que tenho vindo a notar desde essa altura, as letras.
É curioso reparar que, à medida que a composição musical foi ficando mais up-tempo, sing-along e directa, as letras vão em sentido oposto, complexas, cheias de metáforas, simbologia religiosa, mitologia grega, referências a Poe e Baudelaire, fundura e requinte, se os álbuns inicias eram banquetes de um perfeito amor e morte enlaçados mas com letras relativamente simples e monocórdicas, estes últimos que, musicalmente não me agradam, liricamente são pérolas.
Como se fosse tudo uma piada, como se se estivesse a vê-los sentados em tronos barrocos de uma qualquer torre de pontas aguçadas, onde provam que a voz cavernosa não morreu, nem o baixo lascivo ou a guitarra arrastada, acompanhada de um piano funéreo mas não nos dão a bênção porque não querem, porque não e pronto e eu aceito, se o livre arbítrio foi o único causador, eu aceito.
Intro
Sonhei que o vestido era verde lima e amarelo limão que os sapatos eram sandálias que não serviam e que, por não querer ninguém a pôr as patas no meu cabelo, não tive tempo para o arranjar. A noiva ia descalça e de cabelo aguado, estava sol e o sono nunca mais terminava
Um pesadelo fora do meu comum.
Parvoíces de meia-noite, diga-se em abono da verdade.
O vestido será vermelho e será um fecho de ciclo.
O imbróglio de fitas e atilhos e feixes de vime onde me delibero.
Sexta-Feira:
Doía-me a cabeça mas tive de ir, só conhecia uma ou duas pessoas mas ela ia embora e eu não podia dizer que não. Quando lá chegámos, apercebemo-nos de que não era só um jantar mas uma festa de despedida, até lhes vendaram os olhos, andando com elas às voltas para que não descobrissem o sítio.
Deslocada, ya como sempre mas lá me fui acomodando.
O álcool foi fazendo as honras da casa e consegui viajar para Venus não a que decompõe mas a que está no sangue e, depois, havia aquele gajo, pois claro, já o tinha visto umas duas vezes e já ouvira falar dele trezentas.
Não era o ilustre desconhecido mas os danos e as raparigas que não deveriam ter ficado danosas com ele já compunham uma boa maquia.
Confesso que a culpa também foi minha, vem-me sempre à memória a sacada nocturna de um baile onde a dama de vestido longo abre o leque para esconder o sorriso e realçar os olhos, e fi-lo várias vezes, é o meu desporto favorito, se me desafiam e prevejo algum mérito no opositor/a, não falto ao duelo.
Era numa casa e havia o carrossel da doninha a tocar na aparelhagem:
o bilhete é só de ida -
não há regresso no carrossel
e a starlight dos ingleses, depois um house repetitivo, mais um Bob Marley a preceito e ainda um Michael Jackson caído não sei de onde, ele roubou-me do meio e dançámos, as minhas mãos no rosto dele, contornavam-lhe a boca, as mãos dele na minha cintura, subiam e subiam porque o vestido abria nas costas em lágrima e era preto, pois claro.
Os olhos, foram sempre os olhos que não deixavam o mesmo nível e, pareceram muitos minutos, quando possivelmente terão sido apenas uns segundos.
Havia gente que espreitava como as hungry black eels do Gundersen porque ele não é propriamente livre.
E eu, estou presa?
Não estou presa mas deveria estar porque já prendi o cavaleiro há muito, inconscientemente sim, mas prendi.
Eu gosto dele, eu gosto dele sim, mas sou um gato.
Fomos daquela casa de escadaria de pedra com música mais ou menos audível para uma discoteca mais ou menos odiosa, mais ou menos escorregadia.
Dançar liberta a alma, mesmo que a música não seja a ideal, se fecharmos os olhos podemos imaginar que passa a Head like a hole, ou a Bind, torture and kill e, dentro de mim passava.
Ia ajudando um rapaz doce, amigo da minha amiga a libertar a alma, dançando como uma menina de vestido cor-de-rosa e via-o lá longe por entre os outros e as outras, sentei-me para procurar, como de costume, o elástico do cabelo que me tinha caído, estavam todos bastante alterados, a minha rapariga de cabelos de trigo tinha o cabelo molhado, não me lembro porquê... pouco depois estava no carro com elas, ele conduzia, ia levar-nos a casa.
Durante a viagem ia sentindo a mão dele nos meus tornozelos, ali no meio delas, quando chegámos ele saiu do carro não sei para quê, já não me recordo sei que fui embora e eles foram embora.
Já no quarto ouvi o carro deles a regressar, tive de voltar a descer porque me esqueci do telemóvel, não sei como, a minha mala estava fechada…
Ele saiu do carro, outra vez, e, por entre frases atropeladas e rápidas e o corpo a pressionar o meu, beijou-me as bochechas, comigo fixando os olhos que lhe retribuíam a passividade, beijou-me o lábio superior, meio beijo, meia mordida.
Pareceram muitos minutos mas foram segundos, ou então era o álcool a nublar-me a rapidez do tempo.
Sabia que elas estavam lá dentro, por detrás daqueles vidros do carro e, enquanto o cabelo se desprendia pela milésima vez do único gancho que tinha, desenrolando-se pelas costas, dizia para irem com cuidado e virei costas, fazendo o resto do caminho a correr até chegar à porta de minha casa.
Todo o meu cabelo tresandava a tabaco, tirei a roupa, pus o aparelho no modo aleatório com a minha música, finalmente, e, pela altura em que ela disse que tinha chegado bem, já o sono me roubava altura às pálpebras.
Sábado:
O sol abriu a porta mas esteve fraquito a cama e eu e as missivas de um cavalheiro que me encontrou nem sei como, foram o meu entretimento. Que sentido de humor delicioso, corrosivo, sarcástico, no Domingo foi pela mesma linha, como é doce conversar a sério, com pontos e linhas entendidos na medida inteira.
Domingo:
E, esta madrugada, a flor-selvagem despertou também, levantei-me, encostei a cabeça à almofada.
Algo aqui é mais do que acaso.
É uma informação para ti rapariga do vale fundo, isto tudo mostra-te que estás a usar mais do que um espartilho, estás a enovelar-te toda.
Isto aqui veio dizer-te pelo caminho do capuchinho vermelho que, se calhar, não consegues fazer o que prometeste, se calhar gostar não chega, o Cavaleiro-das-Terras-Brancas vem aí e tu perdeste-te de sentido. Dizias ao das missivas, o do sentido de humor de banquete que, às vezes, precisas de te castigar, não sei o que ele terá entendido, mas os meus castigos são sempre duros e limpos.
Esta continuo a ser eu, livre e só eu, livre e selvagem, livre animal de montes e, só assim, deixo que me tenham.
Não precisas de espinhos e reconsiderações, digo-me, está tudo na mesma, o vestido vermelho com preciosidades negras.
Her heaven's a lie to those who threw away the key
Her god is alive and well in the heart of her beliefs
Will you condamn the river of her dreams,
Or understand the divine word she speaks?
Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood
Her saviour was never on a
cross pierced with nails
Thirty pieces of silver never retraced her mistake
She'll always be free from the arms of your sins
That made you weak as your world started crumbling
Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood
(She's in our blood)
Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood
In our blood
In our blood
In our blood
(She's in our blood)
Lyrics by H.I.M./Letra dos H.I.M.