Olá, olá, olá!
Mas que saudades tive tuas e que calor considerável esteve hoje.
Amanhã não tenho de me pôr a pé cedo e apeteceu-me escrever.
É bem verdade o que o Manson diz sobre gostar de pintar de madrugada por ser a melhor altura do dia, uma vez que, a maior parte das pessoas está a dormir e é como se a actividade cerebral fosse diferente e houvesse mais calmaria, liberdade e largueza… somos dois, concordo de fio a pavio.
Enquanto escrevo, reparo numa mania que volta e meia me acomete, morder o lábio inferior e, mais raramente, o interior da bochecha, a pele é arrancada e pequenos sangramentos ocorrem por vezes, acho curioso e não, não é lascívia, nem atiçamento erótico, é mesmo porque sim, porque me dá satisfação.
Acho interessante, interessante porque quando me perguntam se os meus desmaios aquando de praticas hospitalares ou de exames de rotina ou conversas mais gráficas se prendem com sangue, eu não posso, de todo, atestar a veracidade do diagnóstico.
Se fosse, como poderia ver um filme como o Dans ma peau, ou morder-me?
Se falasse com um qualquer profissional de psicologia ou psiquiatria, mesmo sem acabar um parágrafo, o tipo já teria na manga uma qualquer etiqueta para me colocar na testa.
Sim, esse Dans ma peau, que já vi há algum tempo, veio agora à tona. Nada que ver mas sempre achei o ser humano, o subconsciente, a alma, o cérebro um mundo maravilhoso, quão pouco o compreendemos, quão pouco lhe tocamos.
Toca a enfiar comprimidos garganta abaixo, ou masturbar o nosso ego e a carteira do senhor doutor com conversas de divã intermináveis...
Eu, que estou sempre tão faminta por respostas, aceito as coisas como são, as que me parecem próprias e naturais, digo.
E, olha que fulano tão bom para se deitar num divã e foder a cabeça a um qualquer narcísico doutor, o nosso caro Niklas!
Hoje, nem me perguntes como, dei por mim a ouvir uma canção chamada "For My Demons" que, pelos vistos, é dos Katatonia, eu gosto bastante dos Katatonia, como bem sabes mas não lhes conheço a discografia de cor e salteado e este tema nunca tinha ouvido, sequer.
Então, quando me apeteceu ouvir Shining e coloquei Shining e comecei a ouvir Shining, não reconheci e pensei, ah e tal isto não é Shining, os Suecos Shining, isto não é a voz do Kvarforth, enganei-me a carregar… ora bem, olhei bem para o nome e não é que era mesmo?
Os depressivos, suicidas, negros metaleiros Suecos a fazerem uma versão dos Katatonia, sem gritos infernais, gemidos do purgatório ou baterias desassossegadas…
Foda-se, nem sequer imaginava que o gajo sabia cantar ortodoxamente.
O pessoal não os curte, não o curte, ah e tal poser, ah e tal faz e acontece e é tudo show-off e má imagem para a cena, devo dizer que me estou bem fodendo para isso tudo, isto é bem bom, acho que me surpreendeu mais do que se fosse qualquer outra banda, não porque eu não acreditasse que ele fosse capaz de saltar para outro barco ou gozar com o povo e vender mais uns discos mas porque soa mesmo bem e bem feito.
Curti o gajo desde a altura em que numa entrevista disse que curtiu bué um concerto ou que tinha raízes na Checoslováquia porque cometo o mesmo deslize, somos os dois uns ignorantes mas sabemos rir.
Claro que ele sabe vender-se melhor do que eu… ou talvez faça o que lhe dá na real gana melhor do que eu...
Há que respeitar quem faz discos como o Halmstad, mesmo que anda p’ra aí a cortar-se, a fazer imoralidades numa banheira ou a molhar a caneta no sangue dos braços cortados para assinar o seu "When prozac no longer helps".
Ah! Claro, aquele infame concerto de 2007, com direito a espancamento, sangue, lâminas... nós sabemos como estes meandros do DSBM se pautam de coisas inauditas e por vezes burlescas, faz-me lembrar do Lord of Erewhon no concerto não sei de quem, quando a gaja da frente se tinha cortado e ele estava furioso porque ela lhe tinha manchado a camisa ou lhe ia manchar a camisa de sangue, ora pois.
Isto é tudo uma paródia e quando disso nos damos conta… é uma liberdade tão grande a que sentimos que as criancinhas esfomeadas de África deixam de importar.
Ela- Por que não tens namorado?
Moi-même- Por que hei-de ter eu um namorado quando posso ter vários.
Claro que o conceito de namorado para ela é uma coisa e para mim é outra, claro que se soubesse que tudo é uma paródia ter-se-ia rido comigo antes que eu saísse do carro.