Ante Scriptum: Tenho de me levantar demasiado cedo amanhã, tenho de aturar aquele bando de aves migratórias mas nada disso importa porque sei que isto vai ficar na minha cabeça o dia inteiro para me embalar enquanto o invólucro me esconde o miolo.
All is quiet, empty streets,
All is quiet, the city sleeps,
Close my eyes,
On my knees,
And time is passing me by;
Time is passing me by,
I can't move, can't turn back;
Out of reach, my heart is black.
My silent shout
Won't set me free
And time is passing me by.
Time is passing me by. Time is passing me by. Time is passing me by...
Letra da autoria dos Cult of Luna
Esta banda Sueca tem-me prostrada aos seus pés desde a primeira vez que as minhas orelhinhas os encontraram, os meus ouvidos digo.
Eu gosto tanto deles que tenho a certeza que, enquanto não os vir ao vivo, não morro.
Sim, é assim tão dramático.
Hoje, neste dia de nada, encontrei um brinde, um segredo, uma música, uma pérola que me levou de volta ao Inverno, aos pingentes de gelo.
Gosto tanto e estou tão feliz que disse cá para mim, há que eternizar isto, tenho de escrever isto porque, como sabes, aqui não há lugar para mais nada, não há vídeos nem imagens, só palavras, então há que escrever, traduzir o que vai aqui dentro.
Deambulava eu por esses ciberespaços fora, quando encontrei um vídeo de uma canção dos supracitados suecos, a Passing Through, do mais recente disco Vertikal.
Esta canção é a minha preferida de todo o álbum.
Não é cantada pelo Johannes mas pelo Fredrik, numa voz cândida e cristalina e doce que vai tecendo as palavras uma a uma, como se estivesse estado ali, naquele sítio nevado, durante a gravação do álbum.
Num dos concertos que deram em Helsínquia, a banda foi convidada a tocar, acusticamente, assim... uma espécie de curta-metragem.
Então, quatro deles foram para uma espécie de portuário ou estaleiro naval, nada que espante pessoal que gravou num antigo hospital psiquiátrico ou num celeiro no meio de uma floresta.
A dureza do ambiente que se revela bela num instante, faz-me lembrar daquele sonho com as máquinas gigantescas, a mesma sensação de que não há mais ninguém no universo, és tu e o Mundo.
Aparecem ali, assim, aparecem e tocam com neve a cair, sem parar, neve de um céu nocturno que brilha quando se cruza com um luzeiro e, sem caldeirão ou pentagramas, proporcionam ao Mundo feitiçaria da pesada.
Eu nem sei bem explicar mas é tudo o que sempre quis que uma das bandas que me está perto do coração fizesse, são todos os meus lugares comuns realizados de uma só vez:
Noite
Neve
Inverno
Vento
Música
Escandinávia
É tão bom mas tão, tão bom que já tenho vontade de viver mais um bocadinho.
We shot it in one take and my fingers were so cold that I couldn't feel them after only halfway through the song, I didn't get the feeling back for over 30 minutes after we got inside. All wind sounds you hear are real — no special sound effects to make it sound cool — the sound is straight from the mic. It was fucking freezing and fucking windy. The blizzard came from Sweden where it had closed cities and roads and it got worse later on during the night. The images actually do not give the cold justice. Johannes Persson
Depois do Klas ter saído, não achei que seria a mesma coisa, fiquei mesmo fodida e como o Anders também anda por aí ocupado, confesso não ter feito grandes esforços para os ir ver em Janeiro, pronto.
Para além da voz do Klas ser grandiosa e servir que nem uma luva ao tipo de som que fazem, a sua atitude carismática, elegante e portentosa em palco dava aquele toque especial às actuações mas estes gajos nunca andaram à volta do espalhado mas do conciso, do conceptual, da unidade, do todo.
E isso não os tombou, são oito gajos em palco porra!
Bem, agora sete, dois deles a tocar bateria e já foram um bando, parecem um exército, não há declínio, há movimento.
Este disco, de capa maravilhosa, voltou a acordar hoje, sinto-me em casa e bem preciso de me sentir em casa.