“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

28
Jun 13

 

Às vezes, tenho pensamentos megalómanos, como o de ser capaz () e tudo, e esse tudo ser um todo audacioso mas provocante ao cubo.

Já tenho mais dois gatos que nasceram da gata e, provavelmente, do gato preto que anda pra aí a rondar de quando em vez.

São uma mistura de preto e cinzento. Dizemos sempre que já temos muitos, que é preciso isto e aquilo mas depois ah e tal mais dois, menos dois deixa-os lá ficar, é para juntar ao resto da comandita composta pelo Tripoli, pelo A4 e pelo 3D.

Ontem esteve um calor dos diabos, e como sou uma filha-da-puta bem mandada, a minha prima arrastou-me, depois do trabalho, para comprar um vestido pro casamento da não sei quantos.

O outro, se soubesse português, se soubesse disto aqui, haveria de dizer que sou uma mentirosa e que tinha razão em achar que daria uma exemplar submissa, já lhe atestei ser um gato, não há cá condescendências, com certeza que se não estivesse nesta espécie de exiguidade, lhe mostraria o alcance dessa expressão.

Mas, falava das trivialidades ao cubo que andei a gramar com o bando de aves migratórias, sem falar no voluntariado…

Confesso que continuo a surpreender-me com a capacidade espectacular de obediência estratégica, vassalagem e dissimulação que inculco nos meus olhinhos e sorrisinho treinados, cresci bem e saudável, dei uma bela e casadoira moça, tornei-me num ser humano exemplar, capaz de ir para a guerra e oferecer a outra face no mesmo dia, vá bate-me lá palmas Supremo e toma lá um ósculo.

Hoje estou irrequieta, não tive de levantar cedo mas acordei cedo na mesma, sonhei que a bolsa medieval que mandei fazer era cor-de-rosa e fiquei zangada, trivialidades não é?

Estou com o Devotional dos Depeche Mode lá ao fundo e não consigo escrever em condições, tenho de parar porque dou por mim a menear a cintura e a escancarar os olhos quando o impossível Dave dança, há lá homem mais poderoso do que o que sabe o que faz e quando faz?

É que, sabes como é... é mais raro que diamantes, encontrar um homem a sério que saiba dançar e não pareça amaricado ou circense…

Que seja gay, hétero, bi ou o caralho, não é disso que se trata, falo daquele que sabe glorificar a essência da masculinidade, assim como, há uns séculos, os cavaleiros o faziam de espada em riste e cabelos presos em fitas.

O que já não é tão difícil de encontrar no mulherio,uma moça que saiba dançar... mas poucas o fazem elevando aos píncaros a essência da feminilidade, fazem-no sim para ritual de acasalamento, esvaziado de sangue, suor e lágrimas, é corriqueiro e lembro-me sempre de putas de berma, de olhos vazios e que fazem borlas por um risco.

Lembro-me de um amigo me ter dito que ficou estacado, estacado do tipo voyeur, a contemplar, não sei se uma, se duas, asiáticas a prenderem o cabelo meticulosa e gracilmente, é disso que falo, da colisão dos extremos, o metal e a música clássica, a morte vestida de branco, deve ser por isso que a Dita me deslumbra, desde os seus filmes soft porno de espartilho, saltos que tocavam o céu, cabelo de azeviche a consumir e a ser consumida por outras mulheres mas sempre como se estivesse a fazer a bainha de um vestido, até ao seu mais recente espectáculo opium de franja imaculada.

Mas estávamos a falar do Dave Gahan, pois é, não há ninguém que dance como ele, principalmente na fase Songs of Faith and Devotion…

Ok, ok lá vem a minha preferência por cabelos compridos e barba, os acordes da Personal Jesus ecoam e todo ele se corresponde em meneios urgentes à música que vai soando, sensualidade que lhe nasce de todo o lado, é assombroso.

Quando era adolescente, não os conhecia muito bem, sabia quem eram claro: Can’t get Enough, Enjoy the Silence, ah e pois a Personal Jesus versão do meu Marilyn Manson.

Ainda hoje não sei de qual gosto mais, até porque aquele teledisco do Manson é qualquer coisa de perfeito, muito sim.

E, a bateria e tom blasé que o Manson confere aos vocais, tornam a canção deles mas sabes como é isto da rebeldia, as papilas gustativas vão procurando os mesmos sabores mas em embrulhos mais ruins de abrir e vão-se tomando caminhos pouco comuns para pessoas que se arrastam e comem pó por negros atalhos conhecidos, mais e mais e mais... há os que precisam de ser descobertos com outro nível de maturidade, há os de amor à primeira vista, há os one night stand, ou fodas de uma noite, os blind dates e os que se desenlaçam com graça, assim como a Dita faz ao espartilho em noite de inspiração dobrada.

 

publicado por Ligeia Noire às 15:45
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25
Jun 13


Surpreendo-me com a minha capacidade de suportar aquelas aves de rapina fastidiosas, chatas e triviais ao cubo.

Às vezes, dou por mim, parada no corredor a olhar para o parque de estacionamento e com vontade de rir tresloucadamente, não sei se de desgosto, se do grotesco que tudo me parece.

Estes dias têm sido cheios de empreitadas e decisões, canso-me e não tenho tempo para pensar, o que é bom.

Não me apetecia muito estar com ela mas confesso que preciso de me afastar disto, sinto-me branda e solta sempre que abalo.

Amo tanto isto, quanto odeio, soube-o enquanto olhava para a lua cheia de ontem e o frio me ameigava os braços.

E falta tão pouco tempo… «Não pensar em problemas e deixar o ribeiro correr, vai ser divertido, bom», respondeu-me o cavaleiro, ontem, quando lhe disse que estava ansiosa e nervosa, concordei… mas continuo na mesma, é difícil não pensar mas estou a tentar, tento muito.

No Domingo, estive a falar com o gajo nebuloso, confesso que me apraz imenso, o problema é que a minha margem de manobra é restrita e isso irrita-me, tenho de saber pesar o inexequível mesmo que seja cheio de nébulas, mesmo que assim seja.

E, por último, o meu elefante no salão de cristais… pois, às vezes, falo, outras vezes… deixo por aí, tracks will fade in the snow, certo?

O problema é que estamos no Verão, e não posso acabar estas linhas contornando esse bicho rotundo no meio de tudo, mas não, não vale a pena, não mexer, deixar apanhar pó que conserva.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:00
música: "Dreaming: The Romance" dos Anathema
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24
Jun 13
 

This is the film

close to the third act and the misery

this isn't rain

you rapist werewolves

this is god pissing down on you

Don't worry,

you won't die alone

I'll break off my own arms and

sharpen my bones and

stab you once for each time

I thought of you,

trying to take something

you'll never be good enough

to even look upon

 

it's better to push something when it's slipping

than to risk being dragged down

 

If you want to hit bottom

don't bother taking me with you

and I won't answer if you call

I'm two heartbeats ahead in hell

trying to break your fall

 

this isn't a mob,

I won't need to change

to change the names

everyone around you has murdered

someone's something sacred

there isn't one nail without dirt under it

there isn't any "white cotton panties"

that aren't soaked and stained red

 

it's better to push something when it's slipping

than to risk being dragged down

 

If you want to hit bottom

don't bother taking me with you

and I won't answer if you call

I'm two heartbeats ahead in hell

trying to break your fall

 

into the fire

 

Lyrics by M.M./Letra da autoria de M.M.


publicado por Ligeia Noire às 15:05

21
Jun 13


A drop of your blood tastes like wine today



publicado por Ligeia Noire às 13:40
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20
Jun 13

 

Como ando sempre em Marte, só dei conta deste disco ontem.

Passou-me ao lado todo o rebuliço e marketing feitos o ano passado à volta deste CD mas, se percebesse do aspecto técnico da música, teria todo o gosto em fazer uma resenha ao álbum e aos instrumentos usados, participações especiais e quejandos, ainda agora.

Deixa-me só frisar que o senhor Peter Bjärgö dos Arcana anda por lá.

Mais um sueco de uma banda sueca que admiro e gosto muito.

Cheguei a este Redefining Darkness através do, já nestas páginas citado, Lots of Girls are Gonna Get Hurt e, a minha primeira reacção a esse, Lots of Girls are Gonna Get Hurt, foi sorrir, sorrir como se o disco fosse uma private joke entre a banda e os ouvintes, depois… depois deixei-me arrebatar pelo quão bom e melódico ele realmente se revelou.

Agora percebo a razão pela qual montes de mocinhas se iriam sentir ofendidas, essas mocinhas são nada mais, nada menos do que os trves com quem o Niklas gosta de trollar e fez efeito, porque brotaram Marias queixosas por todo o lado.

É claro que também a mim me apanhou desprevenida e surpreendida mas pela audácia, pelo sentido de humor e pela qualidade.

E pronto, foi graças a esse disco de versões que os voltei a ouvir, porque desde os tempos do The Eerie Cold e do Halmstad que os deixei à deriva neste mar meu.

Não tive tempo para experimentar o que andou pelo meio e aterrei neste, que clama redefinir a escuridão.

Por entre este singular caudal musical, a banda que mais gostava e que mais andava comigo ao colo, eram os também suecos Lifelover.

(deve existir qualquer coisa na água da Suécia, deve haver mesmo.

Pop up, pop up e pop up …)

Não eram repetitivos, eram excitantes, misantropos e dotados de um humor negro de veludo.

Os trechos de canções infantis e tradicionais, as recitações ou partes faladas, a mistura de Black Metal, Post Punk ou Dark Ambient que caíam que nem uma luva no meu gosto musical, porque sim, tudo tem de ter um motivo, uma pungência, "não dás ponto sem nó" dizem-me muitas vezes, ah pois não dou. Como diria a Senhora de Negro se o cabelo estiver despenteado estará, com certeza, deliberadamente despenteado.

O paradoxo da rapariga que reverencia a Natureza e o natural mas que gosta do ritual de preparação… pois, não sei explicar, poderia dizer que é uma de mim e outra de mim: a de cima, mas responder-te-ei que não sei e é mesmo assim.

Foram estes gajos que, há uns tempos, me arrastaram para o DSBM mas, depois, como o B. morreu, foram-se embora e fiquei órfã, há outras bandas claro, há muitas mas a maior parte é demasiado linear, ou demasiado ortodoxa, ou simplesmente não me cai nas graças, olhe-se os portugueses Inverno Eterno, até trechos do Mário de Sá-Carneiro usam mas até agora não aconteceu nada entre mim e eles.

Os Lifelover foram amor à primeira vista, misturavam dor e melancolia e humor e podridão e elegância e sedução e desespero e melodia com uma mestria assinalável.

Os Shining… os Shining são feitos da mesma cepa e este novo álbum prova tudo isso com a maior das multitudes.

Geralmente, não sou apologista do argumento: «ah e tal, uma banda tem de evoluir» porque quando lês ou ouves isso, o cd é normalmente uma merda, ou completamente descaracterizado ou então venderam-se à puta mas também não gosto de estar a ouvir sempre a mesma coisa, como se a música não fosse arte e não precisasse de desafiar o receptor, como se o pessoal fosse papar tudo, sem ganhar nada com isso.

Eu quero desafio, alargar de cercanias, evolução mas evolução sentida e natural.

Por exemplo, os Anathema.

Os Anathema evoluíram naturalmente, os novos álbuns têm a mesma força que o Silent Enigma, por exemplo, com a ressalva de agora terem a esperança como base e não a agonia do passado, a melancolia continua lá mas ganhou esperança.

Pode-se preferir uma ou outra fase mas não se pode dizer que ficaram estacados ou presos à fórmula.

Já o último dos Katatonia… não é um mau álbum mas não é cativante, nem diferente, não deram o passo seguinte, soa-me ao mesmo mas com a desvantagem de já não existir ali uma Soil’s song ou a surpresa que ela causou.

Este Redefining Darkness já não tem medo de alagar tudo e de saltar para outro barco e sim eu sei que o Kvarforth é um Show-man mas isto de dar um passo em falso pode matar o artista, é por isso que ele deu os passos todos até saber que estava em terreno firme para começar a trilhar diferentes caminhos, não que ele já não tivesse usado vocais limpos ou outros instrumentos no passado mas, desta vez, dá a sensação de que há liberdade em tudo.

Há berros gorgolejantes, há súplicas ao Deus do plano inferior, há saxofone, há spoken word em espanhol:

 

Estás en la bañera, rodeada de espuma, y extiendes el brazo... y con una cuchilla, despacio... dibujas un surco en tu muñeca... una rosa de sangre perfecta por donde se sale tu vida, desorientada... abrazas la muerte como un consuelo, y finalmente... descansas.


Há guitarra acústica, que me faz lembrar viola ou até guitarra portuguesa, há piano desolado, há baixo delicioso (meio glam diria), há bateria que inunda, epicamente, a base sonora sob a qual a canção é construída.

Há muito imponência.

Por aqui e por ali até me fazem lembrar dos supramencionados Katatonia, aquela profusão de som coroada por uma voz limpa e lamentosa.

Há sussurros também… e há temas em inglês, continuam a ser seis como sempre, mas desta feita, três deles são em inglês, não que isso me desanime porque estão bem escritos e por vezes até jocosos:

 

Father... who art not in heaven
Hear my cries of true remorse
To let a mortal being ever coincide with thou
Must be punished by a fate worse than death 

 

Mas, sinceramente, preferia que fossem todos em sueco, mesmo que não perceba um caralho do que ele diz… porque escrever na língua materna dá sempre muito mais liberdade e intimidade ao autor. É preciso ter um domínio extenso em todos os campos de uma língua para que se consiga dizer aquilo que se quer, sem deixar de lado as ambiências e os segundos sentidos que toda a língua carrega consigo e, mesmo assim, o inglês como língua oculta e original nunca existiu e a nobreza que carregava, perdeu-a toda com a globalização.

O inglês é aquela roupa que vestimos quando estamos em casa, dá pro gasto… deve ser porque sempre gostei de línguas sonoramente mais ásperas, agrestes, não tenho culpa.

É-me nato.

Voltando ao assunto, gostei realmente deste álbum, como já se percebeu, está bem ao nível do Halmstad, se calhar ainda mais criativo até.

Não ouvi os dois anteriores mas devo dizer que para um gajo que criou a banda com doze anos, está a crescer bem, pelas incursões no álcool e na droga do costume, não esperava que brotasse assim, confesso.

Às vezes, dizem que x ou y compunha bem quando estava mamado, implicando que sem ter as veias cheias não vale nada.

Lérias.

Não é a droga ou o álcool que escrevem por ti, se assim fosse os toxicodependentes eram todos artistas, torturados, mas geniais, se assim fosse, todos os criadores que já alguma vez existiram, continuariam a escrever, a compor, a pintar só precisando de uns chutos, umas garrafas ou uns riscos para atingir a centelha… a diferença está na alma, na dor e na inocência que a premeia.

Não confundir inocência com ingenuidade, quando digo inocência refiro-me à vontade e à coragem de saltar sem saber se alguém está lá, rebeldia sim, espontaneidade também mas, para mim, tudo isso não passa de inocência, inocência que termina com a idade, com o emprego, o dinheiro, as pessoas, a responsabilidade e o tempo.

A dor até continua, a miséria de viver também mas a inocência, ai a inocência… essa vai-se e para sempre e, mais tarde ou mais cedo vamos conformar-nos, (com+formar, de forma, como aquelas de fazer os bolos) às exigências da vida.

 A dor ainda permite criar coisas negras e belas mas já não há inocência para saltar, não há romantismo que faça desembainhar a espada para defender essa criatura negra e bela.

Então, elas vão ficando emaranhadas, teias cobrem as partes mais agrestes e belas para que possam ser vendidas e apreciadas por todos.

É isso que salta cá para fora e nos saúda com coisas bonitas, não é o cavalo ou o pó estelar que escrevem ou compõem por eles, quanto muito ajudam a amenizar a dor ou a aparecer em palco e a comunicar com o público, é a profundidade do sentir, a dor de pensar.

Concordo com quem diz que a música deles é suficientemente boa para que não sejam precisos tantos teatrinhos à volta da mesma mas também não condeno toda a panóplia, umas vezes encenada e outras vezes não, que o Niklas dispõe nos concertos e fora deles.

Ei, eu sou apreciadora profunda do Manson e dos seus Spooky Kids como poderia não apreciar?

O que seria do Black Metal sem toda a majestade das vestes, dos espectáculos, o cerimonial dos concertos?

A controvérsia?

Tudo bem que gosto dos Deafheaven ou dos Altar of Plagues ou ainda de uns Wolves in the Throne Room mas tirarem-me cabelos longos, vestes elaboradas e toda a mística e periculosidade dos concertos e do que rodeia a banda por miúdos de hoodies, camisas aos quadrados, óculos e sapatilhas é deixar a cena nua, a música continua lá, eu sei, mas precisa de estar vestida para que os seus a encontrem acho que isso rouba todo o sortilégio e reverência de que o Black Metal sempre se envolveu.

Fields of the Nephilim sem indumentária à spaghetti western do Apocalipse?

Manson sem plataformas?

O Eldritch é um caso à parte, ele bem se tenta vestir de laranja e amarelo mas eu vejo-o sempre como se estivesse de negro.

Azar, uma vez escolhido…

Olhem-se os Rosa Crux: letras em latim, sinos, carrilhões, ok chega de trazer para aqui o gótico.

Claro que, às vezes, muitas vezes, anda tudo mais à volta do eyeliner do que de conseguir a melodia que faz os Senhores do Mundo dos mortos chorarem mas quando se conjugam os dois…

Terminando as conversas divagadas, o Redefining Darkness é um álbum do caralho e não consigo parar de o ouvir.

 

publicado por Ligeia Noire às 00:19
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15
Jun 13


Olá, olá, olá!

Mas que saudades tive tuas e que calor considerável esteve hoje.

Amanhã não tenho de me pôr a pé cedo e apeteceu-me escrever.

É bem verdade o que o Manson diz sobre gostar de pintar de madrugada por ser a melhor altura do dia, uma vez que, a maior parte das pessoas está a dormir e é como se a actividade cerebral fosse diferente e houvesse mais calmaria, liberdade e largueza… somos dois, concordo de fio a pavio.

Enquanto escrevo, reparo numa mania que volta e meia me acomete, morder o lábio inferior e, mais raramente, o interior da bochecha, a pele é arrancada e pequenos sangramentos ocorrem por vezes, acho curioso e não, não é lascívia, nem atiçamento erótico, é mesmo porque sim, porque me dá satisfação.

Acho interessante, interessante porque quando me perguntam se os meus desmaios aquando de praticas hospitalares ou de exames de rotina ou conversas mais gráficas se prendem com sangue, eu não posso, de todo, atestar a veracidade do diagnóstico.

Se fosse, como poderia ver um filme como o Dans ma peau, ou morder-me?

Se falasse com um qualquer profissional de psicologia ou psiquiatria, mesmo sem acabar um parágrafo, o tipo já teria na manga uma qualquer etiqueta para me colocar na testa.

Sim, esse Dans ma peau, que já vi há algum tempo, veio agora à tona. Nada que ver mas sempre achei o ser humano, o subconsciente, a alma, o cérebro um mundo maravilhoso, quão pouco o compreendemos, quão pouco lhe tocamos.

Toca a enfiar comprimidos garganta abaixo, ou masturbar o nosso ego e a carteira do senhor doutor com conversas de divã intermináveis...

Eu, que estou sempre tão faminta por respostas, aceito as coisas como são, as que me parecem próprias e naturais, digo.

E, olha que fulano tão bom para se deitar num divã e foder a cabeça a um qualquer narcísico doutor, o nosso caro Niklas!

Hoje, nem me perguntes como, dei por mim a ouvir uma canção chamada "For My Demons" que, pelos vistos, é dos Katatonia, eu gosto bastante dos Katatonia, como bem sabes mas não lhes conheço a discografia de cor e salteado e este tema nunca tinha ouvido, sequer.

Então, quando me apeteceu ouvir Shining e coloquei Shining e comecei a ouvir Shining, não reconheci e pensei, ah e tal isto não é Shining, os Suecos Shining, isto não é a voz do Kvarforth, enganei-me a carregar… ora bem, olhei bem para o nome e não é que era mesmo?

Os depressivos, suicidas, negros metaleiros Suecos a fazerem uma versão dos Katatonia, sem gritos infernais, gemidos do purgatório ou baterias desassossegadas…

Foda-se, nem sequer imaginava que o gajo sabia cantar ortodoxamente.

O pessoal não os curte, não o curte, ah e tal poser, ah e tal faz e acontece e é tudo show-off e má imagem para a cena, devo dizer que me estou bem fodendo para isso tudo, isto é bem bom, acho que me surpreendeu mais do que se fosse qualquer outra banda, não porque eu não acreditasse que ele fosse capaz de saltar para outro barco ou gozar com o povo e vender mais uns discos mas porque soa mesmo bem e bem feito.

Curti o gajo desde a altura em que numa entrevista disse que curtiu bué um concerto ou que tinha raízes na Checoslováquia porque cometo o mesmo deslize, somos os dois uns ignorantes mas sabemos rir.

Claro que ele sabe vender-se melhor do que eu… ou talvez faça o que lhe dá na real gana melhor do que eu...

Há que respeitar quem faz discos como o Halmstad, mesmo que anda p’ra aí a cortar-se, a fazer imoralidades numa banheira ou a molhar a caneta no sangue dos braços cortados para assinar o seu "When prozac no longer helps".

Ah! Claro, aquele infame concerto de 2007, com direito a espancamento, sangue, lâminas... nós sabemos como estes meandros do DSBM se pautam de coisas inauditas e por vezes burlescas, faz-me lembrar do Lord of Erewhon no concerto não sei de quem, quando a gaja da frente se tinha cortado e ele estava furioso porque ela lhe tinha manchado a camisa ou lhe ia manchar a camisa de sangue, ora pois.

Isto é tudo uma paródia e quando disso nos damos conta… é uma liberdade tão grande a que sentimos que as criancinhas esfomeadas de África deixam de importar.

 

Ela- Por que não tens namorado?

Moi-même- Por que hei-de ter eu um namorado quando posso ter vários.

 

Claro que o conceito de namorado para ela é uma coisa e para mim é outra, claro que se soubesse que tudo é uma paródia ter-se-ia rido comigo antes que eu saísse do carro.

 

publicado por Ligeia Noire às 02:04

12
Jun 13

 

Às vezes sinto que basta um botãozito para me derrubar do cavalo, é como se toda a minha vontade fosse feita de esforço, como se a determinação se pautasse de crer nela a muito custo.

E como tudo isso não é natural, basta uma aragem para que o mundo venha abaixo deste lado.

É a segunda vez que o gajo, amigo da amiga, me aparece em sonhos e ignoro a importância disso porque é impraticável.

Existe este perigo sempre presente em mim de começar a pender para o lado de lá, de que viver dentro da minha cabeça é mais apelativo do que fora e, convenhamos de que é, mas finjo que acredito no contrário para manter a sanidade dos que me rodeiam e para manter o dinheiro de que preciso para viver, de resto, poderia nunca mais voltar aos dias das nove às cinco, aos dramas económicos, aos bandos de aves migratórias, às fugas de conversas sérias, aos exames médicos, aos sins e nãos, com ocasionais pois e realmentes (respostas minhas a conversas que não oiço) porque estou tão farta mas tão, tão farta que nos dias em que acordo a pender mais para o lado de lá sou um perigo público e mais valia que me pagassem para ficar na cama.

Gosto de cinema asiático, não o procuro deliberadamente, nem tenho grande conhecimento de realizadores ou ondas de géneros mas de vez em quando lá me encontro com um, ontem foi o Kairo, o que mais gostei nele foi a sensação de que a tristeza daquela gente era tamanha que não me cabia na cabeça que pudessem não acabar mortos.

Almas assim só podem encontrar paz na morte, nada aqui lhes vale de sossego, é como se vivessem em velo constante.

Há uma onda crescente de suicídios na juventude japonesa, o Mário de Sá-Carneiro diz que os suicidas são heróis e que cobardia é desperdiçar a vida sobrevivendo.

Há dias em que gostaria de ter a liberdade de o fazer mas as razões pelas quais não me permito a essa liberdade, não me põem na gaveta dos cobardes, nem dos heróis mas dos honestos, dos tem de ser, e em último reduto, dos mártires -na acepção do meu filme preferido-.

Há na partida que se faz por desesperança uma tremenda melancolia, uma pena imensa, um podia ser que… deve ser isso que sentem os que se imiscuem na roleta russa, pode sempre ser que a sorte esteja do nosso lado ou então viemos com o destino escrito e pendurado ao pescoço e esta senda não se inverte por bafejos sortudos.

 

publicado por Ligeia Noire às 14:05
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07
Jun 13


Ante Scriptum: Tenho de me levantar demasiado cedo amanhã, tenho de aturar aquele bando de aves migratórias mas nada disso importa porque sei que isto vai ficar na minha cabeça o dia inteiro para me embalar enquanto o invólucro me esconde o miolo.

 

All is quiet, empty streets,
All is quiet, the city sleeps,
Close my eyes,
On my knees,
And time is passing me by;
Time is passing me by,

I can't move, can't turn back;
Out of reach, my heart is black.
My silent shout
Won't set me free
And time is passing me by.

Time is passing me by. Time is passing me by. Time is passing me by...

 

Letra da autoria dos Cult of Luna

 

Esta banda Sueca tem-me prostrada aos seus pés desde a primeira vez que as minhas orelhinhas os encontraram, os meus ouvidos digo.

Eu gosto tanto deles que tenho a certeza que, enquanto não os vir ao vivo, não morro.

Sim, é assim tão dramático.

Hoje, neste dia de nada, encontrei um brinde, um segredo, uma música, uma pérola que me levou de volta ao Inverno, aos pingentes de gelo.

Gosto tanto e estou tão feliz que disse cá para mim, há que eternizar isto, tenho de escrever isto porque, como sabes, aqui não há lugar para mais nada, não há vídeos nem imagens, só palavras, então há que escrever, traduzir o que vai aqui dentro.

Deambulava eu por esses ciberespaços fora, quando encontrei um vídeo de uma canção dos supracitados suecos, a Passing Through, do mais recente disco Vertikal.

Esta canção é a minha preferida de todo o álbum.

Não é cantada pelo Johannes mas pelo Fredrik, numa voz cândida e cristalina e doce que vai tecendo as palavras uma a uma, como se estivesse estado ali, naquele sítio nevado, durante a gravação do álbum.

Num dos concertos que deram em Helsínquia, a banda foi convidada a tocar, acusticamente, assim... uma espécie de curta-metragem.

Então, quatro deles foram para uma espécie de portuário ou estaleiro naval, nada que espante pessoal que gravou num antigo hospital psiquiátrico ou num celeiro no meio de uma floresta.

A dureza do ambiente que se revela bela num instante, faz-me lembrar daquele sonho com as máquinas gigantescas, a mesma sensação de que não há mais ninguém no universo, és tu e o Mundo.

Aparecem ali, assim, aparecem e tocam com neve a cair, sem parar, neve de um céu nocturno que brilha quando se cruza com um luzeiro e, sem caldeirão ou pentagramas, proporcionam ao Mundo feitiçaria da pesada.

Eu nem sei bem explicar mas é tudo o que sempre quis que uma das bandas que me está perto do coração fizesse, são todos os meus lugares comuns realizados de uma só vez:

Noite

Neve

Inverno

Vento

Música

Escandinávia

 

É tão bom mas tão, tão bom que já tenho vontade de viver mais um bocadinho.

 

We shot it in one take and my fingers were so cold that I couldn't feel them after only halfway through the song, I didn't get the feeling back for over 30 minutes after we got inside. All wind sounds you hear are real — no special sound effects to make it sound cool — the sound is straight from the mic. It was fucking freezing and fucking windy. The blizzard came from Sweden where it had closed cities and roads and it got worse later on during the night. The images actually do not give the cold justice. Johannes Persson

 

Depois do Klas ter saído, não achei que seria a mesma coisa, fiquei mesmo fodida e como o Anders também anda por aí ocupado, confesso não ter feito grandes esforços para os ir ver em Janeiro, pronto.

Para além da voz do Klas ser grandiosa e servir que nem uma luva ao tipo de som que fazem, a sua atitude carismática, elegante e portentosa em palco dava aquele toque especial às actuações mas estes gajos nunca andaram à volta do espalhado mas do conciso, do conceptual, da unidade, do todo.

E isso não os tombou, são oito gajos em palco porra!

Bem, agora sete, dois deles a tocar bateria e já foram um bando, parecem um exército, não há declínio, há movimento.

Este disco, de capa maravilhosa, voltou a acordar hoje, sinto-me em casa e bem preciso de me sentir em casa.

 

publicado por Ligeia Noire às 21:26
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03
Jun 13

 

Antes de mais deixa-me frisar o quão genial é o Lost, moving on...

Trabalhar é uma merda mas dá-nos uma certa paz de espírito, uma espécie de validação. Estou fodida, tenho os músculos em fermentação e para variar doem-me as costas mas sinto-me calma, o que é bom, poderia continuar nisto mas como já reparaste não gosto de falar desse tipo de coisas aqui.

Estas coisas mundanas, per si, emporcalham isto tudo, não quero falar daquelas pessoas, ou daquele trabalho, ou do estado da nação, ou et cetera e tal porque são coisas sujas, inúteis, quanto muito falo do que me despertam ou do que vão causando por aí.

Estou a ouvir uma canção chamada Limit to Your Love de um tal de James Blake que nunca vi mais gordo, acho que já tinha ouvido isto na rádio, sonicamente lembra-me uns Massive Attack, com as devidas ressalvas, e em termos vocais uma mistura da voz do Callier e do Antony Hegarty sim, Primavera Sound effect.

Andei a averiguar as actuações dos Dead Can Dance, do Nick Cave e as suas más rezes e dos My Bloody Valentine, sei que provavelmente gostaria de Swans mas nunca tive tempo de ouvir, parece ridículo, mas é verdade.

É preciso tempo e espaço e fiquei-me por este James Blake como pano de fundo desta missiva.

Há flores na mesa, vermelhas, estranhas, não lhes sei o nome.

Há flores na masseira, amarelas, um grande ramo, giestas.

O sol está espalhado lá fora, o vento faz-me frio.

Havia do que falar mas não dá ainda.

Sabes aquele elefante sentadinho no meio do recinto que se ignora?

Ora aí está, não me apetece reparar nele, até porque gosto de falar das coisas com distância, de anos, por vezes.

A minha prima falou ontem com entusiasmo da sua primeira sobrinha, frisando o quão bonita e blá, blá, blá era.

Acho que a minha expressão fechada e o ter-lhe dito que tenho três e só conheço e gosto de um, lhe fechou a matraca e me deixou em paz para continuar a cantarolar a droga perfeita.

Poderias dizer que foi por causa da recente notícia que lhes voltei mas, para além de nunca ter saído deles, esse desejo, curiosamente, tinha-me visitado há uns dois dias.

Eia! O sexto sentido feminino.

Eu sei que ele não gosta da canção, nem do teledisco mas foda-se ó Trent, não te entendo, há lá coisa mais perfeita?
Gosto de muitos telediscos, aliás entre os meus preferidos e mais criativos e engenhosos estão os dos N.I.N. e os dos Marilyn Manson.

Mais recentemente lembro-me daquele da Fjara dos Sólstafir que conheci depois do Vacuity dos Gojira mas este Perfect Drug fala-me ao negro.

Desde o casaco comprido, às asiáticas de cabelos de azeviche, aos três senhores de cartola, ao absinto, à criança, ao jardim à la The Shining, à casa, a cada movimento de cabelo, culminando, pois está claro, na letra.

Enquanto o cavaleiro conta os dias para Julho eu vou ficando com o pêlo eriçado.

E dizia a minha prima «ah estás apaixonada», eu apaixonada?

Já disse que se fosse o oposto eu não o faria por ninguém…

«Ah isso foi porque ainda não te apaixonaste», eh pá se ainda não me apaixonei e tenho estes anos, parece-me que isso não vai acontecer, nem eu preciso que aconteça, se o verbo apaixonar nasceu da palavra paixão, passio, então sim paixões ah e tal, conversa do outro dia, eu apaixono-me sim mas amor não.

Amor não seria assim mais parecido com o que se sente por pais, irmãos e amigos do peito?

Dar a vida, estar ali sem preocupações de postura?

Ora nunca senti nada de tão forte, nem nunca senti esse descomprometimento e já estou farta de falar disto mas a puta da conversa há-de dar sempre ali e, momentaneamente, vejo-me rodeada de amanteigados, outra vez.

Mas ela, chata como o caralho, volta a dizer «ah cala-te tu gostas dele», claro que gosto dele, gosto dele, muito talvez?

Mas não lhe chames amor, sabes em quantas cenas me meti desde que ele foi, claro que não foram namoros, talvez affairs mas nem sei se isso serve para explicar... eu não tenho namorados, mas isso não lhe disse porque ela não iria perceber.

Acho que se estivesse apaixonada, não teria essa despreocupação, pelo menos até acabar a paixão.

Aliás, até lhe poderia revelar que ela não está apaixonada pelo namorado mas poderia pensar que estava com ciúmes e no final de contas há-de acabar por perceber por si e continuar com ele porque ah e tal chama-lhe amor, eu chamo-lhe segurança, ou pior a sobranceria de ter um gajo ao lado, um anel de compromisso no dedo, uma saída a quatro num Domingo, um almoço em família onde se apresentam mutuamente, ah vou ali vomitar e já venho.

Ya dezoito anos que eu tenho.

Aliás, deveria utilizar-se a palavra enamoramento porque é de amor que falam estas almas sábias, certo?

Deveriam dizer: estou enamorada e não apaixonada e, então, eu já poderia confirmar que me apaixono... uma vez por mês pelo menos.

É como a palavra amante... ai os caminhos que as palavras tomam, dariam teses e teses se eu não achasse todo o trabalho trabalhoso.

A última vez que sofri por alguém, e se calhar a única, foi pela minha melhor amiga.

Melhor?

Sofrer mesmo, tipo ah e tal bebi para ai umas trezentas cervejas porque não havia dinheiro para vodca e chorei no ombro de outra menina, tudo isto porque ela pensou que eu estava apaixonada por ela e ficou magoada.

Ora, no meu entender de leiga sobre estas coisas do amor acho que, para que isso sucedesse, eu teria de sentir vontade de a foder, de beijá-la mas para além de nunca ter sentido atracção alguma, ela estava tão longe de fazer o meu género, como o James Blake de fazer parte da minha playlist.

Resumindo, até a mim ela me deixou confusa e a fazer exames de consciência, acho que foi por gostar tanto dela que a perdoei mais tarde mas, como em tudo o que se escangalha, a perfeição foi-se e usou-se cola.

 

publicado por Ligeia Noire às 13:40
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