The Persistence of Loss
A tristeza que sempre pensei me ter atingindo neste Mundo, vem de outro lado. São demasiadas provas para olhar e deixar passar. Não sei quando começou mas lembro-me da primeira vez que me senti como me sinto quase todos os dias da minha vida, tinha sete anos e nunca mais passou porque não há nada, exteriormente, que chegue ao primeiro anel do toro, ao cerne.
(...) but I never felt that one other person could enter that room and cure what was bothering me...or that any number of people could enter that room.
É por isso que, assim que descobri este desabafo, me apaixonei pelo Bukowski. Não era preciso explicar, falar... o que ele escreveu é tão importante para mim, como a música, e está sentado à direita do meu Mário de Sá-Carneiro.
E, assim, percebi que não valia a pena fugir porque já vim com isto de lá e não adianta esfregar com mais força durante o duche gelado de todos os dias, não vale a pena procurar, é preciso esperar.
Morrer, só aconteceria se significasse que, ao fazê-lo, toda a gente a quem a dor pudesse procurar para fazer ninho se fosse esquecer da minha existência.
Morreria se soubesse que nunca teria existido para aqueles que me tinham... que jamais provocaria tal sofrimento àquele montinho de pessoas e, isso, é uma prisão, não tenhas dúvidas de que é.
Jamais fui tão clara.
E, esta sensação de que algo de que sinto falta não pertence a este reduto, de que amo algo ou alguém que não cabe aqui ou que não conseguiu descer ou encontrar-me, de que conheci alguém sem conhecer neste agora, junta-se a esta melancolia de ser.
Esta devoção solitária crê que houve um septo que separou almas como o carnal separa ventrículos mas ficaram reminiscências.
É uma espécie de Beside you in time, sempre e ao longo do tempo porque o tempo faz o sempre, sem estar lá mas ao meu lado.
Se calhar não tem nada que ver com amor mas não sei descrever melhor, é algo natural, indissociável, estupefaciente, extremo.
Por tal, associo o não me apaixonar -aqui- ao já estar apaixonada -lá- ou então é algo incompreensível para este receptáculo e a forma como ele o reproduz na minha alma traduz-se nesta espécie de amor romântico devoto.
O problema das traduções...
Lembras-te da viagem do David do Space Odyssey por planos e planos de tempo, onde depois vem a encontrar-se com vários estágios de si?
Quem é, ou o que é aquilo pelo qual anseio?
O que é que preenche este buraco?
Esta cratera, quem é?
Sou eu?
És tu?
Parques industriais com passagens subterrâneas para linhas férreas transiberianas
Eu costumo ter pesadelos com comboios, viagens neles, a estrutura deles, as linhas, os túneis, enfim uma rebaldaria. O último foi com um transiberiano branco e um túnel de que já não me recordo mas que me fez sentir inquieta a sério. Aliás, esse não foi propriamente o último. Há umas semanas, sonhei com uma zona industrial rodeada de pinheiros mansos. Só havia um pavilhão, lembro-me de máquinas gigantes que me fizeram tremer e acordar transpirada como se estivéssemos em Agosto.
Esses bichos mecânicos, provavelmente, serviriam para construir coisas ainda maiores, como navios mas aquilo não era um estaleiro naval, aliás, nunca sonhei com rios ou mares ou oceanos, água não faz parte da minha vida onírica, excepto daquela vez e não estava num rio ou mar estava no telhado de uma fábrica que se ia inundando, era um lençol de água e penumbra que cobria tudo.
Mas, se não eram navios, seria para construir aviões, talvez... bem, aquilo assustou-me setenta vezes sete, os meus sonhos são sempre meio penumbrosos, é difícil, tudo é difícil de estremar.
E este foi assim também, era uma estação de caminhos-de-ferro antiga ou degradada, o comboio movia-se numa vala onde trabalhadores ainda estavam a construir a linha ou a arranjá-la ou a fazer furos, não sei, sei que só havia lama e terra salonada, parecia a terraplanagem alagada de uma casa.
Para variar, perdi o dito mas por portas travessas lá consegui entrar e, depois, a turbulência da viagem era tanta que acabei por sair.
Não interessam as pessoas que lá estavam comigo, onde foi ou o etc. e tal, importa que stes sonhos são sempre a partir das seis, sete da manhã, nunca antes.
Há uns meses que me sinto inquieta, ansiosa, angustiada, agitada... há uma palavra que me ocorre sempre em inglês para descrever isto e, eu não penso em inglês mas anda-me aqui às voltas, deve ter vindo de alguma canção: restless, isso desassossegada, obrigada Pessoa vestido de Bernardo.
É uma inquietude, um peito apertado, um olhar vago que espera por espessura, não aconteceu nada para me sentir assim e isso irrita-me desmedidamente e, lá voltaríamos ao inicio deste escrito, se eu não tivesse mais o que fazer e se já não soubesse que é ao eterno retorno a que vou dar sempre.