Eu gosto muito do chamado Depressive Suicidal Black Metal e, uma das razões, prende-se com a forma como a voz é gemida cá p'ra fora, gosto do desamparo e da tortura que circulam por essas ambiências, ouça-se a versão dos Tristram do tema Ur Ångest Född originalmente dos Hypothermia.
Gosto de música extrema que passa a linha vermelha... Gnaw Their Tongues, Sunn O))).
E se falamos de vozes e os efeitos que nos causam, não há comparação possível com ela, a Dona Morte, a Senhora que quase me deixou surda, quando ainda não sabia que se devem levar os ouvidos protegidos para os concertos e, se se tratar de um concerto dela, é bom que se faça por isso. Chorei, sorri, arrepiei-me, senti as vísceras contraírem-se, tive medo, cheguei a tapar os ouvidos em alguns momentos por impossibilidade física, vi gente a abandonar a sala, vi estrangeiros, góticos, metaleiros, inconspícuos, senhores do topo da pirâmide... lembro-me de um homem alto sentado, uma ou duas filas atrás de mim, de cabelo castanho claro pelos ombros, casaca de cabedal e silêncio.
Lembro-me de tudo, do amor que senti pela rapariga que estava sentada ao meu lado, que me quis acompanhar ao concerto e que nem sequer conhecia ou sabia para o que ía.
A felicidade, quando a Diamanda se levantou do piano para agradecer a tamanha ovação e respondeu ao meu sorriso idiótico de tão rasgado, com outro sorriso.
Sou apaixonada por esta mulher, apaixonada a um nível de que me lembro ter sido descrito num dos episódios do Sete Palmos de Terra pela Claire.
Uma das minhas fantasias, é um dia poder ouvir o Plague Mass alto e bom som e sem auscultadores.
Perguntaram-me como podia gostar daquilo, que era sofrível, doloroso...
É instintivo, gosto porque gosto, depois, porque me sinto abarcada por ela, depois, porque me sinto assim e, depois, pela dor, pela revolta, pela negritude, pela raiva, pela loucura e até pela dormência que fica como no final de um orgasmo. A Diamanda leva-me desta merda de mundo para outro sem tempo ou pessoas e dá-me coisas, muitas coisas.
Houve uma manhã em que estava a ouvir o Plague Mass enquanto caminhava por uma rua, era de manhã e estava sol, demasiado sol, havia algum trânsito e eu sentia-me uma merda porque não tinha trabalho, dinheiro, os amigos não compreendiam ou tinham-me fodido e as contas deslocavam-se na minha direcção como comboios desgovernados (pouco mudou) não podia estar sozinha para enlouquecer um pouco e, controlar isto tudo, em silêncio e enjaulada, era demoníaco.
A música ia ecoando na cabeça, mexia-me no corpo todo e, eu ia saindo dali, do sol, das pessoas com olhos, da esterilidade da realidade, das demandas, das obrigações e quando dei por ela, já tinha saído do passeio, já tinha alguém a insultar-me e o sol a avermelhar-me o cabelo.
Há outro Mundo quando a oiço, há compreensão.
Não gosto de mais nenhuma mulher como gosto dela, não há ninguém como ela.