“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

06
Mai 13


Eu gosto muito do chamado Depressive Suicidal Black Metal e, uma das razões, prende-se com a forma como a voz é gemida cá p'ra fora, gosto do desamparo e da tortura que circulam por essas ambiências, ouça-se a versão dos Tristram do tema Ur Ångest Född originalmente dos Hypothermia.

Gosto de música extrema que passa a linha vermelha... Gnaw Their Tongues, Sunn O))).

E se falamos de vozes e os efeitos que nos causam, não há comparação possível com ela, a Dona Morte, a Senhora que quase me deixou surda, quando ainda não sabia que se devem levar os ouvidos protegidos para os concertos e, se se tratar de um concerto dela, é bom que se faça por isso. Chorei, sorri, arrepiei-me, senti as vísceras contraírem-se, tive medo, cheguei a tapar os ouvidos em alguns momentos por impossibilidade física, vi gente a abandonar a sala, vi estrangeiros, góticos, metaleiros, inconspícuos, senhores do topo da pirâmide... lembro-me de um homem alto sentado, uma ou duas filas atrás de mim, de cabelo castanho claro pelos ombros, casaca de cabedal e silêncio.

Lembro-me de tudo, do amor que senti pela rapariga que estava sentada ao meu lado, que me quis acompanhar ao concerto e que nem sequer conhecia ou sabia para o que ía.

A felicidade, quando a Diamanda se levantou do piano para agradecer a tamanha ovação e respondeu ao meu sorriso idiótico de tão rasgado, com outro sorriso.

Sou apaixonada por esta mulher, apaixonada a um nível de que me lembro ter sido descrito num dos episódios do Sete Palmos de Terra pela Claire.

Uma das minhas fantasias, é um dia poder ouvir o Plague Mass alto e bom som e sem auscultadores.

Perguntaram-me como podia gostar daquilo, que era sofrível, doloroso...

É instintivo, gosto porque gosto, depois, porque me sinto abarcada por ela, depois, porque me sinto assim e, depois, pela dor, pela revolta, pela negritude, pela raiva, pela loucura e até pela dormência que fica como no final de um orgasmo. A Diamanda leva-me desta merda de mundo para outro sem tempo ou pessoas e dá-me coisas, muitas coisas.

Houve uma manhã em que estava a ouvir o Plague Mass enquanto caminhava por uma rua, era de manhã e estava sol, demasiado sol, havia algum trânsito e eu sentia-me uma merda porque não tinha trabalho, dinheiro, os amigos não compreendiam ou tinham-me fodido e as contas deslocavam-se na minha direcção como comboios desgovernados (pouco mudou) não podia estar sozinha para enlouquecer um pouco e, controlar isto tudo, em silêncio e enjaulada, era demoníaco.

A música ia ecoando na cabeça, mexia-me no corpo todo e, eu ia saindo dali, do sol, das pessoas com olhos, da esterilidade da realidade, das demandas, das obrigações e quando dei por ela, já tinha saído do passeio, já tinha alguém a insultar-me e o sol a avermelhar-me o cabelo.

Há outro Mundo quando a oiço, há compreensão.

Não gosto de mais nenhuma mulher como gosto dela, não há ninguém como ela.

publicado por Ligeia Noire às 22:50
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